Olhamos para trás e, à décima edição, exclamamos: como cresceu o Nos Alive!
O festival arranca esta quinta-feira no Passeio Marítimo de Algés com Robert Plant e Pixies como destaques. Radiohead, Arcade Fire e Tame Impala são os pesos-pesados dos dias seguintes, numa edição praticamente esgotada.
Começou em 2007 e começou em grande, com a estreia portuguesa dos White Stripes e dos Beastie Boys, com os regressos de Pearl Jam ou Smashing Pumpkins, pesos-pesados do panorama musical a que se juntavam bandas que se destacavam no presente de há nove anos, como os Go Team! ou os Rake, e um mostruário de criatividade nacional em que se incluíam Buraka Som Sistema, WrayGunn, Vicious Five, Sam The Kid, Nigga Poison ou Balla. Chegado à décima edição, o Nos Alive mantém essa identidade feita do equilíbrio entre incontornáveis e revelações. Mantém-se igualmente no espaço que sempre foi a sua casa, o Passeio Marítimo de Algés. Mas cresceu. Cresceu muito.
A lotação máxima é de 55 mil espectadores diários. Os bilhetes para sexta e sábado estão esgotados e já escasseiam as entradas para quinta-feira, o primeiro dia de festival. No ano em que volta a receber os Chemical Brothers (hoje, 1h), os Radiohead (amanhã, 22h45) e os Tame Impala (amanhã, 21h), no ano em que apresenta pela primeira vez em cartaz os Arcade Fire (sábado, 22h45), Pixies (hoje, 22h45) ou Robert Plant (hoje, 21h05), o Nos Alive é incontestavelmente um dos maiores destaques no roteiro de festivais de Verão portugueses. E não só: a aposta, ano após ano, na conquista de público além-fronteiras, atraído pela abrangência do cartaz, pelo clima e pelos preços acessíveis a bolsas mais abonadas, tem sido um sucesso que se manifestará na presença, em 2016, de 31 mil espectadores vindos do estrangeiro.
Nomes como Radiohead, que apresentarão o recente A Moon Shaped Pool, ou os Arcade Fire, a banda da geração seguinte aos Radiohead (de ambos dará conta o trabalho de capa do Ípsilon desta sexta-feira), são naturalmente o grande chamariz, mas nesta altura, no Nos Alive como nos demais festivais de dimensão semelhante, os cabeças de cartaz são uma parte da equação – importante, mas não determinante. Há tudo para todos e tudo ao mesmo tempo, com a animação musical convivendo com os stands dos patrocinadores e iniciativas publicitárias responsáveis por alegria (“olha, mais um brinde!”, exultam uns) e irritação (“oh não, mais brindes não, por favor”, desesperam outros).
Falamos, afinal, de seis palcos funcionando em simultâneo – sete, se contarmos com o montado no pórtico de entrada. Num deles, o Jardim Caixa, nem são os músicos os actores principais: por ali passarão ao longo dos três dias humoristas como Pedro Tochas, Rita Camarneiro ou Nuno Markl. Noutro, o EDP Fado Café que encontramos na reprodução de uma rua de arquitectura pombalina, novidade da edição deste ano, ouviremos fadistas (Raquel Tavares e Marco Rodrigues quinta-feira, Hélder Moutinho & Amigos sexta-feira) e ouviremos também, por exemplo, os Dead Combo a revisitarem a sua obra com um trio de cordas (quinta-feira, 22h30).
Inconfundível Robert Plant
Entre o público de olhos nos Dead Combo poderia perfeitamente estar Robert Plant, um dos destaques deste primeiro dia de Nos Alive. Verdadeira lenda do rock’n’roll, o antigo vocalista dos Led Zeppelin sempre mostrou grande curiosidade pelas músicas exteriores ao eixo anglo-saxónico em que se formou, algo que se tornará evidente no concerto com início marcado para as 21h05, no palco Nos. No último álbum, Lullaby… And The Cealess Roar, o blues encontrava-se com instrumentos magrebinos, a country avançava oceano fora até se encontrar com alaúdes e as baladas guiadas por piano tornavam-se música ambiental guiada pela inconfundível voz de Plant.
