Prio entra no negócio da electricidade através da Enforcesco

Empresa de combustíveis low cost reforça aposta na mobilidade eléctrica com investimento em comercializadora de electricidade.

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A Prio facturou 600 milhões de euros em 2015 neg nelson garrido

Cada uma na sua área, “começaram do zero” em mercados já dominados por gigantes. A Prio na comercialização de combustíveis, onde rivaliza com a Galp, a Repsol e a BP, e a Enforcesco na comercialização de electricidade, num mercado liberalizado dominado pela EDP, Iberdrola e Endesa. Com uma estratégia semelhante, que garantem ser low cost no preço, mas não na qualidade dos produtos e serviços, as duas empresas preparam-se para anunciar “um casamento” destinado a antecipar “a nova realidade” que será a mobilidade eléctrica.

A Prio, que já foi uma empresa da construtora Martifer e neste momento é totalmente detida pela capital de risco Oxy Capital, vai comprar 5% da Enforcesco, dona da marca Yes Low Cost Energy (YLCE). Em simultâneo, a Oxy Capital também irá adquirir uma participação de 46% na empresa de energia sediada na Covilhã. Os valores do negócio não foram divulgados.

“A Prio acredita que há uma tendência no sentido da mobilidade eléctrica e que no futuro vão existir bastantes carros eléctricos”, disse ao PÚBLICO o presidente da empresa, Pedro Morais Leitão. Vender electricidade é, por isso, uma forma de antecipar uma alteração de mercado que, dependendo do grau de adesão a estes veículos, vai gerar “um problema para as empresas de combustíveis”.

Se globalmente o sector petrolífero está a ganhar consciência que terá de se adaptar ao crescimento expectável do carro eléctrico e “compensar a perda de vendas” que daí virá, o mercado português tem outra especificidade que, segundo Morais Leitão, obriga as empresas de combustíveis a reagir: a aliança entre o Continente e a Galp. “Os líderes da comercialização para as famílias [na distribuição alimentar e nos combustíveis] estão a criar este programa de fidelização que na prática é quase aditivo, viciante”. Os efeitos “ainda não se sentem no mercado”, mas lá para a frente é possível que se levantem “questões de direito da concorrência”, porque o objectivo destas empresas será sempre o de “consolidar e defender a liderança”, diz o gestor. Sem qualquer programa de fidelização com a distribuição alimentar, a Prio tem, por isso, uma “oportunidade na comercialização de combustíveis e energia” que tem “obrigação de explorar”.

Responsável por 10% das vendas no mercado de combustíveis (com um volume de negócios de 606 milhões no ano passado e resultados líquidos de cinco milhões), a empresa tem desde 2011 uma licença de operador da rede de mobilidade eléctrica Mobi.e. Ainda assim, o negócio nunca gerou receitas porque os carregamentos na rede têm sido gratuitos e subsidiados pela EDP. Como “o Governo anunciou que se vai poder começar a cobrar a energia” no próximo ano, a Prio tem a expectativa de que finalmente possa começar a cobrar a sua margem na electricidade vendida pelo sistema Mobi.e.

Ao mesmo tempo, se as vendas de carros eléctricos crescerem, o mais provável é que se caminhe para um equilíbrio entre o modelo de carregamento rápido (carregamentos de cerca de 20 minutos) nos espaços públicos, como centros comerciais e postos de abastecimento, e o carregamento lento durante a noite, em casa, nas garagens ou condomínios. Com a aliança à Enforcesco, a Prio passa a oferecer também o carregamento em casa, onde sai beneficiado o comercializador de electricidade. “Essa complementaridade” é um dos trunfos deste negócio entre as duas empresas, destacou Pedro Morais Leitão.

O presidente da Enforcesco, João Nuno Serra, também salienta o facto de as empresas terem “estratégias que encaixam” e que vão resultar em soluções que permitem ao cliente “pagar menos no final do mês”. “Neste momento, comprar energia é comprar preço; é óbvio que as pessoas valorizam fazer os mesmos quilómetros e usar os mesmos electrodomésticos e pagar uma factura menor”, disse ao PÚBLICO.

Nascida em 2013 com a missão de ser “a Easy Jet da energia”, levando aos clientes “tarifas sem algumas das gorduras e encargos fixos que têm as organizações maiores”, a Enforcesco (detida pela Enforce) tem hoje dez mil clientes e ocupa a oitava posição no mercado liberalizado, onde competem cerca de 20 comercializadores.

Com a “perspectiva de atingir [este ano] resultados positivos e uma facturação na ordem dos 30 milhões de euros”, a Enforcesco tem como “aspiração”, reforçada com o negócio com a Prio, chegar aos 10% de quota em 2023 (tem cerca de 1% neste momento). Daí que, perante “a necessidade de reforçar os capitais”, tenha procurado não só um parceiro financeiro, como uma solução que aportasse “mais-valias e sinergias para o futuro”.

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