Perdão fiscal? PCP e PEV dizem que não é e apoiam Governo
Os socialistas falaram primeiro para dizer que se trata de um programa de regularização de dívidas. PCP concorda, mas quer tratamento “diferenciado” para grandes empresas.
Aparentava ser mais um foco de tensão, mas não passou de pólvora seca, pelo menos para o PCP e o PEV. O programa de regularização de dívidas é defendido pelo PS, PCP e PEV, que o vêem como uma medida para ajudar “os pequenos contribuintes”. O BE, por sua vez, mantém a posição de Catarina Martins.
Já os outros três partidos que sustentam o Governo, PS, PCP e PEV, alinharam na mesma bitola para dizer que o programa que foi apresentado pelo Governo “não é um perdão fiscal”, nem uma “amnistia fiscal”, mas sim “um programa de regularização de dívidas” para ajudar famílias e empresas endividadas e por isso colocam-se do mesmo lado da barricada.
O PS foi o primeiro a falar e acabou por marcar o ritmo das restantes declarações à esquerda. Só o BE nada disse, depois de Catarina Martins ter explicado a posição do partido em entrevista à SIC esta quinta-feira à noite, deixando claro que o BE nunca foi favorável a “perdões fiscais” como o anunciado pelo executivo e não mudou de ideias. O socialista João Galamba defendeu que se trata “de uma resposta do Governo ao endividamento das famílias e empresas fruto da crise” e que com esta iniciativa permitem “criar um plano de de regularização de dívida até onze anos que permite às empresas e famílias que não tem condições para pagar já”, disse.
“Não há qualquer perdão fiscal porque a dívida e impostos são integralmente pagos. O que este programa faz é criar condições para que esse pagamento possa ser feito”, insistiu. O deputado repetiu ainda a diferença para o programa lançado em 2013 em que “havia amnistia fiscal para crimes ou fraudes fiscais". Agora, "quem tiver cometido crimes e fraudes não é abrangido”.
Justificação bastante para o PCP, que referiu logo a abrir que “o que o Governo fez foi um programa extraordinário que não prevê perdão de capital. Toda a dívida deve ser paga integralmente, prevendo o não pagamento de juros e coimas”. “O programa poderá ajudar os pequenos contribuintes”, reforçou o deputado Paulo Sá.
Mas se o partido até concorda com a medida, refere que não teve conhecimento dela e que, no entender do PCP “tem de haver um programa diferenciado” para as “grandes empresas e grandes grupos económicos.
O mesmo defende o PEV: “Não estamos a falar de um perdão de dívida nem do ponto de vista técnico nem substancial”, defendeu o deputado José Luís Ferreira.
Galp não conta
A oposição lembrou logo ontem que esta medida poderia abranger a Galp e insistiu na falta de condições do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, de decidir sobre esta matéria uma vez que aceitou convites da petrolífera para assistir a jogos do Euro. Para o PS essa é uma questão que não se coloca tendo em conta que o programa não inclui os pagamentos de dívidas da contribuição extraordinária de energia que a empresa contesta em tribunal. Contudo, caso a empresa tenha outras dívidas fiscais, pode regularizá-las. “As leis são gerais e abstractas”, defendeu João Galamba, dizendo que não seria possível excluir um contribuinte de uma lei: “Não se fazem leis ad hominem”.
O deputado do PCP também preferiu referir-se apenas ao facto de a contribuição extraordinária não ser abrangida por esta decisão: “A dívida da Galp não será considerada. Está fora desta medida. A Galp terá de pagar as dívidas que tem”, disse.
João Galamba admitiu ainda que a medida poderá ter algum impacto na execução orçamental deste ano, dependendo da adesão de famílias e empresas, mas que “não é esse o objectivo”, tanto que, referiu, não se trata de um pagamento à pronto, mas faseado que pode ir até onze anos.