Jack Bauer à presidência

Designated Survivor é a nova série de Kiefer Sutherland. É uma das maiores estrelas da temporada, mas em Portugal já não está na televisão convencional - a série da ABC está no Netflix, todas as semanas.

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Quem estava a ver televisão no pós-11 de Setembro digeriu as contradições heróicas e os abusos de 24 e do seu agente Jack Bauer. Durante uma década, Kiefer Sutherland foi Jack Bauer e agora é o Designated Survivor. É a sua mais recente aventura como protagonista, que usa um novo expediente de exibição e que olha para o governo americano com ar de catástrofe sem ser preciso falar em Donald Trump.

O designated survivor é o nome real dado a um membro do Governo dos EUA que, anualmente, fica de fora do discurso do Estado da União no Capitólio para que, caso algo aconteça, a continuidade do governo esteja assegurada. Na temporada televisiva de 2016, o Secretário de Estado da Habitação foi o contemplado, de casaco de capuz e os seus óculos de massa. Uma espécie, literal, de tótó poderoso de serviço, no ano em que o terrorismo volta a atacar a América. E claro, ele é Kiefer Sutherland, agora um anti-Jack Bauer.

Um tímido burocrata atirado para o poder na pior altura possível. A série, sendo da ABC e podendo ter seguido o caminho habitual na migração para Portugal, o da compra de direitos de exibição por um canal temático por subscrição ou por um dos canais generalistas, está porém no Netflix. Semanalmente, num anti-binge watching, às quartas-feiras lá aparece um novo episódio.

A série ainda vai no adro (o terceiro episódio é o mais recente disponível) no operador por streaming e está a passar em simultâneo nos EUA e em Portugal. Terá 22 episódios e pode ser candidata ao lugar de nova série acima da média para o grande público – aquelas que não têm personagens infinitas, nem apelam a um nicho que aguenta vísceras ou cujo mundo autoral não fica encerrado num punhado de episódios muito bem comissariados.

A sua política não é tão maquiavélica quanto a de House of Cards, nem tão sarcástica quanto a de Veep. E não é tão dolorosa, mesmo com o Capitólio e a estrutura governamental em ruínas, quanto a política real que por estes dias habita a América. Como disse Sutherland na apresentação da série à imprensa, na Primavera, normalmente a escrita preocupa-se com “'quão longe podemos ir?’. Esta pode ser a única altura na minha vida em que a realidade é que pede para ser contida”.

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