Para a PT “o fundamental é ter conteúdos e ter media”

O presidente da PT Paulo Neves, garante que não há, nem nunca houve, negociações com a Media Capital, mas que a entrada nos media faz parte da estratégia do grupo. Sobre a aprovação de uma concentração entre um operador de telecomunicações e uma televisão, diz não antever "qualquer dificuldade".

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Paulo Neves, presidente executivo da PT Rui Gaudêncio

O gestor que lidera a PT desde o ano passado assume que a Altice quer ser cada vez mais forte nos conteúdos e nos media. Rejeita a existência de tensões entre a gestão e os trabalhadores e mostra-se preocupado com a possibilidade de o Governo vir a agravar as taxas cobradas aos operadores.

Há ou não contactos com a Media Capital para comprar esta empresa?
Não. Tenho sido muito claro sobre isto, não há contactos com a Media Capital.

Já houve?
O importante talvez seja explicar porque é que este tema surgiu. A visão da Altice para este sector é uma visão de convergência global. A Altice tenciona ser um operador global com actuação nas comunicações, IT, conteúdos, media e publicidade, para oferecer aos clientes a infra-estrutura e um conjunto de serviços, aplicações e conteúdos. Em França temos media e em Israel produzimos conteúdos, portanto há uma estratégia global.

Mas já houve contactos com a Media Capital [dona da TVI]?
Não.

Nunca houve?
O que lhe estou a dizer é que de alguma forma queremos olhar sempre para aquilo que é a estratégia do grupo.

Mas então porque surgiram agora estes rumores tão insistentes, que até motivaram uma reacção muito crítica do presidente da Nos, Miguel Almeida, que se referiu a este assunto em entrevista ao Expresso?
Rumores existem sempre. Quando aqui cheguei havia vários. Dizia-se que que íamos acabar com a PT Inovação, que agora trabalha para todo o grupo Altice, e com o data center da Covilhã, que agora também faz parte dessa estratégia global.

Se, e quando, adquirirem uma operação de media em Portugal, é imprescindível que tenha televisão? 
O fundamental aqui é ter conteúdos e ter media. Não sei se é fundamental ou não, mas a televisão faz parte daquilo que os nossos clientes utilizam. Nós temos soluções multiplataforma, ou seja, podem ser vistas no computador ou na televisão.

Acha que um negócio desta natureza [um operador de telecomunicações comprar uma televisão] seria facilmente aprovado pelos reguladores?
Não vejo qualquer dificuldade em relação aos reguladores. Estou a falar em âmbito lato. Aliás, até agora, curiosamente, não tem sido a PT a deter conteúdos. E, que eu saiba, o regulador nunca interveio, nem tinha que intervir. Os conteúdos de desporto e de cinema sempre pertenceram a alguém [à Nos, que também é accionista da Sport TV] e nós somos clientes desses conteúdos. Penso que uma situação semelhante não seria problema.

Sente que hoje em dia a relação dos clientes com os operadores é baseada meramente no preço?
Julgo que connosco não é. Primamos mais pela qualidade do serviço que oferecemos, não somos, nem queremos ser, direccionados pelo preço, mas sim pela oferta. E se calhar é por aí que temos conseguido assegurar a liderança.

Não é pelo preço que as operadoras estão a guerrear?
Poderá ser a política de alguns, não é a nossa.

Não sentiu abalos?
Sim, algum. Mas não é o nosso caminho.

O fim do roaming vem dar um novo aperto às receitas?
Sim, vai ter um impacto muito significativo. Digo-o eu, e dizem os nossos concorrentes e até o regulador, que a maneira como a medida foi feita vai beneficiar os países do norte da Europa.

Vão encaixar o embate ou vão repercuti-lo nos preços finais?
O roaming é só uma componente daquilo que é o produto e portanto nunca se pode dizer qual é o efeito no preço de um só componente. Obviamente que me preocupa tudo aquilo que é redução de receitas, porque com isso também há menos dinheiro para investir.

O regulador não tem muitas dúvidas de que os preços para os consumidores vão subir.
Os produtos são feitos com um conjunto de componentes e obviamente que aquilo que sobra no final tem de ser rentável.

A PT diz não ter nenhum processo de rescisões, mas sabemos que as chefias continuam a seleccionar colaboradores para uma bolsa da mobilidade interna e que há perto de 200 pessoas sem funções atribuídas. Confirma?
O que fizemos quando chegámos foi tentar tornar a empresa mais ágil. Tudo isso foi mais do que mediatizado, a questão dos colaboradores e a negociação com os fornecedores. Numa primeira instância realocámos as pessoas num processo de internalização, havia pessoas que estavam em áreas menos necessárias ou menos úteis e que formámos para outras áreas. Fizemos esse processo de ajuste e substituímos outsourcers. É um processo completamente normal de gestão.

Há ou não perto de 200 pessoas sem funções atribuídas na PT neste momento?
Não sei o que são pessoas sem funções atribuídas.

São pessoas que estão sentadas a uma mesa sem nada para fazer.
Se me conseguir indicar nomes gostaria de saber.

Não lhe vou indicar nomes, certamente deve sabê-los melhor do que eu. Não têm uma sala onde estão concentradas pessoas sem nada para fazer?
Não, não temos. Se me está a dizer que deliberadamente há pessoas sem funções atribuídas, não, não há.

