Presidente sul-coreana quer deixar cargo para evitar destituição e julgamento
Park Geun-Hye pede aos deputados que arranjem uma solução para o seu afastamento da presidência mas a oposição não parece disposta a facilitar-lhe a vida.
Para evitar a humilhação de uma destituição, a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, disse nesta terça-feira que aceita sair do cargo se o Parlamento assim o entender e até sugeriu aos deputados que lhe reduzam o mandato, que oficialmente só termina em 2018. Porém, a proposta da chefe de Estado caída em desgraça devido a um caso de corrupção e abuso de poder não agradou nem à oposição, que tinha marcado para sexta-feira uma votação sobre a destituição, nem à população. Mal Park acabou de falar à nação, milhares de pessoas pediram, no centro de Seul, que saia, imediatamente, como diziam os cartazes.
"Deixo [à Assembleia Nacional] a decisão sobre a minha partida ou redução de mandato", disse Park num discurso transmitido pela televisão. "Quando os deputados determinarem as condições de um processo que minimize o vazio de poder e o caos, eu sairei", acrescentou.
Foi uma derradeira tentativa de Park para salvar a face e talvez evitar um julgamento — com uma saída negociada, poderia tentar manter a imunidade que perderá mal deixe a chefia de Estado. A oposição não parece disposta a dar-lhe essa possibilidade.
"A declaração presidencial carece de um arrependimento sincero. O que as pessoas querem é a sua demissão imediata", reagiu, em comunicado, o Partido Democrático, principal formação da oposição. "Vamos dar sequência ao pedido de destituição", garante.
Manifestações gigantes
Foi em Outubro que a credibilidade — e a popularidade — da primeira mulher Presidente da Coreia do Sul foi posta em causa, quando se soube que Choi usara a sua amizade com a chefe de Estado para extorquir dinheiro (60 milhões de dólares) junto de grandes empresas, a Samsung e a Hyundai, por exemplo.
Choi Soon-sil, a amiga íntima de Park, foi detida e acusada pela Justiça de abuso de poder, corrupção e fraude. Na semana passada, Park — que pedira desculpa pelo seu equívoco nesta amizade — foi directamente implicada no escândalo. "A investigação concluiu, com base nas provas existentes até ao momento, que a Presidente foi cúmplice de Choi Soon-sil de forma bastante considerável", anunciou o Ministério Público.
Com a sua posição cada vez mais insustentável — as manifestações sucedem-se, exigindo a sua demissão; no sábado um milhão de pessoas saíram à rua, debaixo de chuva gelada (estavam zero graus em Seul) —, Park tentou uma fuga para a frente. O seu partido, o Saenuri — muitos deputados tinham anunciado que votariam a favor da destituição — pede agora contenção à oposição. Se Park quer sair, por que não encontrar a melhor forma de o fazer, em vez de fazer o país passar pelo processo traumático da destituição, pergunta o Saenuri.
Park falou no risco de se instalar um vazio de poder na Coreia do Sul, caso seja destituída. Isto porque o processo, uma vez aprovado pela Assembleia Nacional, seguiria para o Tribunal Constitucional e antes de passarem seis meses não haveria desfecho. Mas os analistas (Financial Times, por exemplo) notam que o vazio de poder vive-se agora, e por isso a decisão sobre o futuro de Park tem de ser tomada rapidamente. A gestão do governo é, neste país, uma função mais do Presidente do que do primeiro-ministro e a confiança na capacidade de decisão de Park desapareceu.
"Validei projectos porque acreditei sinceramente que eram para o bem comum. Nunca foi para o meu próprio enriquecimento", disse no mês passado, num dos dois pedidos de desculpa que fez para minimizar o escândalo e quando achava que podia distanciar as suas acções das de Choi. Esta terça-feira pôs nas mãos do Parlamento o seu futuro, esperando que este seja benevolente e lhe encontre uma saída suave. Pode ter sido tarde de mais.