Um livro sobre Portugal e um novo Viajante
O chef da Taberna do Mercado, em Londres, está a preparar um livro com receitas portuguesas.
Nuno Mendes acredita que 2017 será um ano “muito positivo para a divulgação da cozinha portuguesa” em Londres.
O sucesso da Taberna do Mercado tem a ver com o facto de já ser um nome conhecido ou há espaço para outros portugueses lançarem projectos em Londres?
Ter um nome conhecido ajuda. Se um chef que nunca trabalhou em Londres chegasse aqui de pára-quedas a dizer ‘vamos fazer cozinha portuguesa’ se calhar era mais difícil. Já estou aqui há 11 anos e vou percebendo como as coisas funcionam, o que os clientes procuram.
Quando se abre um projecto novo tem que se tentar não comprometer nada mas ao mesmo tempo ir ao encontro do que as pessoas querem. Eu podia ser muito mais agressivo na escolha de pratos mas há pratos muito pesados que se calhar não iam pegar. O trabalho foi encontrar coisas que fizessem sentido.
Quer dizer que a porta está aberta para outros avançarem?
A cozinha portuguesa já existe aqui, já é reconhecida em Londres, já há uma aceitação e mais chefs portugueses podem vir para cá e começar a fazer mais projectos.
Está a preparar um livro sobre Portugal. O que vai ser?
Tenho um primeiro livro, que vai sair agora, com receitas do Chiltern Firehouse. O segundo, que sairá talvez em Março, terá uma identidade portuguesa bastante forte, tiragem mundial e tradução em várias línguas. Não é um livro sobre a Taberna, embora como é lógico passe por lá, mas passa também por Lisboa, onde nasci e vivi até aos 19 anos e de onde tenho muitas memórias. Foi em Lisboa que aprendi a comer e a apreciar o nosso marisco, os nossos ingredientes e foi isso que levei comigo.
E planos para reabrir o Viajante?
Tenho projecto para o refazer, mas tem que evoluir e marcar uma evolução e adaptação à minha vida agora. Gostaria de o reabrir na Primavera. Acho que o próximo ano pode ser muito positivo para a divulgação da cozinha portuguesa aqui.
O Viajante passará por aí?
Sim, agora já pode. A Taberna ajudou-me a criar os contactos com fornecedores, já posso fazer uma cozinha muito mais portuguesa. Mas nunca será só 100% português. Adorava fazer o Viajante na costa, ter um espaço em Portugal, no campo mas ao pé do mar, onde tivesse oportunidade de usar mesmo só produto português e fazer uma cozinha do local. Mas isso é um sonho, neste momento seria quase impossível.
Sente o peso da responsabilidade de divulgar a cozinha portuguesa de forma diferente?
Tento não ver as coisas assim. Gosto de fazer os meus projectos, divertir-me com eles e estou bastante empenhado em dar visibilidade às ideias portuguesas. Acho que a Taberna é o começo do que se pode fazer.
Falta-lhe alguma coisa?
Tempo.
E da parte de Portugal?
Se me conseguissem ajudar um bocadinho mais seria porreiro.
De que forma?
Tenho três ou quatro trabalhos full time, não tenho tempo para fazer muita coisa que gostava. Estamos no momento ideal para abrir um espaço de retalho, a mostrar produto português, com uma presença online. Gostava de participar nesses projectos e dar-lhes visibilidade. Estamos num momento crítico: ao mesmo tempo que está a haver um reconhecimento da marca Portugal, muita da tradição artesanal está a morrer. Temos que lutar para a resgatar.