Também existe um inquérito interno que um sindicato [o STPT] está a conduzir, porque se queixa que há um ambiente de medo na PT e quer avaliar o clima social. Como vê estas acusações?
Eu diria que numa empresa desta dimensão haverá sempre acusações. Mas nós assinámos em Setembro um acordo colectivo de trabalho que não existia desde 2013.

Não lhe parece que haja um ambiente tenso?
Não. Não há aqui nada que seja diferente de qualquer outra empresa. Se calhar há é muito maior mediatismo em relação a tudo o que se passa nesta empresa. Temos um ambiente de perfeito diálogo com os trabalhadores, a comissão de trabalhadores e os sindicatos e por essa razão conseguimos algo que não se conseguia há anos.

A Altice adquiriu recentemente o controlo exclusivo da Parilis, accionista de diversas sociedades que prestam serviços de engenharia à PT. Quem eram, ou quem são, os outros accionistas destas empresas?
Nós como empresa escolhemos os fornecedores que melhor se adaptam às situações.

Não questiono isso, só gostava de perceber quem são os accionistas destas empresas com quem vocês trabalham e por isso têm conhecimento sobre elas.
Nós escolhemos estas empresas pela qualidade e pelo tipo de serviço a que se adequavam. É isso o fundamental e portanto será assim enquanto fornecerem o que nós queremos.

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Altice comprou a PT em 2015 AFP PHOTO/ PATRICIA DE MELO MOREIRA

Mas não têm qualquer ligação a pessoas associadas ao chairman da PT, Armando Pereira?
Não é a minha preocupação se têm ou não. O fundamental foi escolher as empresas que melhor nos serviam. E foram adequadas aquelas que escolhemos.

Passando para a Fibroglobal [empresa que recebeu fundos públicos e que está sob análise do regulador porque há queixas sobre distorções concorrenciais], quem são os parceiros da PT, agora que a Visabeira saiu do capital?
Se calhar é melhor perguntar à Fibroglobal.

Estou-lhe a perguntar a si porque é accionista da empresa e porque a PT também tem um papel preponderante na gestão…
Temos um papel preponderante em termos de gestão relativamente ao know-how. Temos 5% de uma empresa que apareceu quando foi o concurso das redes rurais. Utilizámos o nosso know-how para trabalhar nessa empresa, mas também somos clientes, como toda a gente pode ser. Curiosamente só recentemente conseguimos ser clientes da outra empresa que também ganhou o concurso, a DST Telecom, porque houve um processo normal de negociação.

Há pessoas na gestão da Fibroglobal que estão ligadas à PT.
É o que digo, aportámos know-how.

Independentemente das queixas dos outros operadores, que dizem que não conseguem negociar com a Fibroglobal, porque é gerida pela PT, o que também acho estranho é que não me consiga dizer quem são os vossos novos parceiros nesta empresa…
Acho que não é sequer delicado ser eu a dizer.

Foi convidado a vender os 5% ou a comprar os 95%?
Não. Estou confortável com a posição.

É ou não verdade que Hernâni Vaz Antunes, que aparentemente é sócio de Armando Pereira, esteve aqui na PT a negociar com os clubes de futebol sem ter uma ligação directa à empresa?
Essa resposta já a tenho de cor. O Hernâni Vaz Antunes não faz parte dos quadros desta empresa, não pertence à empresa e não tem qualquer relacionamento connosco.

Esteve ou não aqui a negociar os contratos de futebol?
Directamente connosco não.

Connosco quem?
Com a PT.

Mas esteve aqui por intermédio de outra entidade?
Não vou comentar nada sobre alguém que não faz parte desta empresa.

Como é que encara a possibilidade de o Governo vir a aumentar as taxas de espectro?
Tudo aquilo que venha influenciar negativamente o sector é preocupante. As empresas têm tido uma capacidade tremenda de investir e inovar e é importante que isso continue.

Que lhe parece a recomendação de Bruxelas no sentido de que a Anacom obrigue a PT a abrir a rede de fibra em áreas rurais?
Em primeiro lugar, é só isso, uma recomendação. E a Anacom até já a considerou injustificada. No caso da fibra, nos outros países o que tem acontecido é que há um problema de investimento. Em Portugal isso não acontece. Nós temos estado a fazer esse investimento e parece-me que o país não tem qualquer problema. Dito isto, impor qualquer medida poderá ter o efeito contrário, porque nós só vamos investir enquanto acharmos que é rentável.

A Vodafone, por exemplo, queixa-se que a vossa oferta grossista [para usar a rede da PT] é inviável. Estariam dispostos a aceitar uma oferta com as mesmas condições que a vossa?
Sim, nós até temos pedido isso. A melhor forma de desenvolver as redes de nova geração neste país era que todos quisessem investir e que todos disponibilizassem uma oferta.

Se todos investirem em todo o lado não há necessidade de ofertas…
Ainda há um longo processo até todo o país estar coberto com redes de nova geração. Se todos investirem e entretanto puserem ofertas à disposição, mais depressa chegamos às pessoas. Mas nós fomos os únicos que o fizemos proactivamente. A minha oferta existe e anseio pelas ofertas da concorrência.

 

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