“Um destes dias há uma calamidade” no Museu Nacional de Arte Antiga, diz director
António Filipe Pimentel revelou que a nova galeria de pintura, aberta em Julho, só não fechou "no dia seguinte" por ter sido inaugurada pelo Presidente da República.
O director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) avisou nesta sexta-feira num painel intitulado "Qual a importância económica da cultura?", em que participou juntamente com Pedro Mexia, consultor para a área cultural do Presidente da República, que "um destes dias há uma calamidade no museu" porque se anda a "brincar ao património".
O alerta de António Filipe Pimentel sobre as condições do MNAA foi feito na Escola de Quadros do CDS-PP, que decorre até domingo em Peniche.
"São 64 pessoas [para a totalidade do museu e todas as suas responsabilidades, não apenas para a vigilância] para 82 salas abertas ao público. De certeza absoluta que um destes dias há uma calamidade no museu. Só pode, porque andamos a brincar ao património. Mas a esta altura todas as tutelas dispõem de toda a informação cabal do que vai acontecer, mas quando acontecer abre os telejornais", avisou António Filipe Pimentel, sem concretizar na altura exactamente a que problema se referia.
Segundo o responsável, é preciso "mudar urgentemente" porque "as necessidades do Museu Nacional de Arte Antiga são totalmente diferentes, em escala, das necessidades dos outros museus", com a excepção do Museu dos Coches. "O Governo tem na mão o projecto-lei [de autonomia do MNAA], o instrumento de mudança", afirmou, dizendo que viu "com grande gosto" no último programa de Governo de PSD e CDS a autonomia e ampliação do museu.
António Filipe Pimentel alertou que "o país tem um grave problema a resolver" no museu, porque "aquilo vai partir e vai partir em muito pouco tempo". A nova galeria de pintura e escultura portuguesa, aberta a meio de Julho, "só não fechou no dia seguinte à inauguração solene pela razão simples de que foi inaugurada pelo senhor Presidente da República e o impacto político do encerramento era dramático".
Contactado mais tarde pelo PÚBLICO, já depois de a agência Lusa ter divulgado as suas declarações, António Filipe Pimentel explicou que as fez “num contexto de aula”, em que um professor “fala academicamente de casos práticos” e não estava informado de que havia jornalistas na sala: “Se soubesse teria falado em outro registo.”
No final da sessão foram-lhe colocadas perguntas e houve uma questão directa sobre o projecto de autonomia do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Foi nesse momento que explicou que se “está a viver no museu uma situação de ruptura iminente” – os 64 elementos do quadro do museu englobam técnicos superiores, conservadores, investigação, biblioteca, gestão, comunicação e vigilantes. Nos próximos anos, muitos entrarão em pré-reforma ou reforma. Por isso, o director considera que “é impossível manter uma instituição, com esta escala e com este grau de responsabilidades, com estes recursos humanos”.
No entanto, “o Governo está consciente disto, por isso tem anunciado publicamente a sua determinação em avançar com o projecto de autonomia do Museu Nacional de Arte Antiga”.
António Filipe Pimentel confirmou ao PÚBLICO que quando se inaugurou no MNAA o terceiro piso não havia vigilantes para assegurar a sua vigilância e “foi toda uma ginástica a que a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) teve de fazer para conseguir manter o terceiro piso aberto”. Explicou que “o impacto da nova ala do museu forçou a que se encontrasse uma solução para a manter aberta perante a pressão da expectativa dos públicos”.
“As nossas necessidades de vigilância são focadas essencialmente nas áreas mais nevrálgicas e vamos abrindo e fechando [salas] durante todo o Verão. O museu não abrandou o seu nível de segurança mas a oferta pública vai reduzindo cada vez mais. Se temos 20 vigilantes como operacionais para 82 salas, o que se pode esperar?”, pergunta o director do MNAA que necessitaria de ter pelo menos 50. “Há uma vontade de mudança ao nível do espectro partidário para se mudar a situação”, confirma António Filipe Pimentel: “O que acontece é que a situação tem de ser mudada a breve trecho.”