Demissões em bloco nos hospitais do Algarve

Subdirectora clínica e quatro directores de departamento alegam falta de meios. Administração garante funcionamento dos hospitais.

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Hospital de Faro é uma das unidades que integra o Centro hospitalar do Algarve VIRGILIO RODRIGUES

A subdirectora clínica do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), Ana Lopes, e mais quatro directores de departamento apresentaram a demissão, alegando a ausência das “condições necessárias” para continuarem nos cargos. A falta de resolução de “problemas estruturais” que se arrastam no tempo e o facto de “não ser previsível a resolução desses problemas”, dizem, torna “completamente impossível” o exercício das funções de chefia naquele centro que integra os hospitais de Faro, Portimão e Lagos e Serviços de Urgência Básica de Loulé, Albufeira e Vila Real de Santo António

Já em Junho, o PÚBLICO noticiou a carta aberta em que uma boa parte dos especialistas deste centro hospitalar avisava o ministro da Saúde sobre a falta de médicos para assegurar a escala de urgência de Neurocirurgia e o consequente “caos” nas unidades. E antes, em Maio, a administração tinha conseguido travar as demissões em bloco dos directores dos serviços, o que agora não foi possível alcançar.

As demissões em bloco foram apresentadas numa carta entregue ao conselho de administração e divulgada hoje nas várias unidades do centro hospitalar. Na missiva, os médicos lembram que a “boa vontade” dos membros do conselho de administração não chega para criar as condições essenciais ao normal funcionamento do CHA. As dificuldades com que os profissionais se debatem no dia-a-dia, escrevem, “ têm condicionado a quantidade e a qualidade assistencial” e isso reflecte-se nos “piores índices registados nos últimos anos”.

Sobre a carta de demissão, o conselho de administração do CHA, questionado pelo PÚBLICO, disse apenas que se trata de uma “intenção” das chefias clinicas de abandonarem os cargos. “Um processo que ainda se encontra em aberto e em diálogo entre a administração e os referidos directores”. A gestão dos serviços, garante a administração, está “assegurada” pelos directores demissionários. Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde remeteu esclarecimentos sobre as demissões para a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve que, por sua vez, alegou não ter conhecimento da carta dos directores dos serviços.

ARS anuncia investimento de 19 milhões

Na carta, os directores demissionários acusam o Ministério da Saúde de não reconhecer “a enorme relevância da região do Algarve”, fazendo referência à importância turística desta região. Já a ARS do Algarve anunciou esta sexta-feira que o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, deu garantias, após uma reunião esta semana em Lisboa, que o Governo vai investir 19 milhões de euros entre 2017 e 2019 em todas as unidades geridas pelo CHA, mas a "principal fatia", de 11,2 milhões de euros, será avançada já no próximo ano. Esta parcela vai servir para a aquisição e renovação de equipamentos médico-cirúrgicos e de diagnóstico.

"Há várias situações que estão contempladas: por um lado resolver problemas que estavam a tomar alguma dimensão, em especial na área da imagiologia, porque estão aqui previstos investimentos na área da TAC [Tomografia Axial Computorizada], também na área da cardiologia de intervenção, que é uma área muito específica e muito diferenciada e que, de facto, o equipamento existente já tinha alguns anos e já estava a merecer ser renovado", disse hoje à agência Lusa Tiago Botelho, vogal do conselho directivo da ARS.

Além de Ana Lopes, subscrevem a carta – que surge também como um diagnóstico das carências daquele centro hospital - o director dos departamentos de cirurgia, João Ildefonso, o director das Áreas Não Departamentadas, Ulisses Brito (representante distrital da Ordem dos Médicos), o responsável pelo departamento de Medicina, Pedro Leão, e o director do departamento das Urgências, Carlos Godinho.

Entre as chefias do centro hospitalar, apenas não pediu a demissão o director do departamento de Saúde Mental e a subdiretora da direcção clinica no Hospital do Barlavento.

O conselho de administração do CHA, presidido por Joaquim Ramalho, tomou posse há nove meses. Neste período, acusam os directores demissionários, não resolveu a situação em que caíram as unidades que integram este centro hospitalar.

“Têm sido inúmeras as indecisões"

“Não há eficácia na estratégia de resolução dos problemas estruturais da instituição junto da tutela”, sublinham. “Têm sido inúmeras as indecisões e os adiamentos de medidas que consideramos importantes para uma melhoria do funcionamento da instituição”, salientam.

Nos últimos tempos, subiram de tom as criticas no sector da Saúde. Por um lado, o Governo deixou cair a construção do novo Hospital em 2017, por outro, a ARS do Algarve anunciou um estudo que defendia o desmembramento do CHA, devolvendo a autonomia de gestão aos hospitais de Faro e do Barlavento.

O conselho de administração do CHA “tem mostrado uma inusitada submissão à ARS, para lá do normal respeito e relação hierárquica”, acusam os directores na carta. Estes médicos consideram que a ARS do Algarve “tem sido co-responsável pela progressiva degradação dos serviços de saúde públicos nos últimos anos, designadamente ao nível dos cuidados hospitalares”. 

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