Casa Branca pediu ao FBI para descredibilizar notícias sobre comunicações com a Rússia
O FBI rejeitou o pedido da Casa Branca que pode violar directrizes aprovadas pelo Departamento de Justiça em 2007 e 2009.
O FBI rejeitou recentemente um pedido da Casa Branca para desacreditar os relatos publicados na comunicação social americana sobre as comunicações entre membros da equipa de Donald Trump e funcionários russos durante a campanha eleitoral do ano passado, e que valeram já a demissão de Michael Flynn do cargo de conselheiro para a Segurança Nacional,
A notícia é da CNN, que cita várias fontes oficiais com conhecimento da matéria, e explica que a Casa Branca procurou apoio no FBI e outras agências que estão, actualmente, a investigar as comunicações com a Rússia. A Administração queria que fosse dito que as notícias estavam erradas e que não existiram quaisquer contactos. As notícias das conversações foram divulgadas pelo New York Times e pela CNN no dia 14 de Fevereiro.
Tudo terá começado à margem de um encontro, no dia seguinte à publicação das histórias, entre o director-adjunto do FBI, Andrew McCabe, e o chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus. Uma fonte oficial da Casa Branca ouvida pela CNN contraria um pouco esta versão revelando que a interacção começou antes: foi McCabe quem primeiro ligou a Priebus nessa manhã para lhe dizer que a notícia trazida a público pelo New York Times era bastante exagerada em relação àquilo que o FBI tinha em mãos sobre o caso. Depois, coube a Priebus contactar o director-adjunto e James Comey, director do FBI, para pedir que, pelo menos, falassem com os jornalistas para contestar a história.
Uma fonte de segurança explicou à CNN que McCabe não falou sobre o caso, sem revelar, no entanto, o que este terá dito especificamente ao chefe de gabinete da Casa Branca. Por sua vez, Comey rejeitou interferir na questão, argumentando que as comunicações entre membros da equipa de Trump e a Rússia são objecto de investigação.
Como explica o canal norte-americano, as conversações directas entre a Casa Branca e o FBI tornaram-se raras por causa de restrições a esse tipo de contactos criadas há dez anos, acrescentando que um pedido deste género da Casa Branca pode ser uma violação dos procedimentos que limitam as conversas com a agência relativamente a matérias sob investigação.
Estes procedimentos foram introduzidos pelo Departamento de Justiça norte-americano em 2007 e 2009. “As comunicações iniciais entre o Departamento [de Justiça] e a Casa Branca relativamente a investigações criminais pendentes ou previstas envolverão apenas o procurador-geral ou o procurador-geral adjunto, pelo Departamento". Do lado da Casa Branca apenas podem intervir o conselho do Presidente, o Presidente ou o vice-presidente”, diz o memorando de 2009, citado pela CNN. (O conselho do Presidente é o staff nomeado pelo líder americano para funções de aconselhamento sobre aspectos jurídicos).
Além disso, os documentos prevêem que estas comunicações ocorram apenas em relação a matérias consideradas importantes para os deveres do Presidente e quando sejam consideradas apropriadas de uma perspectiva legal.
A CNN refere ainda que o porta-voz do Departamento de Justiça revelou que o actual procurador-geral, Jeff Sessions, está a rever esta documentação. No entanto, garante que o Departamento está a seguir “as directrizes nas suas comunicações com a Casa Branca".