Mulheres detidas em França integravam grupo "teleguiado" a partir da Síria

As três eram procuradas desde a descoberta de um carro com botijas de gás e latas de gasóleo em Paris. Autoridades acreditam que preparavam ataque em estação de comboios

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As três mulheres foram detidas quando deixavam o apartamento que lhes servia de esconderijo Geoffroy Van Der Hasselt/AFP

As autoridades francesas afirmam que as três mulheres – de 19, 23 e 39 anos – detidas a noite passada nos arredores de Paris integravam um comando, maioritariamente feminino, "que era teleguiado por indivíduos na Síria que pertencem às fileiras do Estado Islâmico”. Procuradas desde descoberta, no domingo, de um carro abandonado no centro da capital, com botijas de gás, estariam prestes a cometer um ataque que, segundo fontes policiais, poderia incluir a gare de Lyon.

As três mulheres foram detidas em plena rua, na localidade de Boussy-Saint-Antoine, 25 quilómetros a sudeste do centro de Paris, quando deixavam o apartamento que lhes serviu nos últimos dias de esconderijo.

A mais nova, identificada como Inès M., é filha do proprietário do automóvel abandonado e a principal suspeita de uma investigação que o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, descreveu como uma “corrida contra o tempo”. Surpreendida pelos agentes dos serviços de informação interna que vigiavam o grupo, a adolescente atacou um deles com uma faca, tendo sido baleada no joelho por outro elemento da patrulha.

“Estas jovens, radicalizadas, fanatizadas, preparavam-se visivelmente para novas acções violências, que acreditamos estariam iminentes”, revelou Cazeneuve. Nas buscas realizadas no apartamento, foi encontrada uma carta em que Inès afirmava aquilo que as autoridades já suspeitavam – a sua lealdade ao Estado Islâmico, o grupo jihadista radicado entre a Síria e o Iraque e ao qual se juntaram nos últimos anos centenas de jovens franceses. A jovem era conhecida dos serviços de informação desde 2015, por suspeita de que pretendia viajar para a Síria, e terá sido o próprio pai quem, no domingo à noite, alertou as autoridades para o seu desaparecimento.

Terá sido ela quem, na companhia da amiga, Sarah H., de 23 anos, estacionou um Peugeot, sem matrícula, numa rua nas imediações da catedral de Notre-Dame. Alertada pelo empregado de um bar, a polícia encontrou seis botijas de gás e três latas de gasóleo (matéria menos inflamável do que a gasolina) no interior da viatura, mas nenhum detonador. Há dúvidas sobre o que pretendiam as jovens ou porque deixaram o carro no local, com os piscas ligados, mas o jornal Le Figaro noticia que a polícia encontrou no automóvel um pano queimado, sugerindo que as jovens terão tentado incendiar a viatura e, com isso, provocar a explosão das botijas.

Vingar morte de jihadista

No decorrer das investigações – que tinham já levado à detenção de dois casais, quarta-feira – as autoridades conseguiram localizar e pôr sob escuta o telefone de uma das jovens, “descritas como muito perigosas”, o que os conduziu até ao apartamento da terceira suspeita, em Boussy, e lhes forneceu informações de que o grupo estaria a preparar um ataque numa estação de caminhos-de-ferro da região parisiense.

A agência AFP revela que as esquadras de polícia receberam quinta-feira um alerta avisando que uma célula terrorista, com ligações ao estrangeiro, estaria a preparar um ataque durante o dia numa estação de comboio da região parisiense. Segundo as televisões BFM-TV e RTL, o objectivo das três mulheres seria a gare de Lyon, no sul de Paris, e também a de Boussy-Saint-Antoine, ponto de partida da viagem que estariam prestes a fazer.

Segundo a polícia, as três mulheres pretendiam vingar a morte, no mês passado, de Mohammed al-Adnani, um dos fundadores e principais comandantes do EI, que em 2014 desafiara os simpatizantes do grupo que não conseguissem viajar para a Síria a atacar nos seus países. O jornal Le Monde revela que uma das jovens terá estado em contacto nos últimos dias com um jihadista francês radicado na Síria que é visto como instigador de vários planos de ataque no país, incluindo o assassínio de um padre numa igreja da Normandia, em Julho.

Seria apenas uma das várias ligações a outros radicais mantidas pelos vários envolvidos nesta célula – Sarah H., terá estado noiva do jihadista que em Junho matou dois funcionários da polícia, e uma das mulheres detidas quarta-feira seria amiga da companheira de Amedy Coulibaly, um dos autores dos ataques de Janeiro de 2015 em Paris. A televisão pública belga noticiou, por seu lado, que Inès M. era também conhecida da procuradoria federal do país por “contactos com belgas radicalizados da região de Chaleroi”, alguns dos quais planeariam viajar para a Síria. “Ela parecia ocupar o lugar de recrutadora e facilitadora destas partidas”, adiantou a estação, citando fontes policiais. Já nesta quinta-feira, a polícia anunciou a detenção de um oitavo suspeito, também com ligações a radicais já conhecidos das autoridades.

“A França continua a ser confrontada com uma ameaça inédita de múltiplos recursos”, disse Cazeneuve, elogiando a rapidez e sucesso com que as investigações foram conduzidas. “O grupo foi aniquilado” e um ataque “evitado”, congratulou-se também o Presidente François Hollande, avisando, no entanto, que “há outros” prontos para entrar em acção.

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