Rajoy falha investidura, novas eleições à vista em Espanha
O resultado da segunda votação foi igual ao da primeira: 170 a favor, 180 contra. Sem se vislumbrar acordo entre os principais partidos, os espanhóis poderão voltar às urnas em Dezembro.
O impasse político em Espanha pode prolongar-se, pelo menos mais dois meses, que é o novo prazo constitucional para encontrar uma solução de Governo sem repetir as eleições legislativas no país. Como se esperava, o líder do Partido Popular e presidente do Governo em exercício, Mariano Rajoy, não obteve a confiança do Parlamento espanhol para formar um novo executivo e viu derrotada a sua proposta de investidura.
O conservador apresentou-se ao debate de investidura nas Cortes munido de um acordo com o partido Cidadãos, de centro-direita, que apenas lhe garantia 170 votos, menos seis do que os necessários para alcançar a maioria absoluta no parlamento de 350 lugares. E foi esse o resultado da primeira votação, na quarta-feira: à excepção do seu PP (137 deputados), dos Cidadãos (32) e da Coligação Canárias (1), Mariano Rajoy viu as restantes bancadas dizer não à sua indigitação. Foi, também, o resultado da segunda votação, esta sexta-feira, para a qual Rajoy só necessitava de uma maioria simples, ou seja, mais votos “sim” do que votos “não”. Foram 170 contra 180.
A repetição das eleições legislativas em Dezembro – que seriam as terceiras em 12 meses – parece ser o cenário mais provável, tendo em conta que os quatro partidos com maior representação parlamentar não conseguiram entender-se para formar uma coligação ou aliança para constituir Governo. No entanto, esse cenário ainda pode voltar a ser explorado: a lei determina que um novo período de consultas em busca de uma solução política se prolongue até 31 de Outubro. Se o impasse se prolongar, o rei Felipe VI não terá outra alternativa que não seja dissolver o parlamento e convocar os espanhóis para as urnas.
Na sua intervenção, Mariano Rajoy procurou atirar a responsabilidade por esse desfecho inteiramente para os ombros de Pedro Sánchez, o secretário-geral do PSOE. “Temos o dever de reflectir antes de colocar a Espanha perante uma situação irreversível”, dramatizou, sublinhando que “não ter Governo tem custos, é uma alta factura que têm que pagar todos os espanhóis”.
Mas Sánchez devolveu o conselho ao líder do PP e ao seu grupo parlamentar, notando que “deveriam extrair uma conclusão do que está a acontecer hoje, mas não o farão porque a sua verdadeira estratégia é avançar para terceiras eleições. Essas serão da vossa responsabilidade”, criticou o socialista, que em Março foi o primeiro político a falhar a investidura como chefe de Governo, o que provocou as eleições de 26 de Junho.
Entre as fileiras socialistas repete-se que do fracasso de Rajoy na investidura não resulta necessariamente a inviabilidade de um novo Governo do PP e a convocatória de novas eleições legislativas. Essa ideia foi avançada pelo ex-chefe de Governo, Felipe González, numa entrevista à rádio colombiana La W, e repercutida em Espanha: “O partido mais votado apresenta um candidato que é o mais votado”, assinalou, deixando no ar a sugestão de que um candidato diferente poderia ter uma votação diferente. Esse foi, especificamente, o pedido deixado pelo líder do Cidadãos, Albert Rivera.
Na mesma senda, o ex-ministro socialista Josep Borrell salientou esta sexta-feira que “não vivemos num mundo dual, onde só há duas soluções”, pelo que insistir, como Mariano Rajoy, que sem investidura será preciso voltar às urnas é “reducionista”. “Ouça, dizer ou eu ou o caos não serve. Vamos ver o que é que se pode fazer”, observou, dirigindo-se ao líder do PP.