Autárquicas já abriram 24 guerras nos partidos
Incertezas, regressos e independentes baralham mapa autárquico do PS e do PSD. Eurodeputado Fernando Ruas pode estar a caminho de Viseu. Já o PS tem vários casos de divergências insanáveis, sobretudo no distrito de Braga.
O país autárquico prepara-se para as eleições locais, mas há ainda há muitos imbróglios por resolver e muitas incógnitas por desvendar. Os dois principais partidos com implantação autárquica - PS e PSD -, que quase se atropelam nos convites, tentam vencer resistências internas, que vão emergindo um pouco por todo o lado.
Sem candidato ainda em Lisboa, o PSD está mergulhado numa convulsão interna devido às escolhas em distritos como Viseu, Pombal e Leiria. Mas o mal-estar nos sociais-democratas estende-se a concelhos como Covilhã, Esposende e Coimbra. Os socialistas também enfrentam divergências em autarquias como Benavente, Vila do Bispo, Matosinhos, Góis, mas é no distrito de Braga que a situação é mais problemática.
Em relação ao PSD, Viseu é o caso mais mediático, com o eurodeputado Fernando Ruas a deixar no ar a ideia de que não exclui voltar a candidatar-se à câmara que liderou durante 24 anos. "Não tenho de decidir agora se sou candidato ou não. Não perdi nenhuma das minhas faculdades, nem nenhum dos meus direitos”, declarou ontem ao PÚBLICO, esclarecendo que, se alguma vez lhe "passar pela ideia" candidatar-se, nunca o fará "como independente, mas sim pelo PSD", partido no qual tem responsabilidades.
As declarações do presidente da Mesa do Congresso do PSD acontecem numa altura em que pode haver alguns percalços no caminho delineado pelo partido, a nível local, e que implica reconduzir Almeida Henriques, o actual presidente.
Nos concelhos de Esposende, Pombal e Covilhã os antigos presidentes, João Cepa, Narciso Mota e Carlos Pinto, respectivamente, todos do PSD, preparam-se para avançar como independentes.
Já em Leiria, o líder social-democrata empurrou Feliciano Barreiras Duarte, que foi o seu chefe de gabinete, para avançar, mas a concelhia optou pelo antigo autarca das Caldas da Rainha, Fernando Costa.
Quanto a Coimbra, os sociais-democratas ainda não têm ninguém para candidatar à terceira autarquia do país. O PSD queria Álvaro Amaro, mas o presidente da Associação dos Autarcas Sociais-Democratas vai recandidatar-se à presidência da Câmara da Guarda.
Por escolher está também o candidato social-democrata a Gaia. Marco António Costa foi sondado para avançar, mas não aceitou e a concelhia ainda não sinalizou ninguém para disputar a câmara que foi um feudo do PSD durante 16 anos.
Depois de muita hesitação, o PSD vai apoiar o independente Marco Almeida, em Sintra, e em Oeiras vai apostar em Paulo Vistas, que se candidata pela Associação Oeiras Mais à Frente. Isaltino decide em Fevereiro se avança, o que pode roubar espaço à direita.
Quem conta com o apoio do partido de Passos é Litério Marques, que vai a votos em Anadia. Há quatro anos, impedido de se recandidatar, o social-democrata rompeu com o PSD por discordar do candidato escolhido pelo partido e fundou o Movimento Independente Anadia Primeiro. Litério Marques foi expulso do PSD, mas em Dezembro passado voltou a ser militante e é agora aclamado como candidato do partido à câmara a que presidiu durante 18 anos.
A nove meses das autárquicas, o PSD ainda não tem candidato à maior e mais importante autarquia do país, Lisboa, que está nas mãos do PS. Assunção Cristas avançou sem pedir licença a Passos e os sociais-democratas multiplicam-se em contactos. Ao todo, já foram sondadas cinco pessoas, nas contas do Expresso, mas ninguém se mostrou disponível. António Saraiva, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), terá sido um dos últimos a ser abordado por Passos, mas acabou por recusar.
