Duas mortes em Aguiar da Beira e aldeias “cercadas” pela GNR
Hospital de Tondela Viseu diz que a suposta terceira vítima mortal, uma mulher que foi baleada, estava ainda no bloco operatório, pelas 21h15, e relegou para quarta de manhã mais informações.
As aldeias de Candal, Coelheira e Póvoa das Leiras, em S. Pedro do Sul, ficaram isoladas nesta terça-feira a partir do momento em que centenas de militares da GNR e elementos da Polícia Judiciária montaram um cerco para apanhar um dos suspeitos de ter baleado durante a manhã dois militares da GNR, em Aguiar da Beira, um dos quais morreu. Os habitantes foram aconselhados a ficar nas suas casas e os que queriam regressar às aldeias só com escolta das autoridades.
Ao início da noite, foi dada como certa a morte de uma mulher que havia sido baleada, informação inicialmente avançada pelo Jornal de Notícias, e confirmada por uma fonte do hospital, ao PÚBLICO, onde a referida vítima dera entrada. Porém, horas depois, o gabinete de Relações Públicas do Centro Hospitalar Tondela Viseu fez saber que "até às 21h15 não estava confirmada a morte da senhora e estavam a lutar por ela" sendo que após essa hora não haveria mais informações.
A monte estava o homem envolvido num confronto que ocorreu durante a madrugada, em Aguiar da Beira, a cerca de 100 quilómetros de distância de S. Pedro do Sul, e que é apontado como suspeito de estar envolvido nas mortes do militar da GNR e de um homem, que seria encontrado já de manhã na Estrada Nacional 229, que liga Aguiar da Beira e Viseu.
Em S. Pedro do Sul (Viseu), onde foi encontrada ao início da tarde a carrinha que utilizou na fuga, o suspeito baleou nas pernas um terceiro militar da GNR.
De imediato as forças policiais colocaram-se nas entradas e saídas das aldeias e em pontos estratégicos onde o suspeito foi avistado. Ao início da noite, o dispositivo no terreno foi reforçado com unidades de intervenção.
Em Candal e Póvoa das Leiras, os moradores foram avisados pela GNR, com a ajuda dos presidentes da junta de freguesia e da câmara, a tomarem todas as precauções, uma vez que havia o receio do suspeito fazer reféns. Pediram para que não abrissem a porta a estranhos, trancassem as janelas e avisassem de imediato a GNR em caso de actividades suspeitas.
Alguns habitantes confirmaram que viram um homem a fugir e outros até se mostraram disponíveis para ajudar a GNR nas buscas, uma vez que conhecem o terreno. Trata-se de uma vasta área de floresta que foi consumida pelos fogos neste Verão.
Muitas dúvidas
O alerta para a presença do indivíduo em S. Pedro do Sul aconteceu quando uma patrulha da GNR, logo ao início da tarde, mandou parar uma carrinha que se suspeitava ter sido utilizada na fuga de Aguiar da Beira.
A viatura não parou e acabaram por ser disparados tiros que, segundo fonte da GNR, foram “apenas de aviso”. A patrulha colocou-se no encalço do veículo, mas acabou por perdê-lo. Mais tarde, encontrou-o abandonado num local ermo da serra com um revólver no interior que pertencia aos militares de Aguiar da Beira. O fugitivo, nesta altura, já estava identificado. Trata-se de um homem de Arouca e é considerado perigoso. Foi também nesta altura que efectivos dos comandos de Viseu, Aveiro e Guarda montaram a caça ao homem que iniciou em Aguiar da Beira uma fuga às autoridades e que deixou pelo caminho dois cadáveres e três feridos graves.
Os confrontos começaram “entre as cinco e as seis horas da manhã” de terça-feira, segundo o porta-voz do Comando Territorial da GNR da Guarda, Pedro Gonçalves, quando dois militares da GNR se encontravam numa rotineira acção de patrulha perto da localidade de Cavaca, em Aguiar da Beira, onde está a ser construído um hotel.
Sem confirmar que os militares estivessem a tentar aplacar qualquer assalto à obra (como foi aventado, até por se tratar de uma zona isolada, sem casas habitadas e onde os assaltos são frequentes), a GNR adiantou apenas que os dois agentes terão esbarrado nalguma “situação inopinada” no decurso da qual foram alvejados, sem qualquer possibilidade de reacção.
Um dos militares, António Ferreira, de 41 anos, foi encontrado baleado no local. O seu estado, inicialmente considerado muito grave, apresentava ao fim da tarde uma evolução aparentemente favorável.
Já a vítima mortal, um militar de 29 anos, acabou por ser descoberto no interior da bagageira da viatura da GNR, que tinha sido abandonada na fuga, a cerca de cinco quilómetros do local dos primeiros disparos.
Foi também nesta zona, junta à Estrada Nacional 229, que a polícia encontrou ainda um casal de civis com ferimentos de bala. Com idades “entre os 40 e os 50 anos”, o homem estava já sem vida e a mulher foi transportada para o Hospital de Viseu.
As autoridades não tinham nenhuma informação sobre a identidade destas duas pessoas. E permaneciam as dúvidas sobre o número de suspeitos envolvidos no crime.
Pedro Gonçalves não hesitou em qualificar o que se passou de madrugada em Aguiar da Beira como “uma situação macabra”. Nenhum dos militares terá tido tempo de alertar o posto territorial de Aguiar da Beira. “Não tiveram tempo para pedir ajuda. O comandante do posto é que estranhou que a viatura da patrulha estivesse parada há tanto tempo, num local ermo”, adiantou. Ao que o PÚBLICO apurou, o único contacto dos militares com o posto territorial tinha sido para pedir informações sobre a matrícula de um veículo suspeito que ali tinham avistado. Com N.F.
Notícia corrigida e substituída às 23h12: a primeira versão desta notícia afirmava que havia uma terceira vítima mortal, que teria sucumbido no hospital ao início da noite, mas o hospital veio mais tarde afirmar que a mulher internada continuava no bloco operatório, como se refere no texto acima