CIA conclui que a Rússia tentou ajudar Trump a vencer as eleições
Segundo os serviços secretos norte-americanos, hackers com ligações a Moscovo acederam às redes informáticas dos partidos Democrata e Republicano.
A Rússia teve uma intervenção activa na fase final da campanha eleitoral norte-americana para prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton e beneficiar o seu opositor, Donald Trump, conclui um relatório secreto da CIA.
Segundo fontes da agência norte-americana, citadas pelo The New York Times e o The Wahington Post, indivíduos ligados a Moscovo conseguiram obter emails provenientes do Partido Democrata e, nomeadamente, do responsável pela campanha de Clinton, John Podesta, e entregaram-nos à WikiLeaks.
O New York Times adianta que os serviços secretos descobriram que os hackers acederam igualmente aos computadores do Comité Nacional Republicano, embora não tivessem tornado pública qualquer informação daí proveniente. Nos últimos meses, responsáveis republicanos têm afirmado que as suas redes não foram atacadas e que apenas emails individuais foram alvo dos piratas informáticos.
No entanto, apesar de a CIA ter identificado estes hackers como sendo próximos da Rússia, eles estão, dizem as fontes citadas pela imprensa, “a um passo de distância” do Governo russo. Julian Assange, o fundador da WikiLeaks, já disse, numa entrevista televisiva, que “o Governo russo não é a fonte” dos emails tornados públicos pela sua organização.
Estas notícias do The New York Times e do The Washington Post surgem horas depois de Barack Obama ter ordenado às agências de informação norte-americanas para que façam uma avaliação dos ataques informáticos e da intervenção estrangeira nas eleições presidenciais. O actual Presidente quer o relatório completo pronto antes de deixar a Casa Branca, a 20 de Janeiro.
As suspeitas de que Moscovo teria tentado influenciar o resultado das eleições nos Estados Unidos existem já há vários meses. No entanto, este relatório da CIA indica maior convicção de que isso aconteceu realmente. As conclusões da agência foram apresentadas numa reunião à porta fechada com vários senadores no Capitólio, durante a qual os agentes da CIA terão dito que é neste momento “bastante claro” que o objectivo de Moscovo era ajudar Trump a conseguir a vitória.
Até agora, a Administração Obama tem reagido com cautela às suspeitas, procurando criar um consenso com os republicanos neste campo, para impedir que o Presidente pudesse ser acusado de estar a usar os serviços secretos para fins políticos, explica o Washington Post.
Foi organizado, numa sala especial do Capitólio onde decorrem habitualmente reuniões que envolvem informação secreta, um encontro do chamado Grupo dos 12, que reúne congressistas e senadores democratas e republicanos. Aí, responsáveis da Administração terão tentado obter o acordo dos republicanos para uma resposta conjunta a uma situação que foi descrita como “a ameaça colocada pela intrusão sem precedentes de uma potência estrangeira no nosso processo eleitoral”. No entanto, não foi possível conseguir um consenso, com pelo menos dois congressistas republicanos a mostrarem-se relutantes.
Também Donald Trump tem relevado cepticismo face às acusações. “Não acredito que [os russos] tenham interferido”, disse numa entrevista à revista Time. Segundo o vencedor das eleições, os hackers que acederam aos emails “podem ser da Rússia ou da China ou pode ser um tipo qualquer na sua casa em New Jersey”.
As fontes da CIA e empresas privadas de cibersegurança afirmam, contudo, ter identificado duas ciberunidades ligadas dos secretos militares russos, os G.R.U., responsáveis pelo ataque aos computadores democratas – Cozy Bear e A.P.T 29, sigla para Advanced Persistent Threat – que terão passado meses dentro da rede do Comité Nacional Democrata e outros organismos governamentais.
Na sexta-feira, o gabinete de transição de Trump emitiu um comunicado a criticar o trabalho das agências de informação. “Estas são as mesmas pessoas que disseram que [o antigo Presidente iraquiano] Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça”, lia-se no texto. “A eleição terminou há muito naquela que foi uma das maiores vitórias de Colégios Eleitorais da história. É tempo de avançarmos e de tornarmos a ‘América Grande Outra Vez’”.