Manifestação sindical altamente vigiada em Paris realizou-se sem violência
Protesto contra o novo Código do Trabalho decorreu no meio de grandes medidas de segurança. Noutras cidades francesas houve distúrbios e detenções de manifestantes.
A manifestação em Paris contra o novo código laboral que o Governo francês quis proibir, por receio de novos confrontos violentos, reuniu cerca de 60 mil pessoas, segundo uma contagem da central Força Operária, um dos sindicatos organizadores do protesto. A polícia fala em 19 mil a 20 mil pessoas.
Foram ainda identificadas 100 pessoas e 11 detidas, numa manifestação para a qual foram destacados grandes meios policiais. Foram mobilizados 2000 agentes da polícia de intervenção para controlar os manifestantes, obrigados a marchar em circuito fechado, à volta da Praça da Bastilha, por receio de que se verificassem distúrbios graves como na manifestação de 14 de Junho – em que terão participado 75 mil a 80 mil pessoas, segundo a polícia, ou um milhão, de acordo com os sete sindicatos que promovem os protestos contra a nova lei do trabalho.
Como o percurso da manifestação era muito curto – de apenas 1,6 km, em circuito fechando, dando a volta à Praça da Bastilha –, a marcha durou menos de uma hora.
Noutras cidades, houve também manifestações, que elevaram o número de pessoas na rua a 70 mil, segundo as autoridades, ou 200 mil, segundo a CGT, a principal central sindical promotora dos protestos contra a nova legislação laboral.
Receando vandalismo, esta manhã tinham sido retirados painéis de vidro das paragens de autocarro e erguidas barreiras de aço ao longo da rota da marcha. Os sacos e mochilas dos participantes eram revistados pelos polícias vestidos com verdadeiras armaduras de protecção, e eram proibidos artigos como lenços com as pessoas pudessem cobrir o rosto.
Alguns dos que vieram para a rua decidiram ir para defender o seu direito a manifestar-se, depois de o Governo ter tentado proibir a manifestação por motivos de segurança. “É a minha primeira vez. Mas decidi ontem vir para defender a liberdade de manifestar-me. Estamos em democracia, temos de defender as nossas liberdades”, disse ao Le Monde Pauline, de 19 anos.
.@manuelvalls : “Je suis préoccupé par la violence de l’utra-gauche en France.” #LoiTravail #QAG #directsénat pic.twitter.com/6H0RTSMpZH
— Senat_direct (@Senat_Direct) June 23, 2016
O motivo que levou o Governo a tentar impedir a manifestação - algo que não acontecia desde os anos 1960 – foi a violência das manifestações de 14 de Junho em Paris, em que dezenas de pessoas ficaram feridas, quando surgiram elementos mascarados que causaram distúrbios e enfrentaram a polícia.
Centenas de jovens, a maioria encapuzados, arremessaram pedras da calçada, partindo montras de lojas e afixando slogans anti-capitalistas em edifícios. A polícia disse que alguns membros da CGT estiveram envolvidos na violência.
O líder da CGT, Philippe Martinez, acusou o primeiro-ministro, Manuel Valls, de tentar culpar os sindicatos pela desordem. "Sempre que tentamos acalmar as coisas, o primeiro-ministro põe lenha na fogueira", acusou o líder sindicalista, que condenou os manifestantes desordeiros.
Esta quinta-feira, durante o debate no Senado, Manuel Valls declarou-se "preocupado com a violência da extrema-esquerda" em França.
Passes de bola frente à polícia
Se apesar da polémica a manifestação de Paris se manteve calma, o mesmo não aconteceu noutras cidades francesas, como Rennes, Bordéus, Toulouse, ou Lyon. Aí viram-se mascarados, granadas de fumo, lançamento de projécteis e outras formas de protesto que por vezes se tornou violento.
Em Rennes, cerca de 300 jovens de rosto tapado picharam as paredes com “tags” em locais como agências bancárias e imobiliárias. Causaram ainda danos materiais vários – montras partidas, caixotes do lixo queimados frente a uma esquadra de polícia e tentaram impedir jornalistas de tirarar fotografias, relata o Le Monde.
Em Lyon, alguns manifestantes levaram bolas de futebol, em alusão ao Euro 2016, e fizeram passes mesmo em frente às barricadas de polícia de choque.
Os protestos contra o novo Código do Trabalho duram desde Março, sem que nenhum dos lados dê mostras de ceder.
Os sindicatos querem que o Governo arquive o projecto de lei que tornaria contratar e despedir mais fácil, e dá prevalência aos acordos de empresa sobre o acordo colectivo. A CGT e outros sindicatos aliados consideram que levaria a uma perda dos direitos de protecção do trabalho. O Governo argumenta que é crucial resolver uma taxa de desemprego parada nos 10%.
Sondagens de opinião mostram que dois em três franceses que votam estão insatisfeitos com o projecto de lei, que neste momento está a ser debatido pelo Senado, depois de Valls o ter forçado através da Assembleia Nacional, sem debate parlamentar nem votação, recorrendo ao artigo 49, parágrafo 3 da Constituição.