Depois da China, Costa aposta na Índia

António Costa é o primeiro alto governante ocidental de ascendência indiana. Quebrando o gelo de cinco décadas, foi convidado pelo Estado da Índia para uma visita em que a economia é o tema dominante, mas em que a língua também tem peso.

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Reuters/ADRIANO MACHADO

Tentar captar investimento em Portugal e mercado para as exportações portuguesas é o objectivo principal da viagem de Estado à Índia que o primeiro-ministro, António Costa, realiza entre 7 e 12 de Janeiro.

A aposta nesta visita é grande por parte do Governo português que quer iniciar um diálogo institucional bilateral que potencie as relações económicas com um Estado que, ao lado da China, é um país em grande desenvolvimento, sendo já uma potência económica a nível mundial.

Por outro lado, o Governo pretende potenciar na Índia o facto de Portugal ser um Estado-membro da União Europeia. Daí que António Costa, além de ser acompanhado institucionalmente por responsáveis do ICEP Portugal - Investimento Comércio e Turismo, levará consigo uma comitiva de empresários, que estão a ser convidados, para que estabeleçam contactos.

Além da vertente económica, a viagem de Estado do primeiro-ministro terá uma vertente cultural, relacionada com a importância do português no mundo, bem como uma vertente científica. No âmbito da ciência, António Costa visitará três importantes centros de pesquisa a nível mundial: o Instituto Tecnológico de Bangalor, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial, que é a agência espacial indiana, também em Bangalor, e o Instituto Hidrográfico de Goa.

Esta será a primeira de algumas das viagens que o primeiro-ministro fará no primeiro trimestre de 2017. Seguem-se Angola, Cabo Verde e Moçambique, sendo que nestes dois últimos países António Costa participará em cimeiras bilaterais, um tipo de evento diplomático que terminará com a cimeira luso-espanhola, prevista precisamente para a Primavera.

A viagem surge a convite das autoridades indianas e vem na sequência do interesse demonstrado pelos governantes da Índia pelo facto de António Costa ser o primeiro chefe do um Governo na Europa e no mundo ocidental que tem origens familiares indianas.

Portugal restabeleceu em 1975 relações diplomáticas com a Índia, que estavam cortadas desde a anexação de Goa, Damão e Diu pela República da Índia em 1961. Apesar do restabelecimento de relações, estas nunca foram intensas entre os dois países e é a primeira vez que entre ambos é organizada uma visita de Estado.

O estreitamento de relações bilaterais entre Portugal e aquele que é o Estado democrático mais populoso do mundo é facilitado pelo facto de terem passado 55 anos sobre a anexação da Índia portuguesa. Hoje os antigos territórios portugueses têm um indiscutível domínio hindu, pelo que as crises de identidade foram ultrapassadas e as diferenças culturais e religiosas entre hindus e católicos são valorizadas, assumiu ao PÚBLICO um membro do Governo.

A ideia do Governo português é assim aproveitar a atenção que foi dada à posse de António Costa como primeiro-ministro para abrir a porta ao relacionamento, sobretudo à vertente económica que estará presente em Bangalore e no estado de Gujarate.

Por sua vez, a diplomacia dos dois países está a preparar uma série de acordos bilaterais em diversas áreas e sectores: ciência, indústria de defesa, energias renováveis, turismo, modernização administrativa, electrónica, tecnologia e formação de startups.

A importância das startups na agenda da viagem levou a que o primeiro-ministro tenha convidado para o acompanhar Paddy Cosgrave, o responsável pela Web Summit de Lisboa em 2016. A diversidade da aposta no domínio da cooperação económica leva a que faça parte do roteiro um encontro com produtores de cinema de Bollywood.

Logo a 8 e 9 de Janeiro, a comitiva portuguesa estará em Bangalor, um dos centros económicos da Índia. A 8, António Costa é um dos oradores principais do Congresso dos Indianos na Diáspora, onde estarão várias personalidades de origem indiana espalhadas pelo mundo.

As datas da visita foram, aliás, marcadas para coincidirem e o primeiro-ministro português participar nesse evento. A presença de empresários indianos com peso por outras zonas do mundo, incluindo os Estados Unidos, levará à realização de um pequeno-almoço, no dia 9, em que o primeiro-ministro juntará empresários portugueses, indianos e de outras nacionalidades, mas de origem indiana.

As relações económicas levam também António Costa a participar, no dia 10, em Gandhinagar, na abertura da Vibrant Gujarat Global Summit 2017, um importante evento a nível económico, e num seminário sobre economia.

O programa oficial inicia-se dia 7 na capital indiana, Nova Deli. É o momento dos encontros institucionais, sendo o primeiro-ministro recebido pelo Presidente, Pranab Mukherjee, pelo vice-presidente, Mohammad Hamid Ansari, e pelo primeiro-ministro, Shri Narendra Modi. Segue-se, a 8 e 9, a cidade de Bangalore, capital do estado de Karnataka. A 10, vai a Gandhinagar, capital do Gujarate, o estado da Índia de onde é originária a maioria dos indianos a viver actualmente em Portugal e de onde é natural o primeiro-ministro indiano Modi. A visita termina com os dias 11 e 12 dedicados a Goa, que foi, desde meados do século XVI, capital administrativa do Império português a Oriente e da Índia portuguesa.

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