"Os marroquinos sabem que o poder absoluto está nas mãos do rei"
Em Marrocos, diz o professor de Ciência Política Abdeslam Maghraoui, tudo o que foi feito sob a aparência de reformas não passa de um processo de "actualização do autoritarismo".
Abdeslam Maghraoui é especialista em Magrebe e professor na Universidade Duke, em Durham, Estados Unidos.
Estas eleições não parecem ter mobilizado os eleitores. É possível combater a apatia quando o rei mantém o poder final em tudo o que é importante?
A apatia política continua a ser um problema enorme na política marroquina e no processo eleitoral em particular. Milhões de eleitores não se dão ao trabalho de votar. Os marroquinos não se deixam enganar, sabem que o poder absoluto e final está nas mãos do rei.
O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (PJD, islamista, no poder) diz temer arranjos eleitorais e fraude. Estas denúncias baseiam-se em provas?
Em Marrocos não há necessidade de uma fraude descarada para desacreditar as eleições. O Ministério do Interior controla completamente o processo e este Ministério é considerado do domínio da soberania real. Não fazemos ideia do que estará a ser cozinhado atrás da cortina – e não há nenhum observador local ou internacional que tenha como sabê-lo.
Fala-se de um ressurgimento do autoritarismo nos últimos anos. Faz sentido essa ideia?
A política marroquina nunca se tornou democrática, antes de sofrer um desvio autoritário. Eleições, reforma das instituições, mudança das elites e emendas constitucionais, tudo isto sempre foi e continua a ser parte de uma “actualização do autoritarismo”. Em resumo, Marrocos procura manter o controlo autoritário através de mecanismos renovados.