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Destituído, Eduardo Cunha promete retaliar contra os seus inimigos

O inimigo declarado de Dilma Rousseff vai escrever um livro sobre o processo de impeachment

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Cunha foi acusado de mentir à comissão parlamentar de inquérito da Petrobras EVARISTO SA/AFP

Para o Governo do recém-empossado Presidente do Brasil, Michel Temer, a saída inglória do Congresso nacional do seu antigo aliado, Eduardo Cunha, foi “ruim”.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, que foi o principal promotor do processo de destituição de Dilma Rousseff, viu o seu mandato cassado pelo hemiciclo, que o considerou culpado por mentir ao parlamento, e prometeu vingança contra os seus inimigos, deixando no ar a possibilidade de se tornar “delator” de casos de corrupção. Para já, avisou que vai escrever um livro sobre o processo de impeachment (destituição)

Alegando inocência das acusações (e suspeitas) que levaram ao seu afastamento, Cunha nomeou o “binómio Governo e TV Globo, associado ao Partido dos Trabalhadores” como culpados pela destituição. O facto de ter deixado ameaças veladas contra outras forças políticas, supostamente suas aliadas, não sossega o novo Governo, assente no PMDB de Temer: como escrevia a Folha de São Paulo, a sua queda é um misto de alívio — por não ter de ficar refém das manobras de Cunha — e de preocupação, pela sua promessa de retaliação.

Apesar de Cunha considerar que Michel Temer o “abandonou”, os assessores do Presidente dizem que este não tinha condições políticas para o proteger. A prova disso seria o resultado esmagador com que o hemiciclo aprovou o relatório do Conselho de Ética que recomendava sua destituição: 450 votos a favor, 10 contra e nove abstenções, num total de 513 parlamentares, o que quer dizer que Cunha foi afastado com o beneplácito da sua própria bancada.

O outrora todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, declarado inimigo “número um” do Governo de Dilma e do PT, foi acusado pelos correligionários de “quebra de decoro parlamentar” por ter mentido sobre a existência de contas bancárias na Suíça, em seu nome e dos seus familiares, por onde alegadamente passaria o dinheiro recebido em subornos no âmbito do esquema de corrupção montado em torno da petrolífera estatal Petrobras.

Como concluiu o relator do processo no Conselho de Ética, Marcos Rogério, a prova documental e os depoimentos das testemunhas confirmaram que Eduardo Cunha era detentor de património e bens no estrangeiro, não declarados às finanças, e que na realidade eram “instrumentos criados para evasão de divisas, lavagem de dinheiro e recebimento de propina [suborno]”.

Com a perda do mandato de deputado e dos direitos políticos por oito anos (o período em que está impedido de concorrer a eleições e ocupar cargos), Cunha perde também o chamado “foro privilegiado” que determina o Supremo Tribunal Federal como a única instância judicial com competência para julgar políticos em funções. O que abre a porta à sua acusação e detenção por decisão de um juiz de primeira instância, como por exemplo o famoso Sérgio Moro, responsável pela mega-investigação Lava Jato, que por diversas vezes citou o nome de Cunha.

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