“Exército sai muito mais forte” do caso dos comandos, diz ministro
Azeredo Lopes diz que foi o Exército quem mandou suspender os novos cursos de formação e que ninguém pode garantir que situações destas não voltam a acontecer.
O “Exército sai muito mais forte” do caso da formação dos comandos que vitimou, no passado domingo em Alcochete, Hugo Abreu, e levou ao internamento de outros cinco instruendos. A declaração é do ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, em entrevista que o PÚBLICO vai publicar na próxima semana, mas cujas declarações sobre este caso antecipamos dado o seu interesse jornalístico.
“Há hoje uma prática no Exército, com a qual me congratulo muito, ou seja, é bom quando se enfrentam as questões olhos nos olhos e quando se tomam decisões”, disse nesta sexta-feira o ministro ao PÚBLICO. “O mito de que tudo se resolve na intimidade é algo que, em termos de cidadania e de eficácia, dá maus resultados”, assegura o titular da pasta da Defesa.
O ministro refere-se ao modus operandi do Exército nesta questão. “O Exército saiu muito mais forte, neste momento já está muito mais forte, ao assumir [o que aconteceu]. É condição da humanidade poder falhar, mas também é condição da humanidade dever enfrentar”, explica.
“Sempre [algo] corre muito mal quando se perdem vidas e quando se verifica que noutros casos estamos em situação de risco”, prossegue. “Estou plenamente de acordo com a ideia de que temos de ter forças com formação exigente, e daqui resulta que o Exército, na sua esfera de actuação, evidentemente em articulação com o ministro da Defesa Nacional que correu muito bem, decidiu este processo de averiguações”, revela. Neste sentido, Azeredo Lopes é claro: “Não fui eu que mandei suspender os cursos de comandos, a competência para definir os termos da formação cabe ao Exército que, através do Chefe de Estado-Maior, a desencadeou”, destaca.
A atitude da chefia militar é louvada pelo ministro. “Tenho de aplaudir essa [posição] porque não é muito habitual”, refere. “A partir do momento em que se verificou o alargamento de situações de jovens internados, passámos a outro patamar”, descreve, justificando assim a “instauração de outro inquérito, que não diz respeito ao que aconteceu mas sobre como é feita a formação dos comandos”. “E, enquanto esse inquérito transversal não estiver concluído, não se iniciarão novos cursos”, adianta.
O ministro da Defesa Nacional não considera haver qualquer contradição entre a medida cautelar decidida sobre os novos cursos — o seu adiamento até cabal explicação do ocorrido em Alcochete — e a continuação do actual treino. “Este curso já tinha dois condicionalismos”, depois da morte do madeirense Hugo Abreu e do internamento dos seus outros companheiros.
“O primeiro é que o treino era adaptado, havia uma redução da carga de esforço exigida tendo em consideração as condições meteorológicas, e houve uma previsão que resulta da deslocalização dos treinos”, precisa. “A partir do momento em que se multiplicaram as situações — quatro a cinco jovens internados —, os que participaram no curso vão ser submetidos a uma avaliação médica para decidir se continuam”, continua o ministro.
Azeredo Lopes é claro. Refere que o curso de comandos é peculiar. “Estamos a falar de forças especiais, sujeitas a um treino muito duro, mas infelizmente mesmo noutros países [estas situações ocorrem], pela natureza limite dessa formação que resulta das circunstâncias operacionais em que estes soldados podem vir a ser chamados a intervir, situações muito acima da média em termos de exigência”, observa.
Daí que não considere a possibilidade de medidas mais suaves na formação. “O excesso de prevenção faria com que praticamente não nos movêssemos. É impensável eu ou qualquer pessoa honestamente garantirmos que não voltará a acontecer”, sublinha. “O que preocupa e determinou a tomada de medidas foi o factor repetição e o de proximidade, uma vez que no ano passado houve também situações destas”, analisa. Por fim, o ministro da Defesa Nacional garante que nada tem a ver com a não divulgação, pelo Exército, dos acidentes verificados nos últimos anos nos cursos de formação de comandos, apesar dos pedidos dos meios de comunicação.