Médico Gentil Martins oferece-se para salvar siameses sírios

Cirurgião português só pede apoios para custear a operação e diz que o ideal era as crianças virem para Portugal.

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Os gémeos Zahra, nascidos em Ghouta Foto Crescente Vermelho

O cirurgião português António Gentil Martins disponibilizou-se neste domingo para operar dois meninos, gémeos siameses, que nasceram em Ghouta, uma das áreas mais devastadas pela guerra da Síria.

“No jornal PÚBLICO de hoje [domingo] vem um ‘apelo internacional’ para a separação de dois “gémeos siameses” sírios. Tendo já separado nove pares de gémeos siameses, experiência certamente invulgar,  ofereço a minha equipa para realizar a separação (obviamente sem custos, pessoais)”, afirma o médico num e-mail enviado ao PÚBLICO.

Os gémeos já foram transferidos para uma unidade da capital do país. Mas sem uma intervenção cirúrgica altamente especializada, os bebés Nawras e Moaz terão poucas hipóteses de sobreviver, alertam os médicos sírios que lançaram um apelo internacional para salvar as crianças.

Gentil Martins sugere que uma instituição internacional “assegure custos, nomeadamente viagens e hospitalização”. O médico diz que se houver interessados em custear a operação, devem contactar o Ministério da Saúde e também obter a concordância do Hospital D. Estefânia. “Em alternativa”, sugere, também poderia ser contactada a Fundação Champalimaud para custear a operação.

“Aguardo contacto urgente dada a importância e urgência na decisão”, acrescenta António Gentil Martins.

O médico pensa que o ideal seria encontrar uma entidade que custeasse a vinda das crianças para Portugal, de forma realizar a operação no nosso país. “Eu e a minha equipa não levamos nada. É também necessário arranjar um anestesista de confiança, mas penso que também estará disponível para fazer o trabalho gratuitamente”, acrescenta Gentil Martins.

O cirurgião, com 86 anos, diz que o estudo das crianças, a operação e o acompanhamento pós-operatório demorarão “pelo menos três semanas”. Acrescenta que os custos “são elevados”, mas que seria importante “salvar estas duas vidas”. Quanto à dificuldade da cirurgia, o médico diz que só depois de observar as crianças se pode fazer uma avaliação precisa, mas lembra a sua experiência por já ter separado “nove pares de gémeos siameses com sucesso”.

Os gémeos nasceram a 23 de Julho no hospital Zahra de Ghouta, um subúrbio a norte de Damasco. Estão unidos no peito e partilham os intestinos num abdómen protuberante, mas têm dois corações normais. Numa carta aberta divulgada pela Sociedade Médica Sírio-Americana, o médico Mohamad Katoub explicou que a unidade hospitalar não estava apetrechada para responder à complexidade da situação. E avisou que os gémeos estavam a “ficar sem opções”.

Uma campanha do Crescente Vermelho para salvar a vida dos gémeos siameses de Ghouta, uma das áreas mais devastadas pela guerra da Síria, já resultou na sua transferência para uma unidade da capital do país. Mas sem uma intervenção cirúrgica altamente especializada, os bebés Nawras e Moaz terão poucas hipóteses de sobreviver, alertam os médicos.

Apesar de Ghouta ser um dos pontos mais fustigados pelos bombardeamentos do regime do Presidente sírio Bashar al-Assad, e ter ficado praticamente inacessível para a distribuição de ajuda humanitária, o Crescente Vermelho conseguiu transferir os dois bebés e a sua mãe para um hospital da capital. A localidade, que está sob o domínio dos combatentes rebeldes e cercada pelas tropas do regime desde o início da guerra, foi alvo de ataques químicos em Agosto de 2014, que mataram mais de 1400 pessoas, entre as quais mais de 400 crianças.

O apelo internacional do Crescente Vermelho funcionou e, segundo a organização, chegaram do estrangeiro várias ofertas para tratar os gémeos. A família espera agora a melhor oportunidade para viajar até Beirute, no Líbano, informou Mohamad Katoub. A transferência dos recém-nascidos foi negociada pelo Crescente Vermelho e pela Organização Mundial de Saúde; de acordo com a representante daquela agência das Nações Unidas na Síria, Elizabeth Hoff, existem pelo menos outros 20 casos de pacientes em risco de vida a necessitar de transporte urgente para escaparem de áreas que se encontram sob ataque, incluindo as cidades de Alepo e de Madaya, cercadas pelo regime.

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