A Europa está pronta para o divórcio do Reino Unido ainda hoje
O resultado do referendo tem de ser respeitado, mas os tratados Europeus também tem de o ser, sublinhou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk
O Presidente do Conselho Europeu diz que a União Europeia poderia iniciar o processo de saída do Reino Unido imediatamente, apesar de não ter vontade em fazê-lo. “A Europa está pronta para dar início ao processo de divórcio, ainda hoje, sem qualquer entusiasmo, como devem imaginar”, disse Donald Tusk em Bruxelas à entrada para a primeira cimeira europeia depois do referendo britânico.
Tusk anunciou ainda a intenção de marcar uma cimeira europeia extraordinária para 27 de Setembro, em Bratislava, a capital da Eslováquia, que assume a próxima presidência rotativa da UE, para discutir o futuro da União Europeia com 27 Estados-membros.
De acordo com Tusk, o resultado do referendo tem de ser respeitado, mas os tratados europeus também têm de o ser. “Cabe ao Governo britânico iniciar o processo de saída da UE. Esta é a única forma legal que temos e todos deviam estar cientes disso, pois significa que temos de ser pacientes, se for preciso,” acrescentou Tusk.
Sem a notificação do Reino Unido de que quer accionar o artigo 50º. do Tratado de Lisboa, a UE não pode começar as negociações para a sua saída formal do bloco europeu. Tal notificação não é esperada para a cimeira que decorre em Bruxelas hoje e amanhã.
À entrada para a reunião, David Cameron, o primeiro-ministro britânico demissionário, disse que ia explicar aos colegas europeus que o Reino Unido vai mesmo sair da UE.
“Mas quero que esse processo seja o mais construtivo possível e espero que o resultado seja o mais construtivo possível, porque quando sairmos da União Europeia não lhe podemos voltar as costas”, disse David Cameron.
“Estes países são os nossos vizinhos, nossos amigos, nossos aliados, nossos parceiros e espero que encontremos uma relação próxima, a nível de comércio, cooperação e segurança, porque é bom para nós e para eles”, adiantou.
De qualquer forma, do lado europeu há várias pressões para que o Reino Unido desencadeie o processo de saída, para acabar com a instabilidade política. Federica Mogherini, alta representante da UE para a política externa, disse que aguarda clareza vinda de Londres. “Não há tempo para incerteza e as instituições britânicas têm esta responsabilidade. Das duas uma: ou se é membro da UE, ou não se é. Não há membros por metade", sublinhou.
O primeiro ministro português realçou que é o momento de reflectir sobre o que levou ao resultado do referendo. “Temos que sobretudo olhar para as causas que estão por detrás desta decisão do Reino Unido.” Para António Costa, a União Europeia tem de mostrar aos cidadãos que é “útil” e atacar a emergência do populismo, dando prioridade à defesa das fronteiras externas.