Mais um dia, mais uma dor de cabeça para Jeremy Corbyn
Líder trabalhista arranjou mais uma polémica com declarações sobre Israel.
A intriga shakesperiana que a corrida pela liderança do Partido Conservador quase fez esquecer a telenovela que se arrasta do lado dos trabalhistas, desviando as atenções da saga que envolve Jeremy Corbyn e a sua insurrecta bancada parlamentar. Mas mesmo assim, esta quinta-feira, houve desenvolvimentos suficientes para justificar o interesse nas cenas dos próximos capítulos: Angela Eagle, para já a única candidata declarada ao lugar cimeiro do Labour, já terá garantido o apoio de 50 deputados e eurodeputados para, de acordo com as regras internas, poder ser oficialmente nomeada como concorrente à liderança do partido.
Não era claro, esta quinta-feira, por que razão Eagle – que como dezenas de correligionários se demitiu de funções enquanto membro do governo-sombra trabalhista no rescaldo da vitória do “Brexit” no referendo da semana passada – travou o anúncio oficial da sua intenção de assumir a liderança do partido. A equipa de Corbyn conheceu mais uma deserção: o deputado Rob Marris, que integrava o ministério das Finanças do governo-sombra, renunciou ao posto em plena sessão parlamentar.
Mas as dores de cabeça de Corbyn, esta quinta-feira, não foram provocadas pelos golpes dos seus deputados. Por vezes, o líder trabalhista é o seu pior inimigo, como demonstrou na cerimónia de apresentação do relatório que investigava o alegado anti-semitismo entre as hostes trabalhistas, durante a qual conseguiu arranjar uma nova “confusão” e alimentar uma nova polémica – desta vez com o Governo de Benjamin Netanyahu.
No meio do discurso que tinha preparado, Jeremy Corbyn disse que “os nossos amigos judeus têm a mesma responsabilidade sobre as acções de Israel e do Governo de Netanyahu que os nossos amigos muçulmanos têm sobre [as acções] de organizações inspiradas em vários Estados islâmicos”. A comparação caiu como uma bomba, e obrigou os assessores do líder trabalhista a disparar explicações e correcções imediatas, para esclarecer que Corbyn não tinha comparado o Governo legitimamente eleito de Israel a uma organização terrorista como o Estado islâmico – aparentemente, a referência era a Estados de “carácter islâmico” como por exemplo a Arábia Saudita, o Paquistão ou o Irão.
O relatório, que foi apresentado depois de uma investigação de dois meses, recomendava que os membros do Labour evitassem o uso de “referências a Hitler e ao nazismo, metáforas com o Holocausto, e distorções e comparações sobre o conflito entre Israel e a Palestina”.
E como se não bastasse, antes do fim do dia, ainda chegou mais uma queixa da deputada judia Ruth Smeeth, uma das participantes na sessão de divulgação do relatório. Smeeth já estava em rota de colisão com Jeremy Corbyn – a parlamentar integrou o movimento de debandada do governo-sombra, onde ocupava funções de chefe de gabinete do secretário para a Escócia e a Irlanda do Norte. Mas terá ficado convencida da necessidade de encontrar um novo líder para o Labour depois de ter sido insultada por um activista durante o evento, nas barbas de Jeremy Corbyn. A sua inacção e incapacidade de resposta perante o ataque verbal “provaram sem margem para dúvida que não é a pessoa certa para liderar o Labour, e que com ele ao leme o partido não pode ser considerado um lugar acolhedor pelos judeus britânicos”, criticou.