Duelo feminino pela liderança dos conservadores?
A ministra do Interior, Theresa May, goza de vasto apoio entre a bancada conservadora. A surpresa na corrida é Andrea Leadsom, apoiada por Boris Johnson.
A ministra do Interior, Theresa May, primeira escolha dos deputados conservadores para a sucessão do primeiro-ministro demissionário, David Cameron, é cada vez mais a favorita na disputa pela liderança dos tories – e do Governo do Reino Unido.
Com uma vitória confortável na primeira das três rondas de votação entre os parlamentares que escolhem os candidatos oficiais do partido, a pragmática May conhecerá esta quinta-feira o seu rival – e se a tendência do primeiro escrutínio se confirmar, a disputa poderá converter-se num duelo feminino.
Surpreendentemente, foi a secretária de Estado da Energia, Andrea Leadsom, quem prevaleceu como a segunda escolha entre os parlamentares conservadores, à frente do ministro da Justiça e principal estratega do “Brexit”, Michael Gove. A candidatura de Andrea Leadsom conheceu um forte impulso com o apoio do ex-mayor de Londres, Boris Johnson, que no rescaldo do referendo à União Europeia já era tratado como putativo novo primeiro-ministro – esta é a sua resposta à traição do antigo aliado.
Leadsom foi uma das protagonistas da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, mas ao contrário do seu principal adversário não é uma eurocéptica com provas dadas: vários analistas destacaram a sua conversão tardia – e táctica – para o campo do “Leave”.
Depois de declarações controversas sobre os direitos ao salário mínimo ou à licença de maternidade, a sua campanha sofreu um novo revés com a publicação de uma notícia no The Times que expunha as “discrepâncias” entre as qualificações e experiência profissional citadas por Andrea Leadsom no seu currículo, e as funções que efectivamente desempenhou em pelo menos duas empresas de gestão de activos e fundos financeiros. O diário escreve que a candidata nunca foi responsável pela gestão de “centenas de pessoas e milhares de milhões de libras”, como alegam os seus apoiantes e sugere a própria nos seus discursos.
A primeira votação ditou o afastamento do antigo secretário da Defesa, Liam Fox, da corrida conservadora. Depois do escrutínio, Stephen Crabb, também pôs fim à sua candidatura – os dois estão já a fazer campanha pela promoção da ministra do Interior, que aparece como a voz da moderação na contenda. “Theresa May é a única candidata em posição para unir o partido”, justificou o secretário do Emprego.
Depois da votação desta quinta-feira, que excluirá outro concorrente, será realizada uma terceira ronda para determinar quais os dois nomes que constarão nos boletins a preencher pelos militantes do Partido Conservador (um universo de mais de 150 mil pessoas), num processo que terá de ser concluído até 9 de Setembro.
Trabalhistas ganham 100 mil novos membros
No Partido Trabalhista, a conturbada liderança de Jeremy Corbyn poderá sair reforçada depois da revolta interna da bancada parlamentar, que fez aprovar uma moção de desconfiança contra ele (80% dos deputados trabalhistas querem a sua demissão) e está a preparar-se para abrir um processo eleitoral para escolher um novo líder – a deputada Angela Eagle, que se demitiu do governo-sombra do Labour, já confirmou a sua intenção de desafiar Corbyn.
Antecipando a disputa, mais de cem mil novos membros aderiram ao partido. Segundo o jornal The Independent, esta vaga de inscrições, todas depois de 23 de Junho (o dia do referendo à UE), é um movimento concertado de apoiantes de Jeremy Corbyn para conter a rebelião parlamentar e confirmar a sua liderança numa futura eleição. Em Setembro de 2015, o veterano deputado pelo círculo de Islington, conquistou a liderança do Labour com uma impressionante votação de 60% (o seu principal adversário, Andy Burnham, teve 19%). Nessa altura, mais de 100 mil pessoas pagaram uma taxa de três libras para se inscreverem como “apoiantes” do partido e participar na eleição.