“Faz sentido para as duas empresas”, diz Mexia sobre OPA à EDP Renováveis
Venda da espanhola Naturgas e compra de 22,5% do capital da EDP Renováveis são “um bom negócio” para todos, diz o presidente da EDP. Operação deverá estar concluída no terceiro trimestre.
O presidente da EDP, António Mexia, descreveu esta terça-feira como “muito importantes para o futuro da empresa” os dois negócios anunciados na véspera ao mercado: a venda da distribuidora de gás natural espanhola Naturgas e o anúncio preliminar de uma oferta sobre 22,5% do capital da EDP Renováveis. Referindo-se a segunda-feira como “um dia ocupado”, já que horas antes a empresa também tinha anunciado a venda de uma fatia de 500 milhões de euros de défice tarifário, Mexia explicou numa conferência com analistas que a EDP vai trocar um negócio com “potencial de crescimento limitado” pela aposta num sector onde quer a “liderança global”. São operações que “fazem sentido” quer para os accionistas da EDP, quer para os accionistas da EDP Renováveis, frisou.
A venda da Naturgas por quase 2600 milhões de euros vai permitir à EDP reduzir a dívida líquida em cerca de 2300 milhões de euros em 2017 e, além disso, ajudá-la a financiar a oferta pública de aquisição (OPA) pela parte do capital que ainda não controla na EDP Renováveis. Com estas duas transacções que “acontecem no timing adequado” e deverão ficar fechadas mais ou menos na mesma altura (entre o final do segundo trimestre e o início do terceiro), a empresa mostra que age de forma “consistente com o que tem dito ao mercado”, focando-se na estratégia de crescimento e na redução do endividamento, sublinhou o presidente da eléctrica.
Salientando que a distribuição de gás na Península Ibérica, embora tenha cash-flows previsíveis, é um negócio maduro, que não permite nem as sinergias nem a diversificação geográfica que a EDP pretende, António Mexia sublinhou que ao integrar a EDP Renováveis (que previsivelmente será retirada de bolsa, caso a OPA garanta mais de 90% do capital e votos), a EDP estará a simplificar o seu perfil de capital e a garantir maior eficiência (menores custos) com a possibilidade de uma maior integração das actividades nos diversos países onde actua.
Esta empresa liderada por João Manso Neto, que é apresentada como “a grande plataforma de crescimento” da EDP e tem no mercado norte-americano o seu grande motor, representa cerca de um terço do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) do grupo.
"Penso que já ficou explicado porque é que é um bom negócio", respondeu Mexia aos analistas, sem se alargar em detalhes sobre o anúncio preliminar de OPA. Remetendo outros comentários para depois de a Comissão de Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) aprovar o prospecto final da operação, o presidente da EDP argumentou que a operação serve os interesses dos accionistas da EDP Renováveis, que tem sido penalizada nos últimos anos pela baixa liquidez das acções, tendo em conta a reduzida percentagem de capital disperso (o título entrou em bolsa em 2008, a valer oito euros e fechou na segunda-feira nos 6,26 euros, tendo perdido mais de 20%).
“É uma operação que faz sentido para as duas empresas”, salientou o gestor, lembrando que a contrapartida de 6,8 euros por título da EDP Renováveis (num total aproximado de 1334 milhões) será paga integralmente em dinheiro e “está em média com outras operações semelhantes recentes”.
Questionado pelos analistas pelo facto de estar a abdicar dos proveitos regulados (garantidos) da Naturgas (que registou um EBITDA de 165 milhões em 2016), Mexia frisou que esta reconfiguração de activos permite à empresa manter um perfil de baixo risco na geração de resultados operacionais. Mais de 90% dos resultados da empresa de energias limpas da EDP provêm de negócios regulados (tarifas garantidas) ou contratos de longo prazo (com receitas previsíveis no tempo). “Só fazemos negócios com estas duas características, hoje em dia”, disse aos analistas.
Quanto à venda da distribuidora portuguesa Portgas (EDP Gás), Mexia adiantou que a EDP "está na ronda final de negociações" com os potenciais compradores e que o negócio será anunciado em breve, pelo preço de pelo menos 500 milhões de euros que a empresa já tinha estimado para a venda deste activo.