Enviado da ONU oferece-se para ir a Alepo escoltar saída de combatentes
O objectivo é tentar travar os “cruéis e constantes” bombardeamentos russos. Moscovo diz gostar da ideia.
O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan De Mistura, ofereceu-se para ir a Alepo escoltar a saída de cerca de mil combatentes extremistas que estão a lutar ao lado das forças que resistem aos bombardeamentos russos e ao cerco do Presidente Bashar Al-Assad. O objectivo é tentar travar os “cruéis e constantes” bombardeamentos russos, que podem “destruir até ao Natal” aquela que foi a maior cidade da Síria, alertou o diplomata.
“Em dois meses, dois meses e meio, no máximo, a parte Leste de Alepo estará totalmente destruída, se continuarmos assim. Estamos a falar sobretudo da cidade velha”, disse Staffan De Mistura numa conferência de imprensa em Genebra. “Não estamos dispostos a continuar passivos, a resignar-nos a ter outra Srebrenica, outro Ruanda, que é o que lamentavelmente temos de reconhecer está a ser escrito nas paredes à nossa frente, a não ser que se faça alguma coisa”, declarou.
A Rússia apoia a ideia de Mistura, avançou a agência noticiosa TASS, citando o enviado de Moscovo para o Médio Oriente e para África, Mikhail Bogdanov.
Estados Unidos e Rússia suspenderam os contactos diplomáticos sobre a Síria por causa da feroz ofensiva governamental apoiada por Moscovo na frente de Alepo.
A Rússia tem exigido a retirada de Alepo de cerca de mil ex-combatentes da Frente Al-Nusra, insistindo que sem isso continuará a apoiar a ofensiva das forças de Assad, que trata como terroristas todos os grupos armados na cidade. A diplomacia russa acusa os Estados Unidos de estarem a proteger a Frente al-Nusra, ao não ter convencido os grupos rebeldes que apoia a separarem-se dos extremistas.
De Mistura disse que existem, no máximo, 8000 combates da oposição no Leste de Alepo, incluindo os que pertenciam à Al-Nusra – que mudou de nome para Jabhat Fateh al-Sham quando cortou os laços com a Al-Qaeda.
A história julgará o Presidente sírio e a Rússia se continuarem a usar a presença dos ex-combantes da Al-Nusra “como um alibi fácil” para destruir a área ainda em controlo dos rebeldes, afirmou De Mistura, dirigindo-se ao Governo russo. “Estão mesmo dispostos a continuar com este nível de combate, usando estas armas, e a destruir de facto todo o Leste da cidade de Alepo… onde vivem 275 mil pessoas, só para eliminarem mil combatentes da Al-Nusra?”, interrogou o diplomata da ONU.
Mais de 3800 civis foram mortos e 20 mil ficaram feridos pelos ataques da aviação russa, desde que há um ano teve início a intervenção de Moscovo em apoio ao regime do presidente Bashar al-Assad, indicou esta sexta-feira o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). O hospital de Alepo foi bombardeado pela terceira vez.
No entanto, apesar desta oferta de Staffan De Mistura, os combatentes em Alepo não dão mostras de estarem dispostos a retirarem-se. “Se decidirem sair, em dignidade e com as vossas armas, para Idlib ou para onde quiserem ir, estou pessoalmente e fisicamente disposto a acompanhar-vos”, prometeu o diplomata.