Campo de refugiados em ilha grega atacado com pedras e cocktails Molotov
A ilha de Quios, perto da Turquia, aloja cerca de 4200 refugiados num campo com capacidade para 1100.
Um grupo de atacantes não identificados – mas que ninguém tem muitas dúvidas que são ligados à extrema-direita – atacou o campo de refugiados de Souda, na ilha de Quios.
Testemunhas citadas pelo site Huffington Post disseram que um grupo de 50 a 60 membros do partido neonazi Aurora Dourada se dirigiram para o campo por volta da 1h, atirando pedras e projécteis em chamas.
O campo tem já condições muito precárias, com a capacidade para 1100 pessoas a ter sido já há muito ultrapassada, e conta actualmente com mais de 4200 ocupantes.
Algumas das pedras eram maiores do que bolas de futebol, e os cocktails Molotov destruíram várias tendas, incluindo uma onde estavam 50 pessoas.
“As pessoas estão muito assustadas, está a ser difícil convencê-las a voltar” ao campo, disse à emissora britânica BBC o porta-voz do Alto-Comissariado para os Refugiados (ACNUR) na Grécia, Roland Schönbauer. Vários refugiados tiveram de receber tratamento hospitalar, entre eles uma mulher grávida e um homem com uma fractura craniana provocada por uma pedra.
Tudo é mais díficil por causa das recentes chuvas. “Nem todos terão um sítio seco para passar a noite por causa da insegurança”, sublinhou Schönbauer, pedindo ainda à polícia para aumentar as patrulhas na área.
Uma parte deste grupo atacou ainda dois voluntários locais.
Tensão nas ilhas
O Governo anunciou entretanto planos para um segundo campo na ilha, contra a vontade das autoridades locais, que estão a pressionar para a transferência dos refugiados para a Grécia continental. Ilhas como Quios ou Lesbos, muito perto da Turquia, têm recebido o maior número de refugiados e queixam-se dos efeitos da presença dos refugiados na economia local, por exemplo na descida do turismo.
Longe dos números de chegadas do ano passado, as ilhas gregas continuam, no entanto, a receber refugiados em barcos vindos da costa turca. A média diária de chegadas a Quios é de seis refugiados por dia, mas a lentidão do processamento dos seus pedidos de asilo significa que muitos menos vão saindo, seja de regresso à Turquia (no âmbito do acordo com a União Europeia, caso o pedido de asilo seja recusado), seja para outros países europeus.
Nas ilhas gregas estão actualmente um total de 15.995 refugiados em campos com condições para menos de metade. Numa conversa recente com o PÚBLICO, o director da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central, John Dalhuisen, classificou a situação como uma “panela de pressão”.