Activistas pró-independência eleitos para parlamento de Hong Kong
Entre os novos deputados está Natham Law, que foi um dos rostos das manifestações pró-democracia de 2014.
Vários jovens activistas pró-independência foram eleitos para a Assembleia Legislativa de Hong-Kong, dois anos depois das grandes manifestações naquele território chinês. As eleições de domingo registaram uma afluência recorde e, segundo os resultados finais, a oposição pró-democracia conseguiu manter a minoria de veto no parlamento.
“Esta é uma nova era”, disse Lee Cheuk-yan, um veterano deputado da oposição que foi ultrapassado por um dos candidatos da ala mais jovem e radical num dos círculos que foram a votos. “As pessoas querem mudança, e mudança significa caras novas, mas o preço pode ser uma maior fragmentação [do campo pró-democracia]”, admitiu o agora ex-deputado à Reuters. Do lado oposto, Elizabeth Quat, deputada do bloco favorável a Pequim que continua em maioria, disse esperar que os jovens activistas não tragam para a Assembleia Legislativa a sua agenda independentista. “A independência não é realista de todo”, afirmou.
Segundo os resultados, pelo menos cinco dos activistas que encabeçaram a “revolução dos guarda-chuvas” – a imagem que marcou os protestos de 2014, inspirados no movimento internacional Ocuppy – foram eleitos para a Assembleia Legislativa. Entre eles está Natham Law, de 23 anos, líder estudantil que foi um dos principais rostos das manifestações que, durante mais de dois meses, bloquearam estradas e ocuparam algumas das áreas mais emblemáticas de Hong Kong. Os protestos terminaram ao final de 74 dias, sem que Pequim tenha cedido naquela que era a principal reivindicação dos manifestantes – a liberdade de escolher, sem constrangimentos o líder do governo local, nas eleições marcadas para o próximo ano.
“A população quer uma verdadeira mudança”, disse Law logo depois de confirmada a sua eleição, numa votação que registou uma afluência recorde – 60% dos cerca de três milhões de eleitores foram às urnas neste domingo. O seu movimento, Demosisto, exige a realização de um referendo sobre a independência do território, antiga colónia britânica entregue em 1997 à China ao abrigo do princípio “um país dois sistemas”. Mas a oposição pró-democracia inquieta-se com o que considera ser o recuo nas liberdades e na autonomia com que Pequim se comprometeu, e denunciam uma crescente repressão sobre os opositores.
A eleição dos jovens activistas faz antever um endurecimento da oposição, a que se pode seguir uma reacção idêntica de Pequim, que tem avisado Hong Kong para não ir longe de mais nos seus propósitos de autonomia. Mas Law não se mostra adepto de compromissos: “Herdámos o espírito do movimento [de 2014] e espero que possamos continuar no futuro. Mas para isso temos que nos unir para ter maior poder na luta contra o Partido Comunista Chinês.”
Alguns analistas antecipavam que a entrada em cena de uma nova geração poderia acabar por reforçar também endurecer os partidários de uma forte ligação a Pequim, enfraquecendo a oposição tradicional que não se revê nas exigências dos jovens activistas. Ainda assim, os resultado finais mostram que o campo democrata conseguiu um terço lugares que estiveram em disputa, o que lhes garante o poder de veto sobre as decisões da assembleia.
O complexo sistema eleitoral de Hong Kong impossibilita, na prática, a vitória do campo democrata, uma vez que só 35 dos 70 lugares que compõem a assembleia são eleitos por voto directo. Os restantes 30 são escolhidos entre os membros de associações profissionais e empresariais próximas de Pequim, a que se juntam cinco deputados eleitos de forma proporcional. Com agências