Milionário Rex Tillerson, um amigo da Rússia, será o chefe da diplomacia dos EUA
É o cargo mais importante a seguir ao Presidente e vai ser ocupado por um milionário que chefia a ExxonMobil. É o primeiro nome da equipa de Trump a quem senadores do Partido Republicano torceram o nariz.
Na mesma semana em que Barack Obama anunciou a abertura de uma investigação para tentar perceber se a Rússia influenciou o resultado das eleições norte-americanas, o seu sucessor, Donald Trump, pôs na liderança dos negócios estrangeiros dos Estados Unidos um homem que foi condecorado por Vladimir Putin com a Ordem da Amizade – uma medalha que é posta ao peito dos cidadãos estrangeiros que se distinguiram por melhorarem as relações com a Rússia e com o seu povo.
I have chosen one of the truly great business leaders of the world, Rex Tillerson, Chairman and CEO of ExxonMobil, to be Secretary of State.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 13 de dezembro de 2016
Na corrida ao cargo de secretário de Estado ficou para trás o antigo mayor de Nova Iorque Rudolph Giuliani, ele que sempre esteve ao lado de Donald Trump mesmo nos piores momentos da campanha. Entre os candidatos estavam ainda a antiga rock star dos generais norte-americanos, David Petraeus, que caiu em desgraça depois de ter trocado informações confidenciais por e-mail com a sua amante. E Donald Trump arrastou lentamente o nome de Mitt Romney pela lista de candidatos, deixando queimar em lume brando um dos membros do Partido Republicano que mais lhe fez frente durante as eleições primárias e até na campanha contra Hillary Clinton.
Mas os ventos que sopram da "Casa Branca-sombra" em que se transformou a Trump Tower, em Manhattan, empurraram para a linha da frente um até agora relativamente desconhecido milionário chamado Rex Tillerson – quem lê tudo e mais alguma coisa sobre o mundo do petróleo talvez se tenha cruzado com o nome dele no topo da gigante ExxonMobil mas, para a maioria dos cidadãos, Tillerson, Tillerson, ora bem Tillerson, é um nome que pouco dizia até ao último fim-de-semana.
Ao contrário da norma em eleições passadas, a composição da futura Administração Trump tem passado muitas vezes por um teste público – o Presidente eleito escreve no Twitter o nome de um candidato ou de uma candidata, e depois as reacções públicas encarregam-se de contribuir para a redução da lista.
Whether I choose him or not for "State"- Rex Tillerson, the Chairman & CEO of ExxonMobil, is a world class player and dealmaker. Stay tuned!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 11, 2016
E ninguém mais do que Mitt Romney sentiu isso na pele – graças à sua oposição a Trump durante a campanha, os eleitores mais fervorosos dizem dele o que nenhum cristão diz sobre Judas, e fizeram sentir ao seu futuro Presidente que queriam ver Romney bem longe de Washington.
Globalist Mitt Romney was one of the architects of OBAMACARE, he is everything we voted AGAINST when we voted TRUMP! #NeverRomney
— Makada ???? (@_Makada_) November 30, 2016
Visto como o cargo mais importante de toda a Administração a seguir ao Presidente, o secretário de Estado é a cara da política externa norte-americana no mundo, e essa cara é actualmente a de John Kerry, antigo vice-governador e senador pelo estado do Massachusetts e ex-presidente da Comissão de Relações Internacionais do Senado. Por lá passaram também Hillary Clinton, depois de dois mandatos no Senado e uma primeira corrida falhada à Casa Branca, em 2008; Condoleezza Rice, depois de ter sido conselheira de segurança nacional de George W. Bush; e Collin Powell, depois de um ano como conselheiro de Ronald Reagan e quatro como chefe do Estado-maior das Forças Armadas no Governo de George W. Bush, só para falar dos mais recentes.
Negócios com a Rosneft
Para quebrar a tradição da experiência em cargos de governação (e para manter a tradição que inaugurou ao nomear responsáveis sem esse passado), Trump anunciou como secretário de Estado Rex Tillerson, actual presidente executivo da ExxonMobil e ex-líder da Boy Scouts of America, uma das maiores organizações juvenis dos Estados Unidos e que, ao fim de 105 anos de vida, em 2015, começou a aceitar homossexuais em todos os postos.
Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Rex Tillerson, ao contrário do que acontece com líderes de outras gigantes do mundo empresarial, geralmente mais dados à exposição pública. Mas sabe-se que tem um potencial conflito de interesses pela frente, e que foi o primeiro nome avançado por Donald Trump a quem senadores do Partido Republicano torceram o nariz – as principais nomeações do Presidente eleito têm de ser aprovadas no Senado, após um processo de audições, e o Partido Republicano tem uma maioria de 52-48, pelo que é preciso ter quase toda a gente a remar para o mesmo lado para que um nomeado de Donald Trump não bata com o nariz na porta. Em caso de empate, desempata o vice-presidente dos EUA, que é, por inerência, presidente do Senado.
O que leva esses senadores a torcerem o nariz são as ligações do próximo secretário de Estado à Rússia de Vladimir Putin. Até agora, os mais vocais foram John McCain e Marco Rubio – não disseram que vão votar contra se Trump nomear Tillerson, mas as primeiras palavras indicam tudo menos uma aprovação.
"Tenho problemas óbvios sobre a relação dele com Vladimir Putin, que é um rufia e um assassino, mas é claro que vamos ter audições, e esse e outros assuntos vão ser avaliados. Só depois poderemos decidir se votamos a favor ou contra", disse o senador do Arizona na CNN, no sábado.
Já o senador da Florida disse o que pensava através do Twitter: "Ser-se 'amigo de Vladimir' não é um atributo que espero encontrar num secretário de Estado."
Being a "friend of Vladimir" is not an attribute I am hoping for from a #SecretaryOfState - MR
— Marco Rubio (@marcorubio) December 11, 2016
A medalha da Ordem da Amizade atribuída por Vladimir Putin ao próximo secretário de Estado norte-americano foi-lhe colada ao fato após anos e anos de negócios e de relações de grande proximidade com o Presidente russo e o com o seu amigo e conselheiro Igor Sechin, o presidente executivo da gigante estatal do petróleo Rosneft.
Em 2011, a ExxonMobil e a Rosneft fecharam um negócio para a extracção de petróleo no Árctico – uma tarefa muito dura, mas que foi ficando menos difícil devido ao degelo provocado pelo aquecimento global. Ainda assim, a Rosneft precisava da tecnologia da ExxonMobil para apressar as operações, e a ExxonMobil via abrir-se-lhe as portas de um novo e gigantesco filão de petróleo.
Os problemas começaram quando a Rússia invadiu a península da Crimeia, na primeira metade de 2014, e quando estalou uma guerra civil no Leste da Ucrânia – com as sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia à Rússia, o negócio ficou a patinar e a ExxonMobil reportou perdas de mil milhões de dólares.
Como presidente da ExxonMobil, Rex Tillerson combateu contra as sanções, fazendo visitas à Casa Branca mas também a Moscovo, com o objectivo de aligeirar as sanções, sempre más para os negócios. Os seus críticos temem agora que o mesmo Rex Tillerson não consiga atirar para trás das costas os seus 41 anos na ExxonMobil, os últimos nove como presidente executivo, e que mantenha o mesmo pragmatismo, fazendo tábua rasa da política norte-americana em relação à Rússia nos últimos anos.