Sócrates nega pressão sobre Campos e Cunha para afastar gestão da CGD

"Há anos que o Dr. Campos e Cunha aproveita os quatro meses da sua passagem pelo Governo para atacar os seus antigos colegas", diz antigo primeiro-ministro. Professor universitário já reagiu.

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Sócrates contraria Campos e Cunha na questão da CGD Reuters/HUGO CORREIA

O antigo primeiro-ministro José Sócrates desmente Luís Campos e Cunha, antigo ministro das Finanças, que disse no parlamento ter sido pressionado por Sócrates – então líder do executivo socialista – para demitir a administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD). 

"Há anos que o Dr. Campos e Cunha aproveita os quatro meses da sua passagem pelo Governo para atacar os seus antigos colegas. Considero tal comportamento desprezível e sempre o ignorei por não querer quebrar a regra que sigo de não comentar a vida interna do Governo a que presidi", acusou Sócrates numa nota enviada à comunicação social, em que contraria algumas das afirmações que o seu antigo ministro fez, na quinta-feira, durante a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD.

"Hoje sinto que tenho o dever de o desmentir: as suas declarações a propósito da Caixa Geral de Depósitos são falsas e sem nenhuma correspondência com a verdade", assinalou o antigo governante.

E reforçou: "Esclareço que nunca fiz qualquer pressão para demitir a administração daquele banco. Esclareço ainda que a vontade de substituir a referida administração sempre me foi manifestada pelo então ministro das Finanças que, ao contrário do que agora é afirmado, na altura considerava que não estava à altura da missão do banco". "Quanto às razões da sua exoneração do cargo de Ministro das Finanças, eu e todo o Governo da altura as conhecemos", rematou Sócrates.

Campos e Cunha já reagiu ao comunicado de Sócrates, em declarações ao Observador. O professor universitário também desmente o antigo chefe de Governo: “Por amor de Deus, estive quatro meses no cargo e não demiti a administração da CGD. Mas, quando saí, esta foi demitida no dia seguinte por outra pessoa”.

Nessa época, a CGD era dirigida pelo social-democrata Vítor Martins, substituído por Carlos Santos Ferreira, tendo Armando Vara passado a integrar a administração. Foram nomeados por Teixeira dos Santos, que sucedeu a Campos e Cunha e permaneceu no Ministério das Finanças até ao fim do Governo Sócrates.

Campos e Cunha revelou na quinta-feira no Parlamento que, desde que assumiu funções no Governo Sócrates, o primeiro-ministro o pressionou para demitir a administração do banco público.

"A relação com a CGD não teve um período de maturidade suficiente, porque estive apenas quatro meses no Governo. Desde o início, como ministro das Finanças, fui pressionado pelo primeiro-ministro [José Sócrates] para demitir o presidente da CGD e a administração da CGD", afirmou Campos e Cunha, que não acatou essas orientações.

"Por princípio, acho que deve ser dado tempo para as pessoas trabalharem e concluírem os seus mandatos", explicou Campos e Cunha, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, dando como exemplo o facto de não ter demitido nenhum director geral durante a sua curta passagem pelo executivo socialista, em 2005.