"Yes we did": Obama despede-se com discurso em defesa da democracia
Na sua emocionada despedida, Obama defendeu que os EUA estão melhores do que há oito anos, mas assinalou ameaças à democracia.
“Yes we did” (sim, conseguimos) foram as últimas palavras que Barack Obama proferiu, esta terça-feira, no seu último discurso enquanto Presidente dos Estados Unidos da América. Numa despedida emocionada, Obama apelou à rejeição da discriminação e à defesa da democracia e dos valores do país, a pouco mais de uma semana da tomada de posse de Donald Trump.
Foi em Chicago que começou e é em Chicago que acaba. Foi nesta cidade do estado do Illinois que Barack Obama festejou a sua vitória no primeiro mandato como Presidente, em 2008, e foi, nesta terça-feira, que perante cerca de 18 mil pessoas, se despediu de oito anos de presidência.
Obama começou por agradecer à sua família o apoio que lhe deu durante todo o tempo à frente da Casa Branca, afirmando que o seu tempo como Presidente foi “a honra” da sua vida. Com Donald Trump a assumir a presidência no próximo dia 20 de Janeiro, Barack Obama não deixou de condenar algumas das políticas que o republicano defendeu – e que continua a defender – ao longo da sua campanha eleitoral.
O discurso girou em torno da democracia e dos valores que elevam um país, num apelo ao progresso, deixando para trás os aspectos que possam romper o tecido democrático da nação. “Assim como nós, como cidadãos, devemos permanecer vigilantes contra agressões externas, também nos devemos proteger do enfraquecimento dos valores que fazem aquilo que nós somos”, alertou.
“A democracia não requer uniformidade. A democracia requer um sentido básico de solidariedade – a ideia de que perante todas as diferenças continuamos juntos nisto, subimos ou caímos como um só”, explicou o Presidente.
Barack Obama assinalou três aspectos que ameaçam a democracia: a desigualdade económica, as divisões raciais e o recuo de alguns segmentos da sociedade que acabam por espelhar a falta de uma mente aberta.
“A nossa democracia não funciona sem um sentimento de que toda a gente tem oportunidades económicas”, disse. “Se todas as questões económicas forem tomadas como uma luta entre a classe média branca e as minorias não merecedoras, então os trabalhadores de todas cores estarão a lutar por sucata, enquanto os ricos se retiram para os seus enclaves privados”, explicou.
Obama, que foi o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos, fez questão de se focar também em questões relacionadas com o racismo e discriminação. A sua eleição não curou o passado histórico de divisão racial, mas Obama mostrou-se confiante que as gerações futuras possam mudar este cenário.
“Depois da minha eleição, falava-se numa América pós-racial. Tal visão, ainda que bem-intencionada, nunca foi realista”, confessou. “A raça continua a ser uma força potente e que divide a nossa sociedade”. O Presidente americano reforçou a ideia de que é preciso pôr de lado a discriminação e as mentes fechadas, apelando às minorias que lutem pela justiça e igualdade.
A transição para a presidência do republicano Donald Trump será “pacífica”, afirmou Obama, que diz que dará o espaço necessário a Trump para assumir o cargo, tal como o George W. Bush lhe deu a ele. Ainda que Obama se tenha mostrado contra as políticas de Trump, desde que este foi eleito para a Casa Branca, o Presidente adoptou um tom mais apaziguador face ao republicano. “Cabe a todos nós assegurar que o nosso governo nos pode ajudar a enfrentar os muitos desafios que temos pela frente”, disse.
“Estou a pedir-vos que acreditem. Não na minha capacidade de trazer a mudança – mas na vossa”, afirmou Obama já no final do seu discurso, tendo depois recuperado o famoso slogan da campanha “Yes we can”. ("sim, nós podemos"). A fechar o seu último discurso como Presidente, Obama repetiu o "Yes we can" e acrescentou-lhe um "Yes we did" (sim, nós conseguimos).