China e Rússia à espera de negociar com Trump

Os adversários geopolíticos olham com atenção redobrada para os passos que se seguem do próximo Presidente norte-americano.

Foto
Putin vê com bons olhos a chegada de Trump à Casa Branca Reuters/SERGEI KARPUKHIN

A China foi um dos alvos favoritos de Donald Trump durante toda a sua campanha. Acusa-a de estar embrenhada numa “guerra económica” com os EUA. Mas em Pequim a vitória do republicano foi bem acolhida e vista até como uma possível vitória geopolítica. Em Moscovo também se aposta numa nova era de relações, com impacto imediato na guerra da Síria.

Entre as promessas de Trump relativamente à China está a adopção de uma taxa de 45% sobre os produtos chineses importados pelos EUA. Mas fora da esfera económica pouco mais se sabe sobre as posições do próximo Presidente norte-americano, algo que é encarado de forma positiva pela liderança chinesa. Ao contrário de Hillary Clinton, Trump não deverá, por exemplo, exercer grande pressão sobre a China para respeitar os direitos humanos ou para conter as suas pretensões territoriais sobre o Mar do Sul.

Trump deixou alguns dos aliados de longa data dos EUA na Ásia em sobressalto com a sugestão de que países como o Japão ou a Coreia do Sul deveriam ser responsáveis pela sua própria defesa. A desmilitarização japonesa e a protecção da Coreia do Sul têm sido pilares da política externa norte-americana. “A confiança da China irá regressar e poucos [países] na região terão confiança quanto à capacidade de Washington em fornecer protecção para a hegemonia chinesa nascente”, escreve a Foreign Policy.

O Presidente chinês, Xi Jinping, disse esta quarta-feira que deseja trabalhar com Donald Trump para “defender os princípios de não-conflito, não-confronto, respeito mútuo e cooperação vencedora”. Pequim espera conseguir progressos com Trump que não conseguiria com Hillary, dizem os analistas.

“Trump – mesmo sendo ‘anti-China, anti-China, anti-China’ – falou sempre em negócios. Este é o gatilho e os chineses ficariam bastante felizes em fazer um acordo com Trump, se estivesse em cima da mesa”, dizia recentemente ao Guardian o professor de Harvard Roderick MacFarquhar.

Moscovo no horizonte

Um dos factos da campanha eleitoral norte-americana foram os elogios trocados entre Trump e o Presidente russo, Vladimir Putin, que chegou a ser acusado de ter tentado interferir directamente nas eleições. Trump elogiou a liderança forte de Putin – que comparou à fraqueza de Barack Obama – e o Presidente russo definiu o magnata como “brilhante”, embora o termo que tenha usado possa também ser entendido como “extravagante”.

A vitória de Trump foi recebida literalmente com aplausos no Parlamento russo. Putin enviou uma mensagem a felicitá-lo pela eleição e manifestou "esperança em trabalhar em conjunto para retirar as relações russo-americanas do seu estado de crise". Contra a tendência global, a bolsa russa abriu em alta esta quarta-feira.

Trump não tem escondido que favorece uma aproximação à Rússia, numa altura em que as relações entre os dois países atingiram um nível gelado. Os conflitos na Síria e na Ucrânia são os temas de maior divergência e Trump tem planos para ambos. Sobre a Ucrânia o Presidente eleito desvalorizou, por exemplo, a anexação da Crimeia pela Rússia. Quando questionado sobre o assunto, Trump respondeu: “Ok, ele [Putin] está lá de certa forma.” Trump também pôs em causa o compromisso de continuar a enviar tropas norte-americanas ao abrigo da NATO para os países da Europa do Leste, que denunciam a concentração de militares russos perto das suas fronteiras.

Na Síria, os efeitos podem ser imediatos. Vários analistas prevêem que, com Trump, os EUA vão abandonar o apoio dado aos rebeldes moderados que combatem as forças do Presidente, Bashar al-Assad, e coordenar de forma mais próxima os ataques com a Força Aérea russa, concentrados no autoproclamado Estado Islâmico.

Sugerir correcção
Comentar