“Temos quase 100 regras diferentes em todo o mundo que temos de seguir”

Patrick Robinson, director de Políticas Públicas da Airbnb, Europa e Médio Oriente e África diz que no futuro plataformas como esta farão parte do quotidiano. A grande mudança será quando a controvérsia acabar

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Patrick Robinson, director de Políticas Públicas da Airbnb, diz que resposta da hotelaria à plataforma tem sido "complexa" Nuno Ferreira Santos
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Patrick Robinson, director de Políticas Públicas da Airbnb Nuno Ferreira Santos

De passagem por Lisboa onde participou na Web Summit, Patrick Robinson conversou com o PÚBLICO sobre as negociações constantes que a plataforma tem com governantes e autoridades. Na sua equipa, são cerca de sete pessoas a reunir com intervenientes e a tentar chegar a consensos. O responsável trabalha há três anos na plataforma que põe em contacto proprietários e turistas para arrendamento de curta duração e diz que a economia de partilha veio para ficar. No futuro, todos os conceitos que agora causam controvérsia farão parte do quotidiano.

No site, a Airbnb descreve o seu departamento de políticas públicas como uma equipa que trabalha “arduamente para educar legisladores no mundo inteiro sobre o incrível impacto positivo” da economia de partilha. Tem sido uma tarefa árdua “educar” os governantes?
A educação não é um processo com um único interlocutor, por isso, prefiro falar sobre diálogo. É também importante que as cidades e os governos nos eduquem sobre as coisas que os preocupam e os problemas que querem resolver. E para nós é importante encontrar soluções que funcionam para toda a gente. Não se trata de educar de forma unilateral, há  muito diálogo, discussão e debate e em todo o lado tentamos chegar a soluções que funcionam e incluam esta nova forma de fazer turismo e de pessoas normais conseguirem obter um rendimento extra, como acontece em Portugal.

Nesses diálogos têm de explicar muitas vezes o que é que fazem e qual é o modelo de negócio?
Esta é uma nova economia, levanta novos desafios que, até agora, não existiam. A ideia de ter pessoas reais envolvidas numa actividade que estava limitada a hotéis, empresas, operadores comerciais, é invulgar. Em alguns locais, os governos foram muito abertos a receber esta nova economia de partilha.

Por exemplo?
Na verdade, Portugal é um dos exemplos. Através do diálogo foi possível simplificar a regulação e trazer as pessoas para este modelo. Também é o caso de Londres e Amesterdão. Tal como o da Dinamarca. Há muitos e bons exemplos de governos que vêm possibilidades de inovação, percebem que ter um rendimento extra dá às famílias mais resiliência económica e que em áreas que normalmente não recebiam turistas o impacto é positivo. Haverá sempre governos onde o nosso diálogo será mais difícil…

Como a  Alemanha?
Hamburgo foi uma das primeiras cidades a falar connosco e a encontrar uma solução que permitisse às pessoas alugar as suas casas. Em Berlim, o debate tem sido mais duro e difícil, mas acredito que estamos a caminho de chegar a um entendimento a longo prazo.

Significa que têm de adaptar constantemente o vosso modelo de negócio a cada cidade.
Em cada local há desafios diferentes. Em Lisboa há um aceso debate sobre o aumento dos preços da habitação, em Barcelona a discussão tem sido sobre o excesso de turismo e o seu impacto sobre  os residentes. São questões diferentes, que requerem soluções diferentes. Quando os governos vêm ter connosco com ideias ou novas regras temos uma conversa sobre como se podem adaptar às pessoas. Muitas vezes, surgem regras que são fáceis para as empresas seguirem, mas não para os cidadãos comuns.

A maioria dos utilizadores tem apenas uma casa.
Sim é uma percentagem muito elevada. Em Portugal 72% dos anfitriões têm apenas um apartamento e pode ser aquele onde vivem. São o tipo de pessoas que não estão habituadas a preencher dezenas de formulários, ter de ter um contabilista para tratar das contas ou estar toda uma tarde numa fila na câmara municipal. Mas aceitamos que há regras diferentes em sítios diferentes, por isso dizemos aos utilizadores que têm de perceber as regras. Neste momento penso que temos quase 100 regras diferentes em todo o mundo que temos de seguir. É complexo.

