E se Murphy Brown entrevistasse Donald Trump?
A jornalista ficcional foi resgatada para a actualidade pela sua criadora Diane English, que usa partes de respostas reais do candidato presidencial republicano.
“Escrevo comédia e não dá para inventar estas coisas”, diz a argumentista e realizadora sobre elementos reais proferidos por Donald Trump que agora fazem parte da "entrevista" de Murphy Brown ao candidato republicano. Diane English criou a jornalista Murphy Brown e a série de TV homónima no final da década de 1980 e viu-a tornar-se um elemento da política americana, mas agora decidiu usar a sua criação na campanha para as presidenciais de 2016.
Diane English é apoiante de Hillary Clinton, a candidata do Partido Democrata às eleições norte-americanas de Novembro, e criou uma plataforma independente, Humanity for Hillary, para promover o apoio à ex-Secretária de Estado dos EUA. Foi no site da Humanity for Hillary que divulgou a entrevista ficcional baseada na emblemática personagem que criou e que ocupou uma década televisiva nos EUA (em Portugal, era transmitida na RTP2).
Murphy Brown, interpretada por Candice Bergen, uma das musas da contracultura americana dos anos 1970, era uma alcoólica em recuperação, uma mulher de carreira, jornalista de sucesso na televisão que se tornaria mãe solteira. E foi uma figura que se tornou tema de discussão na campanha às presidenciais de 1992 exactamente por esse seu percurso – o então vice-presidente Dan Quayle, da administração de George Bush, criticou a série pelo facto de Brown ser mãe solteira. Em 1998, a série chegou ao fim e Diane English não tem planos para a devolver à televisão do século XXI.
Mas “muita gente me pergunta ‘O que é que a Murphy pensaria das eleições de 2016?’”, explicou English ao podcast PopPolitics da revista Variety. E ela decidiu mostrá-lo. “Foi, francamente, muito divertido tirá-la da reforma”. É um texto humorístico em que coloca Brown no papel de entrevistadora e que usa “grande parte de respostas dele” e que trabalha tentando “escrever na sua voz, que é muito fácil de replicar”. O material original é tão especial, diz, que “não conseguiria fazê-lo melhor do que ele próprio o fez”.
Sobre a sua participação activa na campanha pró-Hillary, English explica: “Estamos todos um pouco mais motivados actualmente, porque Trump parece ser uma pessoa bastante perigosa”.
Na “entrevista”, a conversa inclina-se para a idade das mulheres – “as mulheres envelhecem”, avisa Brown, para “Trump” responder “No meu mundo não” – ou para o auto-proclamado Estado Islâmico – “são uns loosers” que esperam por virgens como recompensa pelo seu martírio mas “sexo com virgens não é tudo o que dizem. Há muito choro” – bem como a sua resposta para o problema do desemprego – “Quando eu trouxer de volta os empregos nas fábricas que mandei para outros países a taxa de desemprego vai cair”; “E sabe aquele muro que vou construir entre nós e o México? Só aí há milhões de empregos”. Um juiz mexicano é apelidado de “juiz cucaracha” e Brown acaba por dizer que alguém devia aplicar ao seu entrevistado uma coleira como as que impedem os cães de ladrar.
Quando a “entrevista” azeda após um comentário de Brown sobre o cabelo de Trump, este lembra-a que ela não é real. “Francamente, eu também não pensei que você fosse real”, responde a jornalista ficcional. Ninguém na imprensa achou. Você era bom para as audiências, vendia jornais, estávamos entretidos e por isso demos-lhe carta branca”.
"A primeira coisa que vou fazer quando chegar à Casa Branca é bani-la da sala de imprensa, Murphy", promete Trump. "Não seria a primeira vez. Hashtag Dan Quayle", responde Brown.
A "entrevista" completa pode ser lida, em inglês, aqui.