Protesto do cinema português: director de Cannes solidário, ministro defende "passo à frente"

Thierry Frémaux juntou-se à lista de mais de 500 subscritores. Castro Mendes sublinha que a alteração à lei, ainda por aprovar, "dá muito mais peso aos criadores, aos produtores".

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Rui Gaudêncio

O director do festival de cinema de Cannes, Thierry Frémaux, solidarizou-se com o protesto de um grupo de produtores e realizadores portugueses contra a nova alteração da lei do cinema, foi anunciado esta segunda-feira.

Em nome da plataforma que junta cerca de uma dezena de estruturas portuguesas, o festival DocLisboa anunciou que Thierry Frémaux se juntou à lista de signatários da Carta de Protesto e Solidariedade, divulgada no domingo no âmbito do Festival de Berlim. Thierrry Frémaux junta-se assim a mais de 500 personalidades portuguesas e estrangeiras ligadas ao cinema que subscreveram uma carta aberta de protesto ao Governo português contra a nova regulamentação da Lei do Cinema e Audiovisual e que foi publicada pelo jornal Libération, em França, e pelo PÚBLICO, em Portugal.

O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, afirmou esta segunda-feira à agência Lusa que a alteração da lei, que está ainda em processo legislativo, reduz "o peso dos financiadores na constituição dos júris" e estes continuam a ser júris do Instituto do Cinema e Audiovisual, que gere toda a atribuição de apoios.

A proposta de alteração da regulamentação é "um passo à frente em relação à lei anterior, na medida em que dá muito mais peso aos criadores, aos produtores, dos júris, embora não exclua deles os financiadores", disse. "Aquilo em que estamos em divergência com esses produtores e realizadores é apenas que nós consideramos que os financiadores não devem ser completamente excluídos e postos de parte do processo de decisão", sublinhou o ministro da Cultura.

Em causa está a composição dos júris dos concursos de apoio, a actuação do ICA e da Secção Especializada de Cinema e Audiovisual (SECA) na escolha dos jurados. Entre os críticos estão a Associação Portuguesa de Realizadores, o sindicato Cena, festivais de cinema como o Curtas de Vila do Conde e o Doclisboa e cineastas e produtores como Miguel Gomes, Pedro Borges, João Canijo, Luís Urbano, Salomé Lamas, João Canijo, Leonor Teles e Teresa Villaverde. Entre os subscritores estrangeiros estão, por exemplo os realizadores Pedro Almodóvar, Mia Hansen-Love, Christophe Honoré, Todd Solondz, Andrei Ujic, Gianfranco Rossi, Kléber Mendonça Filho e Phillipe Garrel.

No entanto, este não é um protesto consensual e há outros produtores e realizadores portugueses que não assinam esta carta, nomeadamente a Associação de Produtores de Cinema e Audiovisual, a Associação de Produtores Independentes de Televisão, a Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisual e a Associação Portuguesa dos Produtores de Animação.