Esta é uma “guerra” entre novas necessidades dos consumidores e legislação ultrapassada?
Não colocaria as coisas dessa forma. Penso que é uma forma de evolução natural da regulação.  O esbater da linha que separa os indivíduos das empresas é algo que vemos acontecer em todo o lado. A resposta do sector tradicional da hotelaria a este modelo de negócio tem sido complexa, em alguns locais trabalharam connosco e foram incluídos no debate, noutros opuseram-se. Há espaço para todos. O turismo está a crescer e não vemos qualquer impacto nas receitas dos hotéis ou nas taxas de ocupação, mesmo em cidades onde há uma comunidade de Airbnb muito grande. Haverá sempre pessoas que querem ficar num hotel, e pessoas que preferem ir para o Airbnb.

Há o outro lado da história. O do aumento das rendas e de senhorios que preferem passar a arrendar a turistas.
Sim, não é algo que queremos ver. Divulgámos uma carta de princípios em Março do ano passado onde se lê que nos locais onde os dados mostrarem que há impacto, trabalharemos para encontrar forma de o minimizar. Em Nova Iorque e em San Francisco adoptámos a regra de permitir apenas uma casa por utilizador, uma resposta muito específica para estas cidades. Estamos em conversações em Paris e Amesterdão sobre como garantimos que aluguer seja feito de forma responsável para que não haja impacto no preço das rendas. Um anfitrião aqui em Lisboa ganha cerca de 530 euros por mês e penso que é menos do que conseguiria no mercado de longa duração. A interacção entre as duas realidades é muito complicada: se optarmos pela curta duração teremos muito mais custos, com a limpeza do apartamento, entre outros.

Em Lisboa, os vossos dados mostram a ligação entre o aluguer através da plataforma e o aumento das rendas?
Até agora não. Mas nas cidades, mesmo em Berlim, há muita coisa a acontecer além dos alugueres de curta duração. Lisboa está a recuperar de uma situação económica difícil, está em curso muita reabilitação de edifícios, imóveis que estavam vazios e que estão a ter usos produtivos, há mais pessoas a querer viver na cidade e a procurar apartamentos. Sim, as rendas podem estar a subir, mas não é apenas por causa de plataformas como a Airbnb. Os dados em Londres, Berlim, San Francisco, Portland, mostram isso. A conclusão é a mesma: há muitos factores que contribuem para o aumento das rendas.

Como é que vê o negócio da Airbnb nos próximos dez anos? Como será?
Temos registado um crescimento muito rápido nos últimos anos e é expectável que, à medida que o turismo aumente, a plataforma também. A grande mudança será quando todos chegarmos a um grau de consenso sobre a como regulamos esta actividade e como a controlamos. Isso significa que não vamos ter mais estas discussões. Daqui a dez anos, o aluguer de curta duração, conceitos de home sharing e como o da Airbnb farão todos parte do quotidiano. Acredito que não haverá tanta controvérsia e será aceite como algo que faz parte do dia a dia.

A economia de partilha vai ser “a” forma como vamos gastar dinheiro no futuro e envolver todas os aspectos da nossa vida?
É difícil de prever, mas penso que no futuro não vamos falar da economia de partilha, mas apenas da economia. Quando as pessoas vão de férias, vão apenas procurar alojamento ou formas de deslocação que podem ir desde um autocarro, à Uber, a um drone voador.

No fundo, queremos ter mais escolhas à nossa disposição.
Sim, é um dos grandes benefícios destes modelos de negócio. É a possibilidade de escolha que oferecem aos consumidores. Se eu quero ter, por exemplo, um berbequim posso comprá-lo. Mas se apenas preciso dele para uma tarefa esporádica haverá uma forma de o poder ter. Vivo em Londres há 18 anos e sou membro de um clube de partilha de carros. Tinha um automóvel e percebi que não precisava. Por isso agora pago por um quando preciso.

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