Hospital Conde de Ferreira tem dez doentes infectados com bactéria multirresistente
Unidade para doentes com problemas de saúde mental da Santa Casa da Misericórdia do Porto tem 350 utentes. Doentes infectados já estão em isolamento.
O Centro Hospitalar Conde de Ferreira, uma unidade para doentes com problemas de saúde mental pertencente à Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), tem dez doentes infectados com a bactéria multirresistente Klebsiella pneumoniae, resistente a carbapenemes (KPC), “uma situação que não é comum”, admite a instituição.
Carbapenemes é o nome dado aos antibióticos de muito largo espectro que são usados para combater infecções graves em meio hospitalar e a que os médicos recorrem quando as outras armas terapêuticas não funcionam.
O PÚBLICO recebeu uma denúncia falando de “uma onda de alarmismo” entre os profissionais desta instituição face aos casos de infecção por esta bactéria e a suposta impreparação da unidade e do seu pessoal de saúde para lidar com esta situação. Questionado por e-mail, o Departamento de Marketing e Comunicação daquela instituição confirma a existência de dez doentes infectados com a bactéria, num universo de mais de 350 utentes ali existentes.
“Após a confirmação do diagnóstico, os doentes foram imediatamente transferidos para uma unidade de isolamento para efeitos de tratamento, na sequência do qual já se verificou a regressão da bactéria em vários utentes.” Refere-se que os doentes infectados “são provenientes de outras unidades hospitalares com as quais a SCMP mantém acordos de parceria”.
O comunicado não especifica que unidades são, mas a Misericórdia do Porto tem desde Dezembro do ano passado um protocolo com o Centro Hospitalar do Porto (Hospital Geral de Santo António e Hospital de Joaquim Urbano) para o acolhimento de doentes em situação de convalescença e em cuidados continuados nos seus hospitais, refere-se na sua página.
Em resposta enviada ao PÚBLICO já na manhã desta terça-feira, o Centro Hospitalar do Porto diz que sinalizou devidamente os doentes que transferiu para o Hospital do Conde de Ferreira, informando que estavam "colonizados pela bactéria", ou seja, que não tinham desenvolvido a infecção. "Caso os doentes colonizados venham a desenvolver a infecção por agentes resistentes, voltam a ser transferidos para os serviços do CHP", garante aquele centro hospitalar. Na mesma nota acrescenta-se que "as famílias e as instituições que recebem os doentes pós-alta são informadas das medidas necessárias para reduzir a disseminação, de acordo com recomendações nacionais e internacionais."
Por seu turno, o Centro Hospitalar Conde de Ferreira admite na sua resposta oficial que “a existência de bactérias não é comum” no hospital, uma vez que se trata de uma unidade vocacionada para doentes mentais e do foro psiquiátrico. No entanto, refere-se que estão a ser tomadas todas as medidas previstas pela Direcção-Geral da Saúde, “de modo a evitar o contágio de terceiros ou uma eventual evolução da infecção” e que todos os profissionais estão devidamente informados, encontrando-se o caso a ser monitorizado por aquela entidade.
Outros casos
Esta não é a primeira vez que esta a bactéria multirresistente Klebsiella pneumoniae faz estragos. Em Fevereiro deste ano, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) detectou a bactéria em 21 doentes internados, sendo que apenas oito desenvolveram mesmo a infecção. Foram confirmados três óbitos associados à bactéria.
No ano passado tinha havido um surto no Hospital de Gaia. Houve 102 doentes infectados ou que eram portadores (não infectados) de Klebsiella pneumoniae com resistência a carbapenemes e também em três doentes a morte resultou da infecção pela bactéria.
O coordenador do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde sublinhou, na altura, que esta resistência da Klebsiella pneumoniae ainda é rara em Portugal (1,8%) e que está mesmo um pouco abaixo da média europeia e muito longe daquilo que se verifica noutros países, como a Grécia (50%) e a Itália (mais de 30%). Mas José Artur Paiva admitia “uma progressão significativa": passámos de 0,3%, há três anos, para 0,7%, no ano seguinte, e 1,8%, no ano passado. Este tipo de resistência já está descrito em Portugal desde 2009.
Portugal está entre os países da União Europeia com maior prevalência de infecções hospitalares, apesar de a situação estar a melhorar nos últimos anos. Os dados relativos a 2014 indicam que 10,5% dos doentes contraíram uma infecção deste género nas unidades portuguesas.
Notícia actualizada às 12h43: acrescenta no sexto parágrafo a resposta oficial do Centro Hospitalar do Porto