Os independentes Pedro Reis e José Eduardo Moniz também foram abordados, mas colocaram-se de fora e Teresa Morais, vice-presidente do PSD, e José Eduardo Martins, coordenador autárquico de Lisboa, também se mostraram indisponíveis.
"Hecatombe" em Braga?
O processo no Porto já está fechado, mas o PSD sofreu para encontrar um nome para defrontar o independente Rui Moreira. O economista e professor universitário Álvaro Almeida é o independente que assumirá a luta em nome dos sociais-democratas contra um Rui Moreira que, desta vez, parte com apoio de dois partidos: CDS e PS. Os socialistas não apresentam candidato ao Porto, mas alguns sectores do partido não apreciaram a decisão da distrital de renunciar a uma candidatura própria à segunda cidade do país.
A Norte, a atenção dos socialistas vira-se para Braga, um distrito que já foi um bastião do partido, mas que agora está fracturado. Não é apenas em Barcelos ou Fafe, cujos processos foram avocados pela Comissão Politica Nacional (CPN), que há problemas. Os conflitos alastram-se a outros concelhos, com imbróglios difíceis de sanar.
O deputado Domingos Pereira, que na semana passada se demitiu de todos os cargos que exercia no partido em ruptura com a direcção nacional do PS, por esta ter avocado o processo autárquico em Barcelos, já admitiu candidatar-se como independente contra o actual presidente, Miguel Costa Gomes.
A concelhia do PS de Fafe, liderada por José Ribeiro, não perdoa à CPN ter avocado o processo e aprovado o nome do actual presidente de câmara, Raul Cunha, para liderar a lista do partido. A concelhia promete impugnar a decisão.
Devido a divergências insanáveis no PS de Vizela, Vitor Hugo Salgado, ex-vice-presidente da câmara, candidata-se como independente contra o autarca Dinis Costa e conta com o apoio das principais figuras socialistas no concelho.
Os processos autárquicos em Amares, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto e Vila Verde, no distrito de Braga, não são pacíficos e há já quem antecipe uma “hecatombe” na noite das eleições.
A presidência da Câmara de Góis vai ser disputada pela actual presidente, Maria de Lurdes Castanheira (PS), mas o vereador, José Rodrigues, que foi vice-presidente da autarquia, deverá apresentar uma lista independente.
Também Matosinhos promete muita tensão até às eleições. O PS local escolheu o líder da concelhia, Ernesto Páscoa, para candidatar à câmara, mas a distrital e a nacional impuseram Luísa Salgueiro. O regresso do agora independente Narciso Miranda pode colocar pedras no caminho da deputada socialista, que vai ter de contentar, nas listas para os órgãos autárquicos, socialistas e os independentes do movimento que em 2013 reelegeu Guilherme Pinto (que morreu no passado dia 8).
O independente Francisco Vieira de Carvalho (filho de um ex-autarca do PSD) é o candidato do PS à Maia, mas o socialista José Manuel Correia quer anular a decisão.
Mais a sul, em Vila do Bispo (Algarve), o PS foi confrontado com a demissão em bloco da concelhia e a desfiliação de “muitos militantes” em protesto pela direcção nacional ter indicado o actual presidente da câmara, Adelino Soares, como candidato nas eleições autárquicas deste ano. As relações entre o presidente da câmara e a concelhia há muito que estavam extremadas e azedaram ainda mais quando o partido retirou a confiança política a Adelino Soares.
O PS tem uma outra frente aberta por causa das autárquicas. A concelhia de Benavente (Santarém) não aceita que a escolha do candidato à câmara seja feita por uma comissão administrativa criada pela concelhia local e propõe eleições primárias.
O problema na Câmara de Torres Vedras foge ao figurino das tricas políticas. O autarca do PS, Carlos Bernardes, é acusado de plágio. A Universidade de Lisboa abriu uma investigação ao conteúdo da tese de doutoramento do autarca do PS, que já se mostrou disponível para ser candidato.