Míssil norte-coreano atinge águas controladas pelo Japão

Disparo acontece a poucas semanas de exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul. É a primeira vez que projéctil de Pyongyang atinge zona económica exclusiva nipónica.

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Imagem de um disparo anterior divulgada em Julho pela agência de notícias norte-coreana AFP/KCNA

A Coreia do Norte disparou nesta quarta-feira um míssil balístico que, pela primeira vez, atingiu águas controladas pelo Japão, desatando um já previsível aumento de tensão na região, a poucas semanas do início dos exercícios conjuntos realizados todos os anos pelas forças armadas norte-americanas e sul-coreanas.

Se a retórica bélica sobe sempre por esta altura, a tensão é este ano um pouco maior. No passado dia 19, Pyongyang disparou três mísseis balísticos, num exercício que apresentou como um "simulacro de ataques preventivos" contra portos e aeroportos sul-coreanos usados pelos militares dos Estados Unidos.

Dias antes, Washington e Seul anunciaram um acordo para a instalação na Coreia do Sul de um avançado sistema de defesa antimíssil (THAAD, Terminal High Altitude Area Defence), que justificam com a necessidade de responder aos cada vez mais frequentes disparos feitos pelo regime do Norte. Tanto a China como a Rússia mostraram-se preocupadas com este dispositivo, que Pyongyang encara como uma nova ameaça, tendo avisado que desencadeará “uma resposta física” caso ele seja efectivamente instalado.

Segundo o Comando Estratégico norte-americano, a Coreia do Norte disparou dois mísseis cerca das 7h50 desta quarta-feira (23h50 de terça em Portugal Continental), mas um dos projécteis explodiu imediatamente após o lançamento, efectuado a partir de uma base a Sudoeste da capital. O outro cruzou mais de mil quilómetros e acabou por cair no mar, a 250 quilómetros da costa Norte do Japão. Segundo as primeiras informações, os projécteis disparados são do tipo Rodong, uma versão melhorada dos mísseis Scud, com um alcance máximo de 1300 quilómetros.

Esta é a primeira vez que o corpo principal de um míssil norte-coreano atingiu a zona económica exclusiva do Japão. Em 1998, o segundo segmento de um míssil de médio alcance tinha tombado sobre águas japonesas, na costa do Pacífico, mas o país não foi o alvo do disparo, recorda a AFP.

“Este é um acto escandaloso que não será tolerado”, reagiu o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, na mesma altura em que concluiu uma remodelação governamental, incluindo precisamente uma nova ministra da Defesa – Tomomi Inada, até agora dirigente do Partido Liberal Democrata, é como Abe uma acérrima nacionalista, defensora de uma revisão da Constituição pacifista e de um papel mais interventivo do país na região.

“Do ponto de vista da segurança marítima e aérea, este é um acto problemático e perigoso”, afirmou um porta-voz do Governo nipónico, assegurando que o país não recebeu qualquer aviso prévio. Classificando o incidente como “grave ameaça à segurança” do país, Abe anunciou que as forças militares japonesas vão permanecer em alerta.

Numa primeira reacção, o Departamento de Estado norte-americano recordou que a Coreia do Norte está proibida de disparar ou utilizar tecnologia associada a mísseis balísticos, no âmbito das resoluções adoptadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas após cada um dos quatro ensaios nucleares efectuados nos últimos anos pelo país – o último dos quais em Janeiro, seguido pouco depois pelo ensaio de um míssil de longo alcance. Washington acrescenta que acções deste género “só reforçam a determinação da comunidade internacional para contrariar os seus esforços” – uma clara referência à China que, por várias vezes, votou contra o seu aliado na ONU – “e o empenho americano em defesa dos aliados, entre os quais a Coreia do Sul e o Japão”. Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, pedida pelo Japão e os EUA, está prevista para esta quarta-feira.

A Coreia do Norte não é uma anedota

Já o Governo sul-coreano afirmou que o novo disparo prova a ambição do país em “atacar de forma directa e abrangente os países vizinhos” e veio “sublinhar a necessidade de instalar o THAAD” a sul da zona desmilitarizada que divide os dois países oficialmente ainda em guerra.

“Os norte-coreanos parecem ter agendado os testes dos seus mísseis de curto e médio alcance para as semanas anteriores aos exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul”, previstos começar a 22 de Agosto, disse à Reuters Joshua Pollack, especialista em desarmamento. Os dois países asseguram que as manobras têm propósitos exclusivamente defensivos, mas para Pyongyang vê nelas um ensaio de uma potencial invasão do seu território. E, em sua opinião, “se os aliados podem exercitar as suas forças armadas, então também o Norte pode”, explica o analista.

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