Trump critica pedidos de recontagem mas diz que "milhões" votaram ilegalmente

Presidente eleito acusa Clinton de hipocrisia. Fora do Twitter, Donald Trump está a pensar no general David Petraeus para o cargo de secretário de Estado.

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Trump admite nomear o general David Petraeus secretário de Estado Drew Angerer/AFP

Se ainda havia dúvidas de que a campanha e as eleições para a Casa Branca em 2016 foram um momento extraordinário na História recente dos Estados Unidos, os últimos dias ajudaram a tornar tudo ainda mais surreal. Depois de a candidata dos Verdes, Jill Stein, ter pedido a recontagem dos votos no Wisconsin e de ter prometido fazer o mesmo na Pensilvânia e no Michigan, o Presidente eleito, Donald Trump, queixou-se ao mesmo tempo de estar a ser vítima de um golpe baixo e de ter ocorrido uma fraude de proporções épicas em todo o país.

À partida, a batalha de Jill Stein está tão condenada ao fracasso como uma súbita união de todos os norte-americanos à volta do Presidente Trump, mas a lei está do lado dela e a sua campanha para a recontagem de votos já angariou mais de seis milhões de dólares, para pagar as despesas do processo e a advogados, e para precaver uma possível contestação.

Apesar de os resultados do Wisconsin ainda não terem sido publicados oficialmente, Donald Trump tem mais 22 mil votos do que Hillary Clinton e venceu na Pensilvânia com mais 70 mil votos e no Michigan com mais dez mil votos – três estados que em 2008 e 2012 tinham sido ganhos por Barack Obama.

O processo de recontagem vai mesmo para a frente no Wisconsin, e até sexta-feira o mesmo pode acontecer nos outros dois estados. Para que o resultado das eleições pudesse provocar uma reviravolta e pôr Hillary Clinton na Casa Branca, seria necessário que as recontagens dessem a vitória à candidata nos três estados – ao todo estão em jogo 46 votos do Colégio Eleitoral, o que daria a Clinton 278, mais oito do que os necessários para ser eleita Presidente.

O principal argumento de Jill Stein e dos seus apoiantes é que a votação electrónica no Wisconsin foi manipulada por ataques informáticos, e o pedido de recontagem foi feito em seu nome, enquanto candidata presidencial pelos Verdes – a candidatura de Clinton não tomou a iniciativa neste processo.

Num texto publicado no site Medium, o principal conselheiro de Clinton, Marc Elias, escreveu que a campanha só decidiu participar na recontagem porque, como parte interessada, pretende garantir que o processo vai decorrer com normalidade – e até reconheceu que as hipóteses de Hillary Clinton vir a beneficiar da iniciativa de Jill Stein são quase nulas.

"Fazemos isto com a perfeita consciência de que o número de votos que separa Donald Trump de Hillary Clinton no estado mais renhido – o Michigan – excede em muito a maior margem de sempre numa recontagem", admitiu o responsável, acrescentando que a campanha de Clinton não encontrou indícios de qualquer tentativa de manipulação de votos.

Mais uma tweeterstorm

Apesar disso, Donald Trump não perdeu tempo e agarrou-se mais uma vez ao Twitter para disparar uma série de acusações à sua adversária, acusando-a de hipocrisia ao participar na recontagem depois de ter concedido a derrota – e depois de se ter mostrado indignada quando Trump disse, no final da campanha, que não sabia se iria aceitar os resultados.

Mas foi ainda mais longe – no meio de uma série de 13 mensagens no Twitter sobre o assunto, em que acusou os Verdes de quererem "encher os cofres" com o dinheiro angariado para a recontagem e o Partido Democrata de estar a dar o dito por não dito, Trump afirmou que houve "uma grave fraude eleitoral na Virginia, no New Hamphire e na Califórnia", e perguntou por que é que os jornalistas não estão a falar sobre isso.

A base para esta afirmação, segundo jornais como o Washington Post, o New York Times, o Miami Herald e o site Politifact, é nenhuma. Ou melhor, é um tweet de um auto-intitulado especialista em recontagem de votos, chamado Gregg Phillips, cuja acusação sem provas foi depois repetida no site InfoWars, onde florescem teorias da conspiração como uma segundo a qual ninguém morreu no massacre na escola primária de Sandy Hook, em 2012 – na escola foram mortas 27 pessoas, incluindo 20 crianças entre os seis e os sete anos de idade.

"Para além de ter vencido no Colégio Eleitoral de forma esmagadora, também venci o voto popular se retirarmos os milhões de pessoas que votaram ilegalmente", escreveu Donald Trump, fazendo eco das afirmações sem provas a partir de um tweet e do site InfoWars.

No meio de mais uma tempestade de tweets, o Presidente eleito dos Estados Unidos da América continua a conversar com vários candidatos a ocupar cargos importantes na sua futura Administração. Um dos nomes mais esperados é o da pessoa que vai liderar a Secretaria de Estado, responsável por pôr em prática as ideias da futura Administração sobre política externa.

Até há poucos dias, os mais fortes candidatos eram o antigo mayor de Nova Iorque Rudolph Giuliani (um homem que esteve sempre ao lado de Trump durante a campanha) e Mitt Romney (o candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano em 2012, e que este ano tentou fazer tudo para evitar que Trump fosse eleito). Mas esta segunda-feira entrou um nome de peso no processo de selecção: Donald Trump conversou com David Petraeus, um brilhante e respeitado general que caiu em desgraça em 2012 quando era director da CIA – durante uma relação extra-conjugal, Petraeus enviou informação confidencial à sua namorada, Paula Broadwell, e foi condenado em Abril de 2015 a dois anos de prisão com pena suspensa e a uma multa de cem mil dólares por retirar e manter em sua posse informação confidencial.

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