Cameron, na despedida: "Eu já fui o futuro"
Última sessão de perguntas e respostas no Parlamento britânico do primeiro-ministro demissionário marcada por confronto com Jeremy Corbyn e mensagem para Theresa May: “[Que] permaneça tão perto da União Europeia quanto possível.”
Pela última vez, David Cameron respondeu a uma sessão de perguntas ao primeiro-ministro no Parlamento britânico que serviu também de despedida dos seus seis anos no cargo. Marcada por momentos de humor, elogios e críticas, serviu de palco para o balanço dos anos Cameron: “Nada é realmente impossível, se o quisermos mesmo fazer. Afinal como eu próprio disse: 'Eu já fui o futuro'”, declarou Cameron, perante o aplauso geral.
Cameron vai agora a caminho do Palácio de Buckingham, para apresentar a sua demissão à rainha Isabel II. Pouco depois será a vez da sua sucessora, Theresa May, ser empossada no cargo, ao ser convidada pela monarca a formar governo. À despedida do número 10 de Downing Street, as palavras foram simples e sentidas, mas Cameron tinha uma multidão de repórteres e populares
De manhã, com a mulher, Samantha Cameron, e os filhos, na galeria do público, o momento mais animado do debate foi o confronto com Jeremy Corbyn, o contestado líder do Partido Trabalhista. Corbyn, enquanto líder da oposição, tentou fazer um balanço crítico do mandato de Cameron.
Corbyn centrou as críticas na economia. “Em muitas faixas etárias as pessoas sentem que a economia foi destruída, que não funciona”, acusou. Cameron respondeu com números: “Reduzimos o défice em dois terços, há mais um milhão de empresas, mais 2,5 milhões de pessoas empregadas.”
O líder trabalhista voltou à carga: “A ministra do Interior [Theresa May] tem dito que se está a tornar cada vez mais difícil para os jovens comprar a primeira casa”, criticou. “Quando chegámos ao Governo, havia casos em que era preciso dar um sinal de 30 mil libras [mais de 35 mil euros]. Com os nossos programas é possível comprar algumas casas com um sinal de apenas 2000 libras”, assegurou Cameron. Corbyn falou no número de pessoas sem-abrigo – o primeiro-ministro que agora deixa o Governo assegurou que são “10% menos do que na altura em que se atingiu o valor máximo, quando o Labour estava no poder”.
E depois teve uma tirada humorística à custa de Corbyn: “Começo a admirar-lhe a tenacidade, é como o Cavaleiro Negro dos Monty Python: continua sempre, apesar de estar a levar pontapés – diz que é uma ferida superficial.”
Afinal, quem é ele para dar lições, quando os conservadores já resolveram a sucessão da liderança do partido e do país, e o Labour ainda está afundado no lodo da guerra da sucessão na liderança, e "nem sequer decidiram quais serão as regras", afirmou Cameron, espetando ainda mais a faca oratória. "È a democracia em acção, e estou a adorar cada minuto", lançou-lhe Corbyn.
Mas, tal como outros deputados, Corbyn também teve palavras simpáticas para Cameron na despedida. Louvou o Governo por ele liderado por não ter desistido até conseguir libertar da prisão de Guantánamo o cidadão britânico Shaker Ameer e também pela igualdade de casamento, que permitiu aos casais homossexuais terem acesso ao matrimónio.
It's been a privilege to serve the country that I love.
— David Cameron (@David_Cameron) July 13, 2016
“Nestes seis anos, cerca de 30 mil casais puderam casaram-se. Muitas pessoas abordaram-me a dizer: ‘Não me interessa nada a política, mas o que vocês fizeram fez com que me pudesse casar com o amor da minha vida no fim-de-semana.’ Isso é das coisas que mais satisfação me dá”, disse Cameron.
Em resposta às preocupações dos deputados escoceses, que foram os que mais questões levantaram sobre a herança Cameron – o “Brexit” e a saída da União Europeia, a renovação do sistema de dissuasão nuclear Trident, assente em quatro submarinos nucleares, tudo coisas contra as quais está a Escócia –, o primeiro-ministro deixou um conselho à sua sucessora: “[Que] permaneça tão perto da União Europeia quanto for possível.”