A Nave Divina e o Palácio Celeste vão juntar-se no espaço
É a missão tripulada mais longa da China no espaço: durante 30 dias, dois astronautas vão testar tecnologias e fazer experiências de medicina, biologia e física. A China quer ser uma potência espacial e di-lo claramente.
A notícia imediata é esta: na madrugada desta segunda-feira, a China enviou dois astronautas para uma pequena estação espacial que tem em órbita da Terra desde meados de Setembro, para aquela que será a sua missão mais longa no espaço: 30 dias. Já a notícia a longo prazo é a de que a China pretende começar a construir uma estação espacial maior e permanente em 2018, para a ter pronta por volta de 2022.
Os astronautas Jing Haipeng e Chen Dong partiram a bordo da cápsula espacial Shenzhou-11, instalada no topo de um foguetão Longa Marcha, que descolou da base de Jiuquan, no deserto de Gobi, província de Gansu. A viagem demora dois dias até à estação orbital, a Tiangong-2, onde a cápsula Shenzhou-11 irá então atracar-se. Já agora: em mandarim, Shenzhou-11 significa Nave Divina-11 e Tiangong-2 é Palácio Celeste-2.
Não é a primeira vez que a China envia para o espaço astronautas (ou taiconautas, como os designa). Essa estreia foi em 2003. E em 2011 lançou a sua primeira estação espacial, a Tiangong-1, que mais tarde, em 2012, recebeu a primeira missão tripulada: viajando até lá na cápsula Shenzhou-9, seguiram três astronautas chineses. No ano seguinte, na Shenzhou-10, outros três astronautas visitaram a Tiangong-1 e passaram 15 dias em órbita da Terra – o recorde, até agora, de permanência no espaço da China. Desde 2013 que a China não enviava tripulantes para o espaço.
A Tiangong-2 veio substituir a primeira estação chinesa, que foi desactivada no início deste ano (perdeu-se-lhe entretanto o controlo e no próximo ano deverá reentrar na atmosfera terrestre e arder). Quanto à nova estação, tem uma massa de 8000 quilos, pouco mais de nove metros de comprimento por 2,8 de diâmetro e os seus painéis atinge 17 metros de envergadura. A cerca de 393 quilómetros de altitude, é composta por dois módulos: uma cabine para as experiências científicas e que serve igualmente de residência aos astronautas; e um espaço de armazenamento, com painéis solares, motores e baterias, segundo a agência de notícias AFP.
Para Jing Haipeng, o comandante da missão, este é já o terceiro voo espacial e será no seu decurso que fará 50 anos. Ele e o companheiro de aventura espacial terão duas horas livres por dia, que podem ocupar a ver filmes, ouvir música ou a falar em videoconferência cá para baixo. Poderão ainda exercitar-se numa passadeira ou numa bicicleta. No resto do tempo, dedicar-se-ão às experiências científicas num ambiente de quase ausência de gravidade, em áreas que vão da medicina e da biologia até à física. Irão testar os efeitos na saúde da microgravidade e cultivar amostras de arroz, por exemplo. Além da reparação de equipamentos, vão fazer experiências concebidas por estudantes de escolas secundárias de Hong Kong, adianta a agência Reuters, incluindo uma com bichos-da-seda. As tempestades solares e os relógios atómicos também serão alvo de investigação.
A China não esconde as suas ambições no espaço. Está a investir fortemente nesta área e em áreas relacionadas, como a astronomia (e, já agora, na ciência em geral, de que a genética é um dos exemplos), para tentar alcançar as outras potências espaciais, os Estados Unidos, a Europa e a Rússia. Para tal, vai usar a Tiangong-2 para testar tecnologias que serão usadas na futura estação espacial chinesa. Tenciona começar a construi-la em 2018, enviando então para o espaço o seu módulo central e depois irá recebendo mais módulos, até estar completa por volta de 2022.
Por coincidência, esse será também o ano em que a actual Estação Espacial Internacional (ISS), que envolve os Estados Unidos, a Rússia, o Japão, o Canadá e a Europa, deverá deixar de funcionar. Esta casa da humanidade no espaço começou a ser construída em 1998, ficou pronta em 2011 e agora é sempre ocupada por seis astronautas. A outra estação espacial muito famosa, a Mir, da antiga União Soviética, andou às voltas à Terra entre 1986 e 2001, quando se desintegrou ao reentrar na atmosfera terrestre, sobre o Pacífico.
A China quer seguir o caminho espacial, como fica claro na mensagem de felicitações que o Presidente Xi Jinping dirigiu à equipa desta missão, dizendo que ela contribuirá para que “os passos realizados pelos chineses na exploração do espaço sejam maiores e vão mais longe” e que “farão da China uma potência espacial”.
A Lua também faz parte desses planos, ou não tivesse já enviado até à sua superfície uma nave, em Dezembro de 2013, e de onde saiu um robô, o Coelho de Jade (que algum tempo depois teve um problema mecânico). Tal como Marte também está na mira da China, ou não tivesse já dito que quer pôr uma sonda em órbita do planeta em 2020 e, mais tarde, levar um robô até ao solo.