Academia acha "extremamente perturbador" que realizador iraniano não possa ir aos Óscares

Obra de Asghar Farhadi está nomeada para Melhor Filme Estrangeiro e ordem de Trump impede-o de assistir à cerimónia.

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O realizador quando recebeu o Óscar em 2012 Reuters

A Academia de Hollywood revelou o seu apoio ao realizador iraniano Asghar Farhadi, que pode ser impedido de viajar até aos Estados Unidos para a cerimónia dos Óscares, denunciando a ordem do Presidente Donald Trump para suspender a autorização de entrada de refugiados sírios e de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, entre os quais está o Irão.

O filme de Asghar Farhadi, O Vendedor, está nomeado na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O realizador iraniano, que é visto no círculo internacional como um “autor", já ganhou um Óscar em 2012 e era esperado na noite dos Óscares marcada para 26 de Fevereiro.

“A Academia celebra feitos na arte de fazer filmes, que procura transcender fronteiras e falar para audiências em todo o mundo, sem olhar a diferenças nacionais, étnicas ou religiosas”, disse um porta-voz da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, numa declaração citada pelos media norte-americanos, um dia depois da ordem presidencial ter sido anunciada.

“Como apoiantes dos realizadores – e dos direitos humanos de todo a gente – em todo o mundo, achamos extremamente perturbador que Asghar Farhadi, o realizador do Irão vencedor de um Óscar para Melhor Filme, Uma Separação, juntamente com a equipa do filme nomeado este ano, O Vendedor, possam ser impedidos de entrar no país por causa do seu país de origem ou da religião”, acrescentou a Academia na sua declaração.

Esta semana, a actriz iraniana Taraneh Alidoosti, uma das protagonistas de O Vendedor, já tinha anunciado sua ausência na cerimónia devido à ordem de Trump. “A restrição de vistos de Trump aos iranianos é racista. Quer inclua ou não um evento cultural, não estarei presente nos prémios da Academia em protesto”, disse na altura a actriz através do Twitter.

Quando aceitou o Óscar em 2012, Farhadi dedicou o prémio ao povo iraniano, como lembra o Los Angeles Times, chamando-lhe um dos discursos mais poderosos da noite. “Nesta altura, muitos iranianos em todo o mundo estão a ver-nos e imagino que estejam felizes. Estão felizes não só porque se trata de um prémio, filme ou realizador importantes, mas porque num tempo em que os políticos falam entre eles de guerra, intimidação ou agressão, o nome do seu país, o Irão, é falado aqui através da sua gloriosa cultura, uma rica e antiga cultura que tem sido escondida debaixo do pó pesado das políticas. Ofereço orgulhosamente o prémio às pessoas do meu país, um povo que respeita todas as culturas e civilizações e despreza a hostilidade e o ressentimento.”

O filme este ano candidato aos Óscares conta a história de um casal de actores à beira da estreia da peça A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, altura em que são obrigados a mudar para uma casa nova cheia de fantasmas à volta de uma mulher com uma vida bastante livre.

"Confirmado", escreveu no Twitter o presidente do National Iranian-American Council. "Asghar Farhadi não vai ser autorizado a entrar no Estados Unidos para assistir aos Óscares." Ao Los Angeles Times, Trita Parsi esclareceu que o realizador tem apenas um passaporte iraniano: "Acho pouco provável que consigam [fazer uma excepção para Farhadi] – e isto é assumir que a administração Trump quer fazê-lo."

Na cerimónia dos prémios da Guilda dos Produtores, que teve lugar no sábado à noite em Los Angeles, várias personalidades condenaram a ordem de Trump. O músico e compositor John Legend, que se estreia no cinema em La La Land, o filme favorito na corrida aos Óscares, lembrou que a cidade é a casa de muitos emigrantes, de tanta gente criativa: “A nossa América é grande, é livre, e é aberta aos sonhadores de todas as raças, todos os países, todas as religiões. A nossa visão da América é directamente antitética à do Presidente Trump. Quero especificamente rejeitar esta noite a sua visão e afirmar que a América tem de ser melhor do que isso.”

A cerimónia dos Guilda dos Produtores não deixou de distinguir Mark Burnett como Melhor Produtor de um Concurso de Televisão por Celebrity Apprentice (transmitido em Portugal na SIC Radical), o reality show de Donald Trump.

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