Com Trump, a Rússia está pronta a recomeçar a relação com os EUA
Obama destruiu os laços entre os dois países, disse Lavrov. No discurso sobre o estado da nação, Putin também disse querer cooperar com Trump.
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, disse esta quinta-feira que o Kremlin está pronto para um "recomeço" nas relações Rússia-EUA assim que Barack Obama deixe a Casa Branca.
"Estamos confiantes de que a nova Administração [de Donald Trump] não quererá repetir os erros cometidos pela que está de saída, que destruiu deliberadamente a relação EUA-Rússia", disse Lavrov numa entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera.
A entrevista foi publicada no dia em que o Presidente russo, Vladimir Putin, fez, perante as duas câmaras do Parlamento de Moscovo, o discurso sobre o estado da nação.
Putin disse que está disposto a colaborar com Trump — que toma posse a 20 de Janeiro de 2017 —, na luta contra o "terrorismo internacional". "Confiamos em que vamos juntar forças com os EUA na luta contra uma ameaça real e não inventada: o terrorismo internacional", disse Putin. "A Rússia está disposta a participar numa solução para os problemas internacionais, onde seja oportuno".
Foi o 13.º discurso sobre o estado da nação de Putin. "A Rússia não procura inimigos, nem nunca procurou, mas não aceita pressões e vai construir o seu próprio destino", disse o Presidente. Foi por causa deste discurso, explicou o Kremlin, que Vladimir Putin não assistiu ao funeral de Fidel Castro, em Cuba.
Putin disse que o seu país enfrentou recentemente tentativas de interferência externa — referindo-se ao que considerou serem "mitos sobre a agressão russa, a propaganda e a interferência em eleições estrangeiras". "Estamos todos fartos" de acusações, disse Putin, acrescentando que a Rússia construirá o seu presente e o seu futuro, sem "ingerências não solicitadas".
O Presidente russo mencionou também a pressão do Ocidente para se "acabar com a paridade nuclear" — falou no facto de a NATO estar a reforçar a sua presença no Leste europeu, o que a Aliança Atlântica justifica como sendo uma resposta ao rearmamento russo nas suas fronteiras —, considerando que essa solução "pode provocar problemas globais".
Putin mencionou ainda as questões económicas (a inflação em 2015 foi de 12,9%, este ano subiu 6%) e rematou a sua intervenção com declarações sobre a democracia na Rússia: "Ninguém pode proibir alguém de dar o seu ponto de vista livremente".