Sonae ataca mercado de comida saudável com marca Go Natural
Negócio da nutrição saudável vale 2100 milhões de euros em Portugal e o grupo dono do Continente quer ser líder deste mercado. Através de um acordo de licenciamento, vai abrir cinco lojas em 2017.
A Avenida 5 de Outubro em Lisboa foi o local escolhido pela Sonae para abrir, amanhã, o primeiro supermercado biológico Go Natural. O grupo, dono do Continente (e do PÚBLICO), assinou um acordo de licenciamento da marca com a Go Well, a empresa proprietária da rede de 22 restaurantes, e prepara-se para abrir cinco novos espaços em Lisboa e no Porto durante o próximo ano.
Este é o primeiro supermercado biológico da Sonae, que já tem nos hipermercados uma área dedicada a este modo de produção e à alimentação saudável. De acordo com Inês Valadas, administradora da Sonae MC, no Continente as vendas destes artigos estão a crescer a “dois dígitos”. É a “área que mais cresce”, adiantou nesta segunda-feira, durante uma apresentação aos jornalistas.
O grupo da Maia vai, assim, concorrer com o Celeiro, um dos primeiros projectos em Portugal de nutrição saudável. De acordo com dados divulgados pela Sonae, o Celeiro terá vendas de 18 milhões de euros e 35 lojas em todo o país. Outro concorrente é a cadeia Brio, do The Edge Group (liderado por José Luís Pinto Basto), actualmente com sete lojas na região de Lisboa e uma facturação de quatro milhões de euros em 2015, segundo números divulgados recentemente pela empresa ao Jornal Económico.
Com o consumidor cada vez mais interessado na alimentação saudável, as vendas de produtos sem lactose ou glúten, sem açúcares adicionados, vegetarianos, vegans ou biológicos têm disparado. A Finlândia e a Noruega são os países com maior consumo per capita (873 euros e 883 euros, respectivamente) e Portugal ainda está no final da tabela, com um consumo a rondar os 206 euros por habitante.
O negócio da chamada “nutrição saudável” está avaliado em 2100 milhões de euros no nosso país, valor distante dos líderes Alemanha (26.700 milhões de euros) e Reino Unido (26.500 milhões de euros). A Sonae acredita que Portugal tem “grande potencial” neste mercado.
“Queremos ser líderes neste negócio”, sublinha Inês Valadas, acrescentando que, tendo em conta o volume de vendas destes produtos no Continente e no Continente Bom Dia, a cadeia de retalho alimentar já dominará o mercado.
A administradora da Sonae MC adianta que mais de 80% dos produtos à venda nos novos supermercados Go Natural são biológicos mas as novas lojas também vão ter artigos para quem tem restrições e intolerâncias alimentares, outras alternativas saudáveis, suplementos e vitaminas. Trata-se de uma insígnia de retalho especializado "focado na alimentação saudável", disse. Cada estabelecimento deverá empregar 18 trabalhadores e terá uma área aproximada de 350 metros quadrados, sempre integrada em grandes centros urbanos.
Além da utilização da marca Go Natural, os supermercados terão um restaurante e vão vender refeições desta cadeia, através de um acordo de exploração.
Esta parceria corre de forma independente à aquisição de 51% do capital da Go Well, negócio anunciado sexta-feira e ainda dependente da aprovação da Autoridade da Concorrência. Inês Valadas adianta que, caso o regulador dê luz verde à aquisição, os sócios fundadores manter-se-ão à frente do negócio. Houve uma “coincidência de datas” entre o anúncio da aquisição e o lançamento dos supermercados Go Natural, que estão a ser preparados há nove meses.
Para Joana Martorell, a criação de uma rede de supermercados suportada na marca que criou em 2004 juntamente com o irmão Diogo, “faz todo o sentido”. As novas lojas (detidas 100% pela Sonae) são uma “representação fiel dos valores” da sua empresa, afirmou, durante a apresentação do projecto. Diogo Martorell corrobora: “Desde o primeiro dia sempre pensámos que podíamos ir para outros caminhos e a primeira materialização foi um restaurante. A marca tem elasticidade suficiente para ser um supermercado”.
Encontrar fornecedores portugueses de frutas e legumes não foi um problema, mas o cenário é outro no que toca a outros artigos. “Há falta de produtores portugueses da área dos não frescos. Hoje não seria possível ter uma oferta de produtos nacionais”, diz Inês Valadas, sublinhando que é preciso “mais gente a produzir e a vender” biológicos.