Schulz vai defrontar Merkel nas eleições alemãs

SPD vai anunciar a candidatura do ex-presidente do Parlameno Europeu no domingo.

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Sigmar Gabriel integra o Governo alemão liderado por Angela Merkel Reuters/FABRIZIO BENSCH

O líder dos sociais-democratas alemães, Sigmar Gabriel, disse que não vai ser candidato a chanceler nas eleições de 24 de Setembro, abrindo assim caminho à mais do que provável candidatura do ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. A imprensa alemã não tinha dúvidas, mesmo antes de Schulz fazer qualquer declaração. “Surpresa: Schulz contra Merkel” titulava, por exemplo, a revista Der Spiegel.

É a última ronda de um pinguepongue que tem vindo a decorrer entre os dois - ora se pensava que seria Schulz o candidato, ora Gabriel. 

Como líder do SPD, é Gabriel quem tem a prerrogativa de decidir. Em Dezembro, a revista Der Spiegel citava próximos de Schulz, de 61 anos, dizendo que este já esquecera a ideia de se candidatar a chanceler, para não prejudicar a sua amizade com Gabriel, 57 anos. Agora, numa entrevista à revista Stern, é Gabriel quem vem dizer que uma candidatura sua iria "falhar", argumentando que está demasiado conotado com o Governo de grande coligação em que participa com a chanceler Angela Merkel na pasta da Economia. Assim, desafia Schulz a concorrer. “Sim, é o meu dever como presidente” do partido, declarou à revista. “Se concorresse, iria falhar e arrastaria comigo o SPD”, declarou.

O SPD vai fazer o anúncio da candidatura de Schulz no domingo.

A surpresa pode dar vitalidade a um partido que só conta por quanto irá perder, diz a Spiegel. Mais, enquanto entre a CDU de Merkel o mantra tem sido “é-nos indiferente pois o candidato do SPD perde contra nós”, a preferência era por um adversário mais fácil, isto é, Gabriel. “Não estamos em pânico nem deprimidos” com esta notícia, ironizou o responsável da CDU Thomas Strobl.

Sondagens do mês passado sugeriam que se Schulz e Merkel se enfrentassem nas legislativas, Merkel venceria com 43% contra 36% de Schulz, uma diferença que se alteraria drasticamente com um candidato Gabriel, com 57% para Merkel e 19% para Gabriel.

Schulz fez a maior parte da sua carreira política no Parlamento Europeu, onde esteve desde 1994 - a emissora alemã Deutsche Welle sublinha que tem muito pouca experiência a nível de política interna alemã: foi presidente da câmara da cidade de Würselen, na Renânia do Norte-Vestefália, perto da fronteira com a Bélgica e Holanda.

O anúncio da decisão de Gabriel, que adiantou ainda querer trocar de pasta para os Negócios Estrangeiros, foi feito de um modo algo inusitado. Comentava o jornal Berliner Zeitung que o modo como fez o anúncio dá a Martin Schulz um começo de candidatura estranho. "Deve o SPD rir ou chorar?", pergunta o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Embora muitos desejassem Schulz, este não representa a esquerda do partido mas sim uma imagem de competência europeia - que é justamente um ponto forte de Merkel. Para este jornal, assim, quem ganha com esta mudança são os populistas antieuropeus da AfD (Alternativa para a Alemanha).

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