Dezenas de mortos em protesto contra Governo na Etiópia

Oposição diz que pelo menos 50 pessoas morreram esmagadas ao fugir de disparos da polícia. Incidente mostra que tensão permanece elevada na região de Oromia.

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A polícia disparou para o ar e atirou granadas de gás lacrimogéneo contra as pessoas que estavam reunidas para um festejo anual Tiksa Negeri/Reuters
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Além dos mortos há dezenas de feridos Tiksa Negeri/Reuters
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Manifestantes fazem o gesto que simboliza a revolta da população oromo Tiksa Negeri/Reuters
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Dezenas de pessoas morreram neste domingo esmagadas quando fugiam da polícia em Oromia, a província que cerca a capital da Etiópia e é, desde o final do ano passado, palco de protestos violentamente reprimidos pelo governo de Hailemariam Desalegn.

Testemunhas contaram à Reuters que o pânico se instalou depois de as forças de segurança terem disparado para o ar e atirado granadas de gás lacrimogéneo contra as pessoas que assistiam a uma festa religiosa anual na cidade de Bishoftu, 40 quilómetros a Sul de Addis Abeba. Muitos entre a multidão cantavam palavras de ordem contra o Governo – “queremos liberdade”, “queremos justiça” – boicotando os discursos dos líderes tradicionais, considerados mais próximos do poder. Outros empunhavam a bandeira vermelha, verde e amarela da Frente de Libertação Oromo, grupo que diz lutar em nome daquela que é a maior etnia do país e que Addis Abeba classifica como terrorista.

No meio da confusão, várias pessoas caíram numa vala e muitas outras morreram esmagadas pela multidão em pânico. Uma testemunha contou à Reuters ter visto mais de uma dezena de vítimas a serem levadas do local, sem sinais de vida. O Governo etíope não avançou números, mas confirmou que “em resultado do caos, perderam-se vidas e muitos feridos foram levados para o hospital” e prometeu que “os responsáveis serão levados à justiça”.

Merera Gudina, líder do Congresso Federalista Oromo, na oposição, disse ter informações de pelo menos 50 mortos. O responsável diz que o Governo tentou usar os festejos para mostrar que a calma regressara a Oromia, depois de quase um ano de manifestações, “mas a população voltou a protestar”.

Protestos e repressão violenta abalam a Etiópia, o farol da estabilidade no Corno de África

A Etiópia regista há uma década um impressionante crescimento económico, mas continua a ser um dos mais países mais pobres do mundo, e também um dos mais repressivos – sinal disso, nas últimas legislativas a oposição não conseguiu eleger um único deputado. E à falta de liberdade juntam-se tensões étnicas, com as duas maiores etnias – os oromo e os amhara – a queixarem-se de ser discriminados pelos tigré, que dominam o Governo e as forças armadas.

A actual vaga de protestos – os maiores desde o fim da guerra civil, há 25 anos – começou em Novembro por causa de um projecto de expansão urbana da capital, que previa a expropriação de terras e aldeias habitadas pelos oromo. Pelo menos 140 pessoas foram mortas na repressão policial que se seguiu, o plano foi abandonado, mas os manifestantes, sobretudo jovens, não desarmaram, continuando a exigir liberdade. E em Agosto, num dia de protestos que se estendeu à província de Ahmara, a polícia voltou abriu fogo contra os manifestantes, voltando a provocar mais de uma centena de mortos.

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