PCP lança livro sobre saída do euro: “o caminho é longo” mas incontornável

Partido vai insistir com propostas no Parlamento para que o país estude a saída da moeda única, renegoceie a dívida e nacionalize a banca. Mas recusa semelhanças com Marine Le Pen.

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LUSA/ARMANDO BABANI

Sem querer misturas com outras mensagens de apelo à saída do euro que se fazem sentir em França, o PCP lança hoje um pequeno livro integrado na campanha que tem vindo a desenvolver desde o início do ano em que defende a necessidade de Portugal se preparar para, a prazo, deixar a moeda única. Euro, dívida, banca – Romper com os constrangimentos, desenvolver o país é o último título das edições Avante! que o secretário-geral do PCP apresenta no Porto e em que além de analisar os três grandes “constrangimentos da vida e desenvolvimento do país”, deixa as “alternativas e soluções”.

“A campanha Produção, Emprego, Soberania, Libertar Portugal da Submissão ao Euro quer mostrar que a saída do euro não é um fim em si mesma, mas é um caminho longo, é um instrumento para o desenvolvimento do país”, diz ao PÚBLICO Vasco Cardoso, membro da Comissão Política do Comité Central. E nesse caminho são essenciais três vertentes a concretizar em conjunto: a preparação do país para a saída do euro, a renegociação da dívida pública nos prazos, juros e montantes, e o controlo público da banca.

As duas primeiras são indissociáveis, e nesse processo de saída teriam que ser “acautelados os direitos, rendimentos e poupanças dos trabalhadores e reformados”, fazendo-se uma valorização dos salários e uma paridade de 1/1 da moeda (seguida depois de um processo de desvalorização progressiva de transição para o escudo). “Não ignoramos os custos da transição mas são incomparavelmente menores do que a manutenção no euro”, defende o dirigente comunista. À dívida é preciso fazer uma “auditoria aprofundada” e, se necessário, até fazer uma “suspensão fundamentada do seu pagamento”, defende-se no livro.

Mas antes de apresentar soluções, o documento comunista faz uma análise das causas e da situação actual nacional e internacional, onde não falta o dedo apontado ao actual Governo, que apoia no Parlamento. Apesar dos esforços, mantêm-se as “fragilidades estruturais” na economia, cuja recuperação é “frouxa e muito insuficiente”, o endividamento está em “níveis inauditos” e o país continua “empobrecido e injusto”. “O Governo do PS vive numa contradição insanável” de querer aumentar o nível de vida dos portugueses mas continuar a “acatar os condicionamentos” de Bruxelas. “Os limites da governação são cada vez mais visíveis”, avisa o PCP.

Questionado sobre os apoios internacionais que o PCP possa ter para este objectivo da saída do euro, Vasco Cardoso fala dos contactos dos seus eurodeputados no GUE/NGL, o grupo em que se inserem no Parlamento Europeu, com outras forças de esquerda europeias, comunistas e progressistas. Mas recusa qualquer aproximação a Marine Le Pen, que recentemente defendeu a saída da França da zona euro. “Nesse caso há um aproveitamento das forças da extrema-direita dos problemas que os povos sentem com o euro para tirar dividendos políticos. Porque, no essencial, a proposta política é de defesa dos monopólios e a hegemonia das grandes potências capitalistas”, critica Vasco Cardoso. “[Marine Le Pen] não é uma companhia que queiramos [neste assunto].”

Até ler o que o PCP defende sobre a saída do euro não é assim tão barato: o pequeno livro de 89 páginas, sem autor mas escrito “colectivamente” na Soeiro Pereira Gomes, custa 8,5 euros.

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