Mais de mil casas de rohingya destruídas na Birmânia

Imagens de satélite mostram rasto de destruição em várias aldeias habitadas pela minoria muçulmana. Governo acusa grupos “extremistas” e impede investigações independentes.

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Uma família rohingya fotografada junto aos escombros de um mercado incendiado, a 26 de Outubro Soe Zeya Tun / Reuters

Em apenas oito dias, quase mil casas foram destruídas numa região da Birmânia onde habitam os membros da minoria muçulmana rohingya, revelou a organização Human Rights Watch (HRW), que divulgou esta segunda-feira imagens obtidas por satélite naquela zona. O Governo birmanês nega qualquer responsabilidade pelos ataques, mas continua sem permitir o acesso de investigadores independentes ou jornalistas àquela região no oeste do país.

Nas imagens que datam de 18 de Novembro é possível ver dezenas de casas destruídas, restando apenas escombros aparentemente queimados. Através da comparação com o que era visível nos mesmos locais oito dias antes, verifica-se que os incêndios ocorreram durante aquela semana. Segundo a HRW, foram destruídas cerca de 820 casas durante esse período – a que se juntam 430 que foram incendiadas noutras aldeias.

“Os aparentes ataques incendiários contra cinco aldeias rohingya são matéria de grande preocupação e, por isso, o Governo birmanês deve investigar e acusar os seus responsáveis”, diz o director da HRW para a Ásia, Brad Adams.

O Governo birmanês diz que a extensão da destruição está a ser “exagerada” e nega que os incêndios sejam responsabilidade do Exército, antes apontando para grupos “terroristas” não especificados.

Desde o início de Outubro que o Exército birmanês lançou uma forte ofensiva em Rakhine, após uma série de ataques contra postos da guarda fronteiriça em que morreram nove polícias. A liderança militar culpou grupos extremistas rohingya, embora haja muito poucas provas quanto à existência de organizações deste cariz a operar em Rakhine.

A liberdade de circulação na região está fortemente restringida por causa da operação militar e o Governo impede a entrada de equipas de investigadores internacionais, membros de agências humanitárias e de correspondentes de meios de comunicação estrangeiros. Apenas foi permitida a entrada de uma delegação liderada por membros do Governo que integrava alguns observadores internacionais, mas o âmbito da investigação foi muito limitado, diz a HRW.

Dezenas de milhares em fuga

Calcula-se que dezenas de milhares de pessoas tenham fugido das suas casas na sequência dos ataques, contribuindo para um aprofundamento da crise humanitária que atinge os rohingya. O cenário lembra os confrontos de 2012, que obrigaram mais de 120 mil rohingya a fugirem de suas casas.

Membros de uma minoria muçulmana num país de maioria budista, os rohingya são uma das etnias mais perseguidas no planeta. Para fugir à insegurança e à pobreza que domina o seu quotidiano na Birmânia, milhares tentam fazer a perigosa travessia de barco para chegar à Malásia. As leis da nacionalidade em vigor na Birmânia são altamente discriminatórias – os rohingya não podem, por exemplo, movimentar-se de forma livre e grande parte dos trabalhos é-lhes negada.

As eleições do ano passado – as primeiras que abriram caminho à entrada de civis no Governo – foram recebidas com esperança de que a situação dos direitos humanos das minorias da Birmânia fosse melhorada. Porém, o país atravessa um momento em que o nacionalismo budista está a aumentar, encorajado pelo sector militar que pretende manter o poder sobre os destinos do país.

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