A Islândia não é apenas um país de bons músicos
Com uma vitória frente à Áustria, por 2-1, os nórdicos terminaram no segundo lugar do grupo de Portugal e vão defrontar a Inglaterra nos oitavos-de-final.
Tem pouco mais de 300 mil habitantes e o seu nome significa “terra do gelo”, mas para além dos excelentes músicos que produz, como Björk, Sigur Rós ou Múm, das paisagens deslumbrantes e do exemplo que, para muitos, dá na forma como resolve os seus problemas políticos e económicos, a remota Islândia raramente surge nas notícias internacionais. No entanto, para quem ainda tinha dúvidas, os islandeses confirmaram, no Stade de France, que o tempo dos “altos, loiros e toscos” é coisa do passado. Com uma exibição pragmática, a Islândia derrotou a favorita Áustria (2-1), apurou-se para os "oitavos" e, na próxima segunda-feira, vai defrontar a Inglaterra.
Quando o inglês Martin Atkinson apitou para o final do Hungria-Portugal, a Islândia estava classificada, mas o empate com a Áustria empurrava os islandeses para o “lado bom” do quadro dos oitavos-de-final. Com um virtual terceiro lugar, o destino da selecção comandada por Lars Lagerback seria o norte de França (Lens) para um frente a frente com a Cróacia. Mas, no minuto 94, no tudo ou nada austríaco, Traustason, que curiosamente joga na Áustria, virou tudo ao contrário: na última jogada, o “21” da Islândia concluiu com sucesso um contra-ataque, e, com a primeira vitória numa fase final, o GPS islandês passa agora a marcar como destino final Nice, onde a Inglaterra espera os nórdicos. Teoricamente, o golo fora de horas de Traustason empurrou a sua selecção para o “lado mau”, mas esse foi um pormenor com que nenhum islandês se preocupou no Stade de France.
Teorias sob quem seria melhor defrontar nos “oitavos” à parte, a vitória da Islândia penaliza, com justiça, uma Áustria que acordou tarde neste Europeu. Após um jogo muito fraco contra a Hungria, os austríacos abdicaram de jogar para a vitória contra Portugal e, de forma surpreendente, no Stade de France Marcel Koller manteve o chip com que terminou a partida no Parque dos Príncipes, contra a selecção portuguesa.
Ainda sem Junuzovic, o seleccionador austríaco, apesar de estar obrigado a vencer, manteve a aposta num meio-campo defensivo, ao deixar Schöpf no banco, continuando Ilsanker no “onze”. Com isso, Alaba, mais adiantado, perdia influência na construção do jogo. O resultado do erro táctico de Koller foi uma primeira parte quase toda islandesa. Nos primeiros 15 minutos, os nórdicos já tinham acertado duas vezes nos postes e, sem surpresa, aos 18’, houve um golo “à Islândia”: lançamento lateral de Gunnarsson, desvio ao primeiro poste e Bodvarsson, com classe e calma, a desviar para a baliza. Sem soluções, a Áustria pouco ou nada fazia no ataque, mas num lance aparentemente inofensivo, Skúlason agarrou o braço de Alaba na área. Na conversão do penálti, Dragovic acertou no poste.
Ao intervalo, Koller corrigiu o erro inicial. Lançou Schöpf e Janko, tirou Prodl e Ilsanker, e a Islândia viu-se finalmente em apuros. Alaba (47’) e Sabitzer (53’) deixaram as primeiras ameaças e, aos 60’, Schöpf mostrou que entrou tarde ao marcar um grande golo. A Islândia ainda respondeu quase de seguida (Almer evitou o golo de Sigurdsson), mas em contra-relógio a Áustria arriscou tudo para chegar à indispensável vitória, sem que Janko (69’), Schopf (72’) e Alaba (80’) conseguissem bater Halldórsson. E, no minuto 94, o golo de Traustason empurrou Portugal para o "lado bom" do Europeu.