Costa satisfeito com aumento do turismo em zonas "abandonadas e em decadência"
Primeiro-ministro discursou na III Cimeira do Turismo. À porta trabalhadores do sector protestavam por melhor condições laborais.
António Costa não está preocupado com o aumento do turismo em Lisboa e defende que a chegada recorde de visitantes é prova da capacidade que as entidades públicas e privadas têm para "transformar território".
Discursando na III Cimeira do Turismo Português, organizada pela Confederação do Turismo de Portugal, o primeiro ministro defendeu que o dinamismo que Lisboa, Porto e mais recentemente os Açores têm sentido deve ser replicado noutras zonas do país.
"É com satisfação que vejo que agora se discute se há turismo a mais em algumas zonas da cidade, que há anos eram zonas abandonadas e em decadência", disse. Dirigindo-se a Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, afirmou não ter "inveja" do desempenho actual da capital, depois de nove anos em que "Estado, municípios e privados foram capazes de transformar territórios ao abandono" e que hoje "transformaram a cidade".
"O que tem sido feito em Lisboa, Açores ou Algarve é o que temos de fazer em mais sítios para que tenhamos cada vez mais turismo", afirmou, defendendo que esta actividade "puxa pelo país, pelo comércio, pela agricultura" e é "um investimento sustentável e inclusivo do nosso país".
Enquanto António Costa discursava, algumas dezenas de dirigentes e delegados sindicais do sector do turismo e da hotelaria estavam concentrados nas traseiras do Museu do Oriente, para reclamarem o aumento dos salários, a redução da precariedade e pedindo melhores condições de trabalho no sector.
“O turismo dá milhões, aos trabalhadores só tostões” ou “contratação colectiva é progresso garantido” são algumas das palavras de ordem que se ouvem e que pretendem chegar ao outro lado da rua, onde se debate o sector do turismo em Portugal.
António Barbosa, da direcção do Sindicato de Hotelaria do Sul, disse ao PÚBLICO que os recordes sucessivos nas dormidas de turistas não têm sido reflectidos nos salários ou na estabilidade laboral. "A negociação da contratação colectiva está congelada", denunciou
“Estamos aqui porque os salários estão bloqueados, algumas tabelas desde 2008 e 2009, e temos direito a melhores salários”, resumiu por seu lado Francisco Figueiredo, coordenador da Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht), a estrutura ligada à CGTP que convocou a manifestação.
A federação reclama o desbloqueio da contratação colectiva e um aumento salarial de pelo menos 4%, que permita dar a cada trabalhador um mínimo de 40 euros.
A precariedade é também uma preocupação de Francisco Figueiredo, que lamenta que haja hotéis em que o serviço é assegurado “quase exclusivamente por trabalhadores temporários” e onde há trabalhadores "clandestinos", que não têm os descontos em dia.
“Defendemos que os hotéis têm de ter um quadro mínimo de trabalhadores por categoria”, propõe.
A Fesaht vai entregar nesta terça-feira uma moção ao Presidente da República, primeiro ministro e membros do Governo em que apela ao combate à "exploração e o empobrecimento".
O local da manifestação gerou alguma controvérsia com a polícia. Num primeiro momento, os delegados e dirigentes sindicais ficaram confinados a uma rua mais distante do Museu do Oriente, mas acabou por se chegar a uma solução de compromisso e os manifestantes puderam concentrar-se nas traseiras do Museu do Oriente.