O disco marcou o início da sua colaboração com o conjunto The Sensational Space Shifters, onde convivem John Baggott e Billy Fuller, dois músicos ligados ao trip-hop de Portishead e Massive Attack, Justin Adams, punk que produziu Tinariwen ou Rachid Taha, um antigo membro da banda brit-pop Cast (Billy Fuller), um baterista formado no jazz que se apaixonou pelas polirritmias da música da Gâmbia (Liam Tyson) e Juldeh Camara, gambiano mestre do ritti. Será esse instrumento de uma corda, parente do violino, que ouviremos surgir em Whole lotta love no lugar ocupado originalmente pela guitarra de Jimmy Page. Nos concertos da actual digressão, têm surgido entre as canções da carreira a solo de Plant várias incursões pela obra dos Led Zeppelin. Versões à Robert Plant, que é ainda um explorador curioso aos 67 anos de idade – ou seja, reconhecíveis mas transformadas numa outra matéria musical. Apesar de o recente julgamento por plágio em que os Led Zeppelin estiveram envolvidos, relativo a Stairway to heaven, ter terminado com a absolvição da banda, não se espere ouvir a canção do grupo inglês no concerto desta noite – pode ser a mais popular, mas é também uma das que Plant menos aprecia.
Ao histórico vocalista suceder-se-ão, no palco principal, outros históricos. Às 22h45 apresentam-se em palco os Pixies. Regressaram em 2004, tendo já ultrapassado largamente nesta segunda vida o período de actividade, entre 1987 e 1993, em que ajudaram a definir aquilo a que se convencionou chamar rock alternativo. Têm sido desde então presença assídua em Portugal, mas o concerto no Nos Alive ganhou novo atractivo com o anúncio feito esta quarta-feira da chegada de um novo álbum. Intitula-se Head Carrier, será editado a 30 de Setembro, e motivará uma digressão mundial com paragem no Coliseu do Porto dia 21 de Novembro. O primeiro single, Um chagga lagga, fará certamente parte do alinhamento do concerto no Alive. No palco principal, o primeiro dia encerra com os terceiros históricos da noite, os Chemical Brothers, mestres da electrónica que se faz dança polvilhada de bom psicadelismo e pioneiros do big beat revelado na década de 1990. Revigorados com o celebrado Born in the Echoes, álbum editado no ano passado, é quase certo que não deixarão de passar por clássicos modernos como Block rocking beats, Hey boy, hey girl ou Galvanize. Porém, a acção no palco principal representa apenas uma pequena parte dos motivos de interesse do festival. É certo que nele também veremos, por exemplo, os australianos Tame Impala, verdadeira máquina onírica que é, actualmente, uma das mais influentes bandas rock do planeta (sexta, 21h), mas alguns dos nomes que geram mais curiosidade actuarão noutras paragens.
Sexta-feira, no palco Heineken, Father John Misty, cantautor desalinhado de humor desarmante e pose deliciosamente blasé (20h45), e Courtney Barnett, a australiana do rock visceral e das letras arrancadas ao dia-a-dia, nome inescapável do nosso tempo (19h20), são obrigatórios. Sábado, vamos da música de fronteira dos velhos conhecidos Calexico (18h55) à electrónica arrojada de Four Tet (24h) ou à multifacetada Grimes (1h30), com passagem pela delicadeza de José Gonzaléz (20h20) e pela intensidade dos PAUS (21h45). Esta quinta-feira, por sua vez, chegam os Wolf Alice, revelação britânica recente (22h15), as canções de intimidade e libertação electrónica de John Grant (20h45) ou os regressados Sean Riley & The Slowriders (1h25).
Tudo isto sem esquecer (e seria impossível fazê-lo) que, entre o palco Nos e o palco Heineken, existe o Nos Clubbing: venha daí o rockuduro que já é muito mais do que isso dos Throes & The Shine (quinta-feira, 2h40), descubramos as canções da dupla Bob Moses (19h30), aproveitemos a sabedoria na abordagem à pista de dança de Branko (21h) e dancemos com os Junior Boys (24h). Nos dias seguintes, viajaremos pela África revelada e recriada por Rocky Marsiano e Meu Kamba Sound (sexta, 2h), teremos o prazer de testemunhar o encontro de Mundo Segundo e Sam The Kid (sexta, 19h15) e fruiremos a impoluta elegância de Mirror People (sábado, 21h40). E nem falámos ainda do Coreto nas proximidades do palco Heineken onde se fará a festa entre DJ como A Boy Named Sue e bandas como os Poppers, Youthless, Jibóia, Loafing Heroes ou Savanna. Uff… É mesmo verdade. Cresceu muito o Nos Alive.