Turquia confirma prisão de nove jornalistas do principal diário da oposição

Polícia turca deteve mais nove responsáveis do partido pró-curdo HDP, cujos líderes foram presos na véspera.

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Murad Sezer/Reuters

As contas dos últimos meses mostram que o regime de Recep Erdogan, Presidente da Turquia, tem feito cerco à imprensa no país. Nos últimos meses foram encerrados 170 meios de comunicação social e estão detidos mais de 125 jornalistas. Este sábado, um tribunal de Istambul decidiu manter na prisão, até ao julgamento, de nove jornalistas do Cumhuriyet, um dos poucos jornais anti-Erdogan que ainda resiste. 

Os jornalistas, entre eles o actual director Murat Sabuncu, o editorialistra Kadri Gursel e o cartoonista Musa Kart, tinham sido detidos na segunda-feira, por suspeita de serem apoiantes do imã Fethullah Gülen, que Erdogan acusa de ser mentor do golpe de Estado falhado de Julho, e de ligações ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha armada curda. Outros quatro jornalistas foram libertados, mas dois deles apenas por razões de saúde, tendo-lhes sido aplicadas medidas de coação. 

A detenção de jornalistas do Cumhuriyet é mais uma machadada na liberdade de imprensa, sobretudo num dos jornais que ainda mantinha alguma oposição ao regime. O Cumhuriyet é descrito como o jornal de Ataturk, o pai da Turquia, e "durante quase um século representou os valores fundadores e seculares da Turquia moderna", descrevia esta semana Alev Scott, autor do livro Turkish Awakening, no Financial Times. Desde Julho, foram detidos mais de 200 jornalistas, dos quais 134 continuam detidos, o que levou a organização Reportéres Sem Fronteiras a incluir Erdogan na lista de predadores da liberdade de imprensa. 

A polícia turca deteve também neste sábado, na província de Adana (Sudeste) nove dirigentes Partido Democrático do Povo (HDP), entre eles responsáveis das secções provinciais e distritais, numa operação efectuada 24 horas depois da detenção dos dois co-presidentes e de 13 deputados do partido. O HDP é a terceira maior força no Parlamento turco, com 59 deputados em 550, mas sobre ele Ancara volta agora a lançar suspeitas de ligação ao PKK, que nos últimos meses, aproveitando a instabilidade política, voltou a intensificar as suas acções, desencadeando uma dura resposta do Exército turco nas regiões de maioria curda, no Sul do país. 

Em reacção a estas detenções, que geraram um novo coro de protestos dos aliados europeus, activistas curdos organizaram sexta-feira uma manifestação em frente à embaixada da Turquia em Berlim